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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Visão de Jogo #42: As semifinais serão de tirar o fôlego: Copa Libertadores

Os meandros da Copa Libertadores da América desde antes até a expectativa para as semifinais estão na edição da Coluna Visão de Jogo

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Por Luiz Henrique Borges

Em um continente bastante diverso, no qual a geografia nos separa de grande parte dos nossos irmãos sul-americanos por uma cordilheira de difícil transposição, por línguas, costumes e histórias muitas vezes distintas, um importante elemento que nos aproxima é o amor pelo futebol. No entanto, se a paixão sempre foi mútua, a valorização das competições não seguia o mesmo caminho. A Copa Libertadores da América era, em grande medida, escanteada e nossos olhares se voltavam para as competições internas. Os mais jovens talvez custem a acreditar, mas os clubes brasileiros viravam as costas para a Libertadores e chegaram até a recusar a disputá-la, como ocorreu nas edições de 1966, 1969 e 1970.

A consequência, razão direta à pouquíssima atenção dispensada, foi a escassez de títulos. Só o Santos (1962 e 1963), o Cruzeiro (1974), o Flamengo (1981) e o Grêmio (1985) tinham conquistado a América até o início da década de 1990. As conquistas eram tão minguadas que só o Independiente da Argentina tinha mais títulos continentais, sete, do que todos os clubes brasileiros somados.

O Zico afirmou que a Libertadores só ganhou importância no Brasil após a vitória do Flamengo em 1981. Discordo! Como bom rubro-negro, o ídolo puxou o carvão para a sua sardinha. Se a tese do craque fosse verdadeira, teríamos disputado e, possivelmente vencido, outras edições além da conquistada pelo tricolor gaúcho em 1985. Até a década de 1990, me perdoem, pouquíssimas pessoas por essas bandas paravam de verdade para ver a competição.

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A partir da década de 1990 a realidade se alterou profundamente. Não sei se foi o São Paulo, campeão em 1992 e 1993, o verdadeiro responsável pelas mudanças. Eu não acredito, além disso, o Santos, campeão em 1962 e 1963, base da Seleção Brasileira bicampeã mundial e contando com Pelé, seria um candidato muito mais apropriado para gerar a mudança na percepção dos clubes do Brasil em relação à Libertadores da América. Nós adoramos encontrar heróis e vilões, em personificar as mudanças que são de ordem muito mais estruturais do que vinculadas a uma ou outra figura.

Defendo a tese de que o maior interesse pela competição se deu pelo processo de globalização que atingiu em cheio o mundo na citada década. Por exemplo, a lei Bosman, de 1995, acabou com as restrições relacionadas ao número de atletas da União Europeia nas escalações e permitiu que um número muito maior de jogadores de outros continentes pudesse atuar no futebol europeu e, consequentemente, o mercado, logo a atenção, se abriu mais intensamente para os atletas não europeus. Ainda mais importante nesse processo de “redução” das distâncias foram as comunicações facilitadas, o desenvolvimento dos sistemas de transportes, as viagens mais fáceis e frequentes e, mais hodiernamente, a possibilidade de assistir qualquer jogo pela internet. Enfim, com plateias globalizadas, os clubes, os atletas, as comissões técnicas, os dirigentes etc., passaram a ver com outros olhos a competição.

Os mesmos processos acima descritos também foram fundamentais para melhorar os vestiários, os gramados, que eram, propositalmente ruins com o intuito de dificultar os clubes que contavam com elencos mais qualificados, para escalar árbitros mais competentes, para reduzir a violência, a catimba etc., que eram comuns nas partidas. Eu me lembro, por exemplo, de um jogador da equipe chilena do Cobreloa, Mario Soto, jogando com pedras nas mãos para ferir os jogadores do Flamengo na final de 1981. A Conmebol sabia que para aumentar o interesse e os ganhos com a competição seria preciso aprimorar o produto “Copa Libertadores da América”. O objetivo foi alcançado, a competição se tornou o sonho de consumo dos clubes sul-americanos nas últimas três décadas.

O desinteresse tupiniquim pelo certame é página virada e assistimos, desde o início de 2010, o domínio dos clubes brasileiros. Nas últimas treze edições, conquistamos 9 títulos (69,2%) e reduzimos drasticamente a diferença para os argentinos, país que detém 25 conquistas contra as nossas 22. A tendência, com o maior poderio econômico dos nossos clubes, é que em poucos anos sejamos os líderes em conquistas.

Desde 2018, a última vez que um clube brasileiro deixou de jogar a final, nos tornamos soberanos na competição e esse ano poderemos, pela quarta vez consecutiva, ter uma final só com times do Brasil. Para que isso ocorra, o Palmeiras terá uma árdua tarefa, a de superar o Boca Juniors.

O confronto entre os dois times é extremamente equilibrado, com duas vitórias para cada um e seis empates. No entanto, para alcançar mais uma decisão continental, o alviverde terá que quebrar uma escrita. Em três disputas de mata-mata, ele nunca superou o Xeneize, como os fanáticos torcedores do Boca chamam o time. O clube paulista, friamente falando, é tecnicamente bastante superior ao seu rival argentino, mas em jogos eliminatórios e tendo pela frente uma camisa tão pesada, que já conquistou a Libertadores em 6 oportunidades, qualquer descuido pode ser fatal.

Fluminense e Internacional farão o duelo brasileiro na outra semifinal. O confronto também é muito equilibrado. Se o Internacional não faz uma boa campanha no Brasileirão e ocupa uma sofrível e perigosa décima quarta posição, com 25 pontos, ao eliminar o River Plate, ainda na fase de oitavas de final, os gaúchos ganharam moral. Na última fase, o Colorado, na primeira partida, superou a altitude de La Paz e o laborioso, e apenas laborioso, Bolívar. No Beira-Rio, os anfitriões, sem dificuldade, voltaram a triunfar.

O último clube a definir sua passagem para as semifinais foi o Fluminense. O tricolor enfrentou o clube que havia superado o Flamengo na fase anterior, o Olímpia do Paraguai. O “Decano” é mais um clube muito esforçado, mas de qualidade técnica extremamente limitada. O clube das Laranjeiras conseguiu abrir uma vantagem interessante de dois gols no confronto no Maracanã e não se apequenou, como um gigante deve fazer, no jogo em Assunção.

Fernando Diniz manteve a escalação ofensiva que adotou no Rio de Janeiro e, demonstrando que tem o time nas mãos, contou com o esforço e dedicação de todos os seus atletas na hora de marcar e dificultar a principal jogada do clube paraguaio, os cruzamentos para encontrar os grandalhões dentro da área. Demonstrando muita tranquilidade, mesmo nos momentos de pressão do Olímpia, empurrado por sua torcida, o tricolor venceu por 3X1 e voltou para o Rio de Janeiro classificado para a fase semifinal da Libertadores após 15 anos.

Se o Fluminense alcançar a final da competição, ele terá um trunfo indiscutível e que, a meu ver, o coloca como favorito ao título, independente do adversário, se Palmeiras ou Boca Juniors. Além de contar com um time muito bem montado, a decisão será em um Maracanã lotado e colorido de verde, vermelho e branco.

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