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quinta-feira, 2 de maio de 2024

“É uma máfia”, diz torcedor do Imperatriz-MA sobre nova gestão do Formosa

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Por Olavo David Neto

Você viu primeiro aqui no Distrito do Esporte que a eleição para a Presidência do Formosa Esporte acontece hoje, às 19h, e se dará apenas para registrar oficialmente a vitória da chapa única formada para este pleito. Na cabeça da candidatura, Marcelo Lucas Ribeiro se apresenta como empresário ligado ao futebol, com experiências em Santa Catarina, São Paulo e Maranhão. A passagem de Ribeiro e sua empresa, a JB Sports, pelo Nordeste, porém, é um tanto menos gloriosa como dá a entender o novo mandatário do Tsunami do Cerrado. O DDE foi atrás de acontecimentos que marcaram a passagem de Marcelo Lucas Ribeiro pelo Imperatriz (MA).

Na cidade, a segunda maior do Maranhão – e que batiza também o time local -, Ribeiro não deixou saudades. A reportagem conversou com jornalistas, torcedores e até dirigentes locais a respeito da parceria firmada em no final de julho com a JB Sports, do atual presidente do Formosa. Pelo acordo, a instituição assumiu o departamento de futebol do clube com promessas de elevar a competitividade do único representante maranhense na Série C do futebol brasileiro. Pouco tempo depois, porém, o que se viu foi um cenário de terra arrasada.

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Em agosto, Marcelo e sua empresa, a JB Sports, chegaram à cidade pedindo calma e apoio da torcida. “Ano passado o time quase subiu. Estamos iniciando agora, implementando nossa proposta de trabalho”, afirmou o gestor no início da parceria. De fato, o Imperatriz quase deixou a terceira divisão em 2019. Classificado em terceiro lugar no Grupo “A” – que reunia equipes do Norte e do Nordeste – com 28 pontos, o colorado da Região Tocantina caiu nas oitavas de final frente ao Juventude (RS), que garantiu o acesso após um empate sem gols no Maranhão e um sonoro 4×0 em Caxias do Sul.

Um dos poucos remanescentes do pós-JB Sports é Fernando*. Em conversa com o DDE – à qual condicionou à preservação do anonimato -, ele contou que, logo após o anúncio, os pés de todo o staff já voaram para trás. “Houve uma desconfiança. Em nenhuma empresa do mundo chega um grupo de investidores para não ter retorno”, revela Fernando. “Eles foram tirando um a um e colocando gente deles. Ficaram poucos dos que aqui já estavam; eu fui um deles”, aponta o funcionário. Ele também atribuiu o desastroso 2020 do Imperatriz à JB Sports. “É 100% culpa deles o que aconteceu aqui. Eles montaram um elenco com jogadores de nível horrível”, desabafa.

Vexame nacional

Pela lógica, era de se esperar que a campanha em 2020 fosse ainda mais promissora. Com isso em mente, Ribeiro montou a equipe do Imperatriz para a nova temporada que era retomada, já que o futebol nacional foi paralisado em função da pandemia do novo coronavírus. Antes mesmo da equipe entrar em campo, o então treinador, o ex-jogador Paulinho Kobayashi, largou o comando técnico da equipe, anunciando a decisão no Instagram.

Pouco depois, Kobayashi concedeu entrevista ao globoesporte.com na qual afirmou que sua saída se deu em função da “mudança radical na gestão de futebol”. “Contratações foram feitas, e em nenhum momento foi consultada alguma opinião”, declarou o treinador, que hoje comanda o América (RN) – onde fez história nos anos 2000 – na terceira fase da Série D. Procurado pelo DDE, o técnico não quis gravar entrevistas por já estar em outro clube e não ter relação direta com o período de Marcelo Ribeiro à frente do Imperatriz. Sem o treinador, o Estadual virou cinzas antes mesmo de esquentar.

As quatro vitórias e três derrotas na primeira fase foram suficientes para levar o clube à etapa seguinte, mas a decepção deu as caras com o 4×1 sofrido no Castelão, em São Luiz, frente ao modesto São José, e nem mesmo os 5×2 devolvidos no jogo final foram suficientes para garantir o Cavalo de Aço entre os quatro melhores clubes do campeonato – que contou, em 2020, com oito agremiações. Restava, então, o Campeonato Brasileiro. Ainda que num ano turbulento como o de 2020, o nacional representa aumento nas receitas para os clubes, e mais tempo de exposição da marca do próprio clube e de seus anunciantes. O que veio, porém, marcou negativamente a história do certame.

Logo na estreia, o gigante Remo (PA) não conseguiu estufar as redes do Frei Epifânio, cancha do Cavalo de Aço. O empate sem gols até foi comemorado na imprensa local, pela envergadura do adversário. O problema, porém, é que foi a única vez que o Imperatriz pontuou. O colorado maranhense tombou 17 vezes nos 17 jogos seguintes – em algumas vezes, de forma vexatória. “A gente começou a desconfiar que tinha algo de errado depois da derrota para o Paysandu”, comenta um profissional da crônica esportiva de Imperatriz. A partida, válida pela sexta rodada, teve sete gols, mas apenas um dos maranhenses.

Já em outubro, o jogo contra o Treze, em Campina Grande, na Paraíba, representou a segunda goleada sofrida pela equipe, que naquele momento já somava seis derrotas. Após o 4×1, o itinerário da volta levou jogadores, diretoria e comissão técnica do Cavalo de Aço ao Aeroporto Internacional do Recife. De acordo com jornalistas maranhenses, foi a despedida da JB Sports. Sem acompanhar a delegação, Marcelo Lucas e um sócio anunciaram aos atletas que não voltariam mais a Imperatriz, mas embarcariam num vôo para São Paulo, onde moravam. “Sem mais nem menos”, diz um funcionário do clube, que solicitou sigilo. “Nem pisaram mais na cidade, rescindiram tudo por assinatura digital”, completa.

“Meia dúzia de filho da puta”

Torcedor do Cavalo de Aço, o repórter fotográfico Johann Breno, 28, tentou tirar satisfações com a diretoria terceirizada do clube do coração logo após a partida do Imperatriz frente ao Vila Nova, em Goiânia. Era a quinta partida da equipe no Brasileirão, e o roupeiro da agremiação, “que também veio de fora”, segundo Breno, não levou os calções de jogo dos atletas. A solução foi pegar emprestado com o anfitrião e jogar com as bermudas viradas do avesso. Na conversa com Marcelo, que não foi gravada, o fotógrafo afirma que “muita coisa feia” foi dita.

Logo depois, uma nova ligação de Marcelo o atentou para registrar o contato. Com o gravador ligado, Johann atendeu e um homem identificado como Fabrício começou a metralhar disparates. “Sabe o que eu vou fazer? Vou mandar o Marcelo embora e pegar essa meia dúzia de torcedor filho da puta que tem aí e vocês assumem o time”, disse o sócio da JB Sports, tido por braço direito de Ribeiro. Ele repete o xingamento quando instado por Johann. Em outro momento, ele sugere uma saída. “Você acha que o cara vai cuidar de calção, perdendo o jogo? Marca uma entrevista com o roupeiro e ele te dá satisfação”, mofou.

O diretor foi ainda mais longe. “Faz uma vaquinha aí, não tem tanto torcedor apaixonado pelo Imperatriz?”, caçoou Fabrício. Para Johann, o tratamento ajudou a intensificar o sentimento que domina a cidade maranhense nos dias de hoje. “A torcida ficou muito triste. Os resultados ruins são todos na conta deles”, ataca o colorado, que também faz um alerta para o Entorno do DF. “A turma que está chegando em Formosa é justamente quem deveria sair do futebol. É uma máfia, só fazem coisa errada”, acusa Breno. Na ida a Goiânia, Marcelo fora expulso de um voo por ataques homofóbicos a um dos comissários de bordo.

No episódio, ficou claro que havia uma ruptura – ou, ao menos, um descompasso – entre jogadores e direção. Após funcionários da companhia aérea solicitarem que Marcelo e o presidente do Conselho Deliberativo, Antônio Torres, deixassem a aeronave, os dois convocaram a delegação a boicotar o voo. Nenhum jogador, treinador ou qualquer outro profissional se mexeu. A Gol embarcou a dupla em um voo seguinte, mas emitiu nota de repúdio às manifestações dos dirigentes.

Outro lado

O Distrito do Esporte apresentou as queixas e denúncias a Marcelo Lucas Ribeiro horas antes da eleição que o consagrará presidente do Tsunami do Cerrado. De acordo com o empresário, a JB Sports não entra na empreitada no Entorno do DF. “Aqui é o Marcelo com um grupo de investidores. Algumas pessoas da JB vão auxiliar na parte financeira, mas como aporte mesmo”, explica o gestor. Sobre os episódios narrados acima, ele atribui os resultados vexaminosos às sanções da Fifa.

O Cavalo de Aço foi acionado na entidade máxima do esporte por causa de uma dívida de US$40 mil com o Atlético Fênix, do Uruguai, pela contratação de Breno Caetano, atacante que deixou o clube antes mesmo do final da Série C. “O problema não foi com o torcedor, foi que o clube, infelizmente, é alvo de ação na Fifa que impediu tanto a empresa, quanto a diretoria de contratar jogadores”, defende-se Ribeiro.

A respeito da rescisão, Ribeiro também apresenta argumentos para apagar do currículo a pífia campanha do colorado no Brasileirão. Segundo ele, já havia acordo para desfazer o acordo, e ninguém foi passado para trás. “Se quiser ligar para o presidente, fique à vontade”, disse. O Distrito do Esporte tentou contato por diversas vezes com Adauto Carvalho, presidente da agremiação – que desde a rescisão com a JB Sports não concede entrevistas – e com Wagner Ayres, vice-presidente do Imperatriz, mas não obteve retorno dos cartolas. “Nós tratamos o destrato a pedido do clube antes do jogo contra o Manaus [uma rodada antes da partida frente ao Treze]”, afirma o empresário. “Acertamos verbalmente e os advogados colocaram em andamento esse destrato”, lembra.

Também não houve fuga, conforme diz, para evitar honrar compromissos. “O jogo foi na quinta e na sexta nós fizemos o pagamento. Foi tudo combinado. A gente não voltou por causa da logística. Minha noiva é de Imperatriz, já voltei duas vezes lá”, aponta Marcelo. O futuro presidente do clube goiano também rebateu as declarações de Kobayashi acerca da gestão no Cavalo de Aço. “Ele pediu desligamento porque tinha duas ou três propostas”, ataca o presidente do Tsunami. “O treinador é consultado, a gente tem um departamento de monitoramento que conversa, sim. Mas quem assina é quem tem o dinheiro no bolso. Se ele não quer trabalhar assim, que não trabalhe”, finaliza o gestor.

*Nome e função fictícios para proteger a identidade da fonte. 

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