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quinta-feira, 2 de maio de 2024

Sala de Imprensa #7 – Aos seus 60 anos, minha Brasília

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Por Bruno H. de Moura*

21 de abril de 753 a.C. Nascia um império como nunca visto na história da humanidade. Dizem os historiadores, e a poesia de Tito Lívio, que naquela data longínqua Rômulo matava seu irmão Remo e fundava a cidade de Roma, à margem esquerda do rio Tibre.

21 de abril de 1509. O segundo monarca inglês entre os Tudors subiu ao trono Bretão. Sucedendo seu pai, Henrique VII, o novo rei Henrique VIII iniciava o mais decisivo reinado da história inglesa. Coube a Henrique VIII a fundação da Igreja Anglicana, a separação da Inglaterra da Igreja de Roma, a invasão da França  e os primeiros passos de uma das mais deliciosas histórias de amor, poder e casamentos de todos os tempos.

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21 de abril de 1972. A coroa Portuguesa encerrava o último capítulo da destruição da inconfidência mineira. Joaquim José da Silva Xavier era julgado, condenado à morte capital, enforcado, assassinado e esquartejado. Nascia o patrono de Minas Gerais e o mártir da revolução mineira. Hoje a capital do Estado de Minas Gerais é simbolicamente transferida a Ouro Preto.

21 de abril de 1926. Chegava ao mundo Isabel Alexandra Maria, rainha Elizabeth II da Inglaterra.

21 de abril de 1960.

60 anos atrás, ao batilhar do relógio, inaugurava-se na praça dos três poderes a mais nova capital de um país. Uma cidade planejada, criada para integrar todos os cantos de um país continental e garantir a segurança do poder central da nação.

A escolha do quadradinho central não foi obra do acaso. Antevista por Dom Bosco nos idos de 1850 – entre os paralelos 15 e 20 do hemisférios sul, um lugar de grande riqueza próximo a um lago – Brasília nasceu do sonho de Dom Bosco, da expansão pro centro do mineiro Juscelino Kubitschek e da percepção dos generais de que nada mais seguro que um avião no centro do país.

Feita de e para a política, a capital só se realiza de gente. Dos candangos que deram sua vida e morreram soterrados na construção da capital dos funcionários públicos, até os cariocas que, contra sua própria vontade, vieram povoar os pilotis das Asas do avião.

A Brasília dos goianos, povo mais próximo e irmão da capital, até os estrangeiros de todas as nações, representando suas cores, cheiros e sabores nas 131 embaixadas instaladas na capital federal.

Brasília tem de tudo e tem para todos. Não na mesma proporção, muito menos na mesma fatia. Neste veículo, por exemplo, temos sócio que mora na Ceilândia, região distante da praça dos três poderes, e outro que reside a 5 minutos do lugar mais importante do país. Brasília é o símbolo da oportunidade e da desigualdade.

Brasília é a cidade do avanço, do futuro e das oportunidades. Mas, também, dos fidalgos, dos filhos de e dos parentes do. E que exemplo melhor para demonstrar a nossa Brasília que nosso esporte.

Desde antes da fundação oficial de Brasília já tínhamos futebol e times da bola redonda aqui na capital. A profissionalização do esporte demorou, mas veio, e no começo do século Gama e Brasiliense representavam com uma beleza ímpar a força dos candangos, novos e velhos. Vivemos o auge de nosso esporte e o glorioso Mané Garrincha, que nomeia nossa mais importante e controversa praça esportiva, sentiria orgulho da capital.

Mas passou a bonança e veio a decadência. Em 10 anos do luxo ao lixo. Saímos do gosto esplêndido dos sabores dos restaurantes de contas de 3 mil reais no lago Paranoá para o cheiro fétido do antigo lixão da estrutural, felizmente fechado.

O futebol de Brasília não dá alento, não recupera, não sinaliza sua volta aquele nível do time brilhante do Brasiliense em 2002, covardemente assaltado por Carlos Eugênio Simon na final da Copa do Brasil contra o Corinthians. O Brasília, há 6 anos atrás, ainda nos deu esperança no esporte da capital ao ganhar a Copa Verde. Mas só, e somente só.

Pior, chegamos ao pior momento da história do basquete da capital. O Universo Brasília, maior clube de basquete do Brasil e orgulho máximo de todo esportista do DF no final dos anos 2000 e início da década de 10, mergulhou em um poço fundo de dívidas, falta de estrutura, apoio institucional e qualidade técnica. Como cobrar de um elenco que só se machuca e não recebeu salários por 4 meses?!

O Brasília Vôlei, após capengas, mas sequenciais campanhas, foi rebaixada ano passado da elite da Superliga. Felizmente e graciosamente tivemos a melhor campanha da Superliga Feminina B e voltamos de onde jamais deveríamos ter saído. Um alento.

Poderia falar, ainda, de Caio Bomfim, Ketleyn Quadros, Reinier, Kaká, Vincente Luque, Dimba, Oscar Schmidt, Nelson Piquet, meu deus, quantos grandes nomes da história do DF. Mas minha homenagem à capital também é um pedido de socorro.

Socorro ao nosso esporte, socorro à nossa história, socorro aos times que não fazem só o futebol profissional do Candangão, mas trabalham socialmente com as áreas mais carentes de toda a capital.

Não esqueçamos que o IDH de Brasília é o maior do país. Enquanto o Lago Sul tem níveis da Noruega com renda per capita de R$ 8.317,19, o Setor Complementar de Indústria e Abastecimento (SCIA), área próxima ao antigo lixão, tem por cabeça renda de R$ 569,97, quase 15 vezes menor.

Roma, Henrique VIII, Rainha Elizabeth e Brasília não tem apenas a data de eventos históricos em igualdade. Todas representam poder, longevidade, sucesso, mas também desigualdade.

Ao acabar este período de coronavírus lembremos a beleza da capital federal, seu por do sol, os pastéis da Viçosa na volta pra casa, a água gostosa do lago Paranoá, e todas as alegrias da nossa capital. Mas não esqueçamos a história e o símbolo de Tiradentes, único condenado à morte pela Inconfidência Mineira por ser o de menor poderio financeiro e de baixa patente militar.

Nascemos no mesmo dia de Roma e no mesmo dia da libertação da alma de um sonhador que só queria a liberdade de seu povo.

*Bruno Henrique de Moura é jornalista e advogado. Filho orgulho da Universidade de Brasília, já falou de política e economia no JOTA e no Estadão. No esporte do quadradinho passou por Esportes Brasília, Lance FM, Nova Aliança, Nossa Brasil FM, Ativa FM entre outras. Hoje se divide entre a advocacia, o Distrito do Esporte, bons restaurantes e excelentes bebidas, e o estudo do Direito Penal Militar.

 

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