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Por Bruno Henrique de Moura, do portal Esportes Brasília*
Escrevo a dois dias da final desta edição do campeonato profissional de futebol do DF. Se minhas contas não estiverem equivocadas, é o sexto campeonato que cubro, quase todos pelo rádio, além de ter feito duas ou três edições por texto.
Diferente de outras edições, eivadas pelo repetitismo de fracassos de algum dos dois times de maior tradição, Gama ou Brasiliense, esta edição trouxe de volta duas boas notícias: Serejão, finalmente, reaberto, e a dupla mor nos seus melhores dias.
Além disto, Capital e Paracatu não deixaram a desejar. Do outro lado da balança, Bolamense e sua administração pífia, para não dizer irresponsável, e a falta de zelo de algumas administrações regionais que ignoram a importância sócio-cultural do torneio.
Gama e Brasiliense
De todos os campeonatos que já cobri, este foi o de melhor desempenho da dupla.
Não apenas em números impecáveis, Gama terminou a primeira fase com 93,3% de aproveitamento e um time sólido comandado por Vilson Tadei, enquanto o Brasiliense viu no seu arquirrival o único adversário a altura. Há, nesse quesito, de parabenizar Luziânia, que encarou os dois de igual pra igual, e Formosa, que deu sufoco ao Gama no segundo jogo das quartas-de-final.
Claro que a balança pesa, de certa forma, a favor da dupla em algum sentido. Pelos de verde, a direção do Gama, após a gestão desengonçada do ano passado, acertou na mão e fez as parcerias certas, além de montar um elenco digno de campeão. É a tendência colocar no histórico esse título. Ademais, o fator torcida, sempre importante, ganhou uma densidade sublime neste 2019.
Já o Jacaré tem os cofres da família Estevão que, gostemos ou não, é quase uma rainha no tabuleiro do Candangão. Ademais, com erros e acertos, Adelson de Almeida conseguiu dirigir o barco amarelo com habilidade até onde deu. Mas como é praxe do Brasiliense, e no Adelson, os sentimentos são, sempre, mais intensos.
A única questão que pesa em desfavor da dupla é o nível do campeonato, por natural fraco, e que não prepara para a competição que interessa: série D. Sobre esta, não adentra nas ligações sinápticas que faço o motivo de apenas no ano que vem os classificados pelo estadual disputarem a competição.
Desestrutura os times, os bons jogadores não têm porque continuar na mesma equipe e o projeto satisfatório perde-se por motivos temporais. Vide o Sobradinho que, com o elenco e estrutura atual, terá mínimas alegrias na disputa da série D 2019.
Estádios
Não há, até por previsão legal/regulamentar, campeonato profissional sem estádio de futebol. Mas o DF insiste, ano pós ano, em ter conduta meio displicente com essa questão.
Primeiro, a volta do Serejão parecia um suspiro de bom senso e competência. Mas os bombeiros, até hoje não se sabe o real motivo de por que, decidiram, no meio do campeonato, interditar um estádio que estava liberado desde a primeira rodada, abrigava dois times e levava público. Sinto que logo entenderemos os reais motivos dessa interdição.
O que interessa é que a falta do Serejão apenas piorou uma situação estável. Dos estádios do DF, só Bezerrão e Mané tinham condições de receber jogos a noite. Por isto uma quarta-de-final do Sobradinho, antigo campeão, levou apenas 56 pagantes ao estádio. Mas também, 15:30 de uma quarta-feira? Quem consegue? Ao menos, os estádios do entorno, TODOS, se esforçaram e entregaram jogos de noite: Serra do Lago, Frei Norberto e Diogão. Não nos enganemos, não era nenhuma quinta maravilha do mundo, mas pelo menos tiveram o objetivo de fazê-lo e conseguiram entregar.
Bolamense e Ceilândia
A boa e velha crônica de uma tragédia anunciada. O Bolamense é um caso a que a academia merecia estudar. Time sem estrutura, com um comandante emocionalmente instável, e que tem uma lábia única.
Prometeu e trouxe atletas e profissionais de todo o país. Ao final e ao cabo não entregou NADA do que se comprometeu. Pelo contrário, ultimo time do campeonato com apenas um ponto e uma campanha trágica. Mas também, uma empresa que se pauta pela mentira vai querer o quê?
O que me causa mais espanto é o comportamento dos dirigentes do nosso esporte e também do nosso tribunal. Se todo mundo sabe a conduta perpassada pelo Bolamense em todo o campeonato e que se repetirá, por que não tomam providências? Um dia eu descubro, espero.
Quanto ao Ceilândia, colhe o que plantou. A diretoria que acha ser proprietária do clube, e não representante política de um agrupamento. De que adianta criar confusão com Deus e mundo e tentar prejudicar a crônica esportiva? De nada. Se adiantasse, não teria ficado fora das quartas-de-final.
Além de representar a maior cidade do DF, Ceilândia é um dos times mais queridos e que tinha um dos melhores comandos do futebol do DF. Se perdeu em um campeonato. Está na hora da família Almeida botar a cabeça no travesseiro e reavaliar suas condutas.
Bons frutos a casa espera
Em geral, me agradei pelo campeonato. O trabalho do Capital, de construir um torcedor com outras atividades que não mero futebol, levando o torcedor a criar uma tradição e identidade com a marca, até pelo nome positivo, foi a mais grata surpresa para mim. A feijoada pós-jogo, as promoções, o marketing, o programa de sócio-torcedor. É desse tipo de pensamento e profissionalismo que queremos.
Na mesma linha, as diretorias de Paracatu e Real merecem nossos aplausos. A organização que se viu, o respeito ao atleta e o investimento no corpo de torcedores, mesmo que parco muitas vezes, levou os times até as semifinais. Esse pensamento, positivo e construtivo, precisa ser reproduzido sempre.
Palmas, também, ao Formosa, que com uma folha salarial que inimaginável 27 mil reais mês trouxe um time razoável e levou a torcida ao estádio. Segundo levantamento dos colegas do Candangão da Depressão, o Formosa teve a segunda maior torcida nos jogos de seu mando de todos os times. Perdeu apenas pro Gama.
À Federação, minhas congratulações contidas. Desta vez, a baderna de mudança de jogos a menos de 48 horas, em desrespeito ao estatuto do torcedor, foi exceção. Além disto, não influi nos resultados do campeonato nem bagunçou o torneio. Ainda falta informação e transparência em algumas decisões e condutas, mas o caminho parece de reforço na luz, e não de volta da escuridão.
Ano que vem teremos mais Candangão e mais emoções. Dos últimos seis anos, talvez tenha sido o mais organizado e com cara de Estadual de todos que cobri. Agora, para melhorar, é não renovar o contrato ridículo com a TV Globo, que finge que nosso campeonato não existe. E já diria a máxima da publicidade: quem não é visto, não é lembrado.
*O texto se trata de um artigo de opinião e, portanto, é de inteira responsabilidade de seu autor. As opiniões nele emitidas não estão relacionadas, necessariamente, ao ponto de vista do Distrito do Esporte.
Bruno Henrique de Moura é jornalista e estudante de direito. No esporte candango tem passagens pelas rádios Esportes Brasília, Lance FM, Nova Aliança, Nossa Brasil FM, Ativa FM entre outras.