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quinta-feira, 2 de maio de 2024

Sala de Imprensa #6 – Um bando de incompetentes. Ou porque Gregório de Matos estava certo.

A tríade do triângulo esportivo do DF é igual um triângulo equilátero. Os graus e tamanhos se convergem na incompetência.

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Por Bruno H. de Moura*

A sabedoria clássica do boca do inferno reverbera pelos cantos da capital federal. “O honesto é pobre, o ocioso triunfa, o incompetente manda”, diria o glorioso escritor barroco. Satírico, lírico, sacro e erótico, Gregório era o representante mor de um movimento literário que fugia das amarras do governo instituído e saia atirando contra tudo e todos.

Nos idos de seu mais importante período de produção literária, a imprensa no Brasil era proibida. Os textos gregorianos tinham de correr de mão em mão, pois eram expurgados da reprodução. Ler Gregório era punível de castigos. Sim, ler um texto ficcional, com ares de verdade e descrição de fatos, era crime.

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Gregório não poupava a pena de discorrer as verdades. Pois vamos rasgar o maldito do verbo.

Dinheiro, pra quê dinheiro?

Oito, são oito anos, a idade de um whisky londrino J&B apreciado na casa de alguns dos mandatários do DF. Oito anos que o futebol do Distrito Federal não tem representante na ridícula Série C do Campeonato Brasileiro. Enquanto isso, o Acre tinha um time na competição ano passado. Sabe qual a renda per capita dos dois estados? O DF tem R$ 2.460,00, segundo números do IBGE em 2018. O Acre R$ 909,00. Brasília tem a maior renda do Brasil. O Acre? 23ª no ranking com 27 estados.

Nenhum clube, nem os badalados Brasiliense e Gama, duas decepções futebolísticas que acham que páginas amarelas de jornal são suficientes para apaziguar a catástrofe de desempenho esportivo nos anos recentes, tomaram um chá de vergonha na cara, bateram no peito, e se planejaram para fazer o MÍNIMO. Sim, Série C é o mínimo que se espera de times que disputaram primeira divisão há menos de 30 anos.

E não me venham com histórias pra boi dormir que são gigantes, os maiores da região, que tem tradição. Se tradição botasse comida na mesa, dinheiro na conta e títulos no salão a Portuguesa de São Paulo, muito maior que Brasiliense e Gama, não estaria fechando as portas.

A incompetência desses dois clubes e dos seus abnegados é marca registrada. Cadê que Goiás e Atlético Goianense do vizinho e muito mais pobre estado que nos rodeia deixaram seus maus momentos lhes levar ao fundo do poço?

Aqui no DF não é nem mais poço de água, é de petróleo do pré-sal.

Mas não bastasse isso, a organização do nosso futebol deixa a desejar.

O ar e o condicionado

De todos os personagens do futebol do DF o menos culpado é o organizador do torneio, a FFDF. Mas nem por isso deixa de sê-lo. Primeiro, convenhamos, qualquer federação que se preze, quando propõe a fazê-lo, paga arbitragem e ambulância de jogo. Eu cansei de ver jogo atrasar porque não tinha ambulância. Mas, ok, foi feito. Felicitações.

Em segundo lugar, nós estamos na capital federal do país falando de futebol. E não venha me falar que o morador do DF não gosta de bola, porque se fosse verdade o Flamengo não lucraria milhões todo raio de vez que joga no Mané Garrincha.

Como raios a Federação não fecha um patrocinador master para o campeonato, dando ao nome da competição alguma empresa grande. Nós estamos num dos maiores polos de consumo de carros, serviços alimentícios de fast food, shoopings, planos de saúde, empresas de turismo, do país. Aonde está o telefone da presidência da federação e sua área de marketing para se reunir com o empresariado e pedir, que seja, 3 milhões para o torneio?

Sequer temos televisionamento remunerado. O campeonato vai de tão mal à pior que a única emissora que realmente se interessou por transmitir não remunera os clubes. E deixemos claro, a culpa não é do Diários Associados, que, pelo contrário, está ajudando nosso “futebol” a, ao menos, ter visibilidade, mas daqueles que deixaram chegar a este ponto vergonhoso.

Repito. Aqui não é o cafundó dos judas. É a capital do país com a maior renda per capita do Brasil.

Em terceiro lugar, eu queria um Eurico Miranda na presidência da Federal. Eu queria um Juvenal Juvêncio, eu queria um Zezé Perrela, eu queria alguém que chegasse na mesa, desse um murro bem forte, e resolvesse. NÓS NÃO CONSEGUIMOS TER ESTÁDIO PARA O CAMPEONATO.

Não se pede uma arena multiuso com bidê e lanchonete do McDonalds. Eu só quero a chave de um lugar com um gramado minimamente decente, banheiros com água, portão que abre, catraca que não arranhe torcedor, cabine de imprensa com tomada, e que POSSA RECEBER PÚBLICO. Não é o teatro de Roma ou a Arena Palmeiras. É o CAVE funcionando.

Mas, nem isso nós temos. Precisamos ter de perguntar se a 6 horas de Gama e Brasil de Pelotas vai ter público. Isso é ridículo.

 Mas não é culpa só da FFDF e dos clubes. A culpa é, muito, e talvez mais, do governo.

Nem verde, nem amarelo, Rubro-Negro

Eu sou liberal, tenho uma visão de mundo que a iniciativa privada deve tomar frente e resolver as questões. Mas o Distrito Federal e a Polícia Militar não deixam ocorrer.

TODOS os estádios do DF, com exceção ao Mané Garrincha que nem entra nessa conta por ser mais do RJ que do DF, são de administração pública. Mas a incompetência do GDF e de suas administrações regionais, todas de nomeados políticos, não conseguem deixar os estádios prontos para minimamente nada. NADA.

Bezerrão, Serejão, Augustinho Lima, Rorizão, Abadião, todos, em todos os anos, tem uma luta maldita para conseguir laudos da PM, Corpo de Bombeiros, etc etc. O GDF do governador Flamenguista, que teve a audácia de usar o Banco Regional de Brasília para bancar R$ 2,5 milhões ao Flamengo Basquete, não teve coragem de pisar em NENHUM ESTÁDIO DO DF DESDE O INÍCIO DO CAMPEONATO.

Mas, aposto com qualquer um, vai estar no camarote do carioca Mané Garrincha domingo torcendo pro Flamengo na final da SuperCopa do Brasil.

E mais. Pergunta pro administrador do Gama ou de Taguatinga se aceitam passar Bezerrão e Serejão pra Gama e Brasiliense? Nem a pau. E deixar o estádio pronto para os times? ah, isso muito menos. E a pelada do deputado distrital sábado 10h da manhã? Devidamente agendada e com a grana podada.

Por fim, mas não menos importante, a gloriosa Polícia Militar. Vem cá. Vocês já viram a PMDF não autorizar um mísero jogo nacional no Mané Garrincha? Ou a Copa do Mundo Sub-17? Não né. E os jogos do Candangão?

Botemos a real. Falta vontade e desejo de fazer. Cadê a PMDF marcando reunião com organizada, anotando nomes, fazendo um plano de segurança e, especialmente, desejando mandar efetivo pra estádio. NÃO TEM. Mas quando a torcida organizada do Flamengo vem eles fazem. Até mesmo em jogo de basquete na Asceb.

Às vezes creio que todos nossos gloriosos dirigentes e governantes são leitores assíduos d e Mário Quintana que certa vez assentou “A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda”. To esperando a roda ser inventada no futebol do DF.

Au Centre

Ao fim e ao cabo, ficamos nós, jornalistas, especialmente os bons e críticos, perdendo a paciência e tentando relatar os impropérios e absurdos que ocorrem. Mas somos todos uns honestos pobres de Gregório de Matos. Quando noticiamos que um estádio não tem laudo a resposta da torcida: vocês são anti time A, B, Fake News, Buemba Buemba. Aristóteles que sabia o que dizia: “O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete”.

Voltando a Gregório de Mattos. Talvez o certo não seja nem o começo, nem o fim. Nem honesto pobre, nem incompetente mandão. Vou-me ao centro. Deixo a cobertura diária do futebol do DF. Vou pra ociosidade. Um abraço a todos.

*Bruno Henrique de Moura é jornalista e advogado formado na UnB. Já atuou no JOTA e Estadão, especialmente na cobertura de economia e política. No esporte candango tem passagens pelas rádios Esportes Brasília, Lance FM, Nova Aliança, Nossa Brasil FM, Ativa FM entre outras. É Diretor e Repórter Especial do Distrito do Esporte.

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