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quarta-feira, 21 de maio de 2025

Voz da Arquibancada #6: O tamanho do Abadião para a Ceilândia é vergonhoso

A maior cidade do DF, berço de equipe tricampeã, tem um estádio minúsculo e com infraestrutura que impede crescimento do esporte local

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O texto se trata de um artigo de opinião e, portanto, é de inteira responsabilidade de seu autor. As opiniões nele emitidas não estão relacionadas, necessariamente, ao ponto de vista do Distrito do Esporte.
Por Gabriel de Sousa*

O que acontece quando você diz a alguém que uma cidade de 350 mil moradores, lar de um clube presente em competições nacionais e tricampeão local, tem somente um estádio com capacidade máxima para 5 mil torcedores? Público esse que precisa assistir a jogos em arquibancadas descobertas, enfrentando problemas de acessibilidade e sem sequer um mísero indicador do placar da partida? Essa é a realidade do Abadião na Ceilândia, um campo ultrapassado que não condiz com o tamanho da maior região administrativa do DF.

Nas rodas de conversa sobre o futebol candango, muitos são os que debatem os motivos que impedem um crescimento vertiginoso do Ceilândia Esporte Clube. Fora das quatro linhas e de questões internas da equipe, o centro das discussões está o Estádio Maria de Lourdes Abadia, um dos raros campos que homenageia uma personalidade mulher. No caso, a primeira gestora da cidade e ex-governadora do Distrito Federal.

Quando se encerra a discussão do estádio, a conclusão é única e certeira. O Abadião, para a Ceilândia, não é pequeno. É minúsculo. É vergonhoso.

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Torcida do Ceilândia presente no Abadião – Foto: Jéssika Lineker/Distrito do Esporte

Quem está “turistando” pelas ruas da cidade, mal percebe que ali, entre o metrô e a Via Oeste, há um estádio. Para quem vê de fora, parece uma escola, confundida com o muro da Escola Técnica, que fica ao lado. Em dia de jogo, mal há espaço para concentração dos torcedores do Gato Preto. Ou eles ficam acanhados ao lado da bilheteria, ou entre as pistas, ou no Bar do Japão, point dos membros da torcida organizada.

Atualmente, o Abadião pode receber 5 mil pessoas. Isso é o que diz a segurança pública local. Na prática, o campo não suporta mais de 3 mil. Considero a partida da Copa do Brasil deste ano, onde o Gato Preto bateu o Coritiba com um público de 2.669 presentes. Havia vários de fora. Uma pena para eles. O jogo era grande demais para um estádio de menos.

Quando a segurança pública do DF diz que o estádio, que sofre de falhas de infraestrutura, tem um laudo, os torcedores comemoram a possibilidade de acompanhar os alvinegros. Quem tem o costume de circular pelo estádio, vê que motivos para questionar a possibilidade de jogos serem feitos ali, não faltam.

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Mas, para não ficar apenas nas críticas, vale dizer que recentemente o campo recebeu melhorias. No Candangão 2025, o Abadião recebeu refletores que permitiram, após mais de uma década, que lá pudesse ter jogos noturnos. Os jogos feitos após trégua da luz do sol foi a melhor notícia do ano para os ceilandenses. A maioria dos confrontos são no meio da tarde e, sem uma arquibancada coberta sequer, exceto para algumas cadeiras do “setor VIP”, não há para onde se esconder.

Estádio Abadião - Candangão BRB 2025 - Campeonato Candango - Ceilândia x Gama
Foto: Divulgação/SEL DF

Desde o início do ano, eu e outros torcedores começamos a levantar a bandeira da necessidade de um novo estádio para a Ceilândia. Levamos faixa e tudo. Para alguns, a briga é besta e visa somente gastar mais dinheiro público. Para outros, onde eu me incluo, é uma briga pela sobrevivência do futebol na maior região administrativa da capital federal.

Para o tamanho da cidade, o Abadião precisa não só ser modernizado, precisa aumentar de tamanho. Precisa ter uma capacidade minimamente digna para o avanço do esporte local. Uma praça esportiva para quase 450 mil pessoas (nesta conta soma-se o Sol Nascente/Pôr do Sol), a possibilidade de haver apenas 5 mil no melhor dos cenários, evidencia que o direito ao lazer, garantido pela Constituição Federal, não chegou nas bandas da Avenida Hélio Prates.

Como de costume nesta coluna, a quem desacredita das minhas opiniões, apresento-lhe os números. Ceilândia tem 350.347 moradores para um estádio de cinco mil. Ou seja, o estádio comporta unicamente 1,42% da população da região. Em comparação, o Serejão, para Taguatinga, com seus 27 mil lugares, pode receber 12,82% dos moradores da região administrativa vizinha. É nove vezes maior. Quem ousa explicar o motivo para tamanha disparidade?

Se você pensou em citar que ainda não há relevância do esporte de Ceilândia como justificativa, lembre-se que, além de um time de futebol com crescimento vertiginoso, a região administrativa é berço de atletas de renome. Na cidade, cresceram as medalhistas olímpicas Ketlyn Quadros (judô) e Paula Pequeno (vôlei) e o maratonista vencedor do Pan 2007 Marilson dos Santos. No esporte bretão, a cidade revelou o zagueiro Robert Renan, atualmente no Al-Shabab, da liga saudita.

Torcedores do Ceilândia pendurando uma faixa no Estádio Abadião antes do confronto diante do Vitória-ES, pela Série D do Campeonato Brasileiro
Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

Se houvesse um complexo esportivo do tamanho da cidade, como há, por exemplo, no Gama, quantos outros heróis e heroínas do esporte iríamos ter? Quantos outros perdemos?

Para o esporte local crescer, a Ceilândia precisa, urgentemente, de um estádio novo e maior. Nos dias de semana, os moradores de lá, assim como de outras cidades-satélites, fazem a capital federal funcionar. Nos domingos, é preciso ter um lugar digno para o lazer.

Antes de pensar o quanto de dinheiro público vai ser gasto, é preciso refletir do quanto a economia local ganharia com uma praça esportiva moderna e atrativa. Não só fazer o dinheiro circular no Plano, é sobre a necessidade da riqueza ser gerada na própria cidade.

Hoje, a reivindicação de um estádio novo se limita aos sonhos dos moradores e aos clamores dos torcedores do Gato Preto. Mas o pedido, pelo que parece, não é daqueles que são apagados no final de uma estação. A cobrança existe e vai continuar.

Como ceilandense, sei bem que adquirir direitos básicos, como neste caso ao lazer esportivo, é uma sequência de epopeias de lutas. Nascemos assim e crescemos assim. Isso vêm desde a criação do Centro de Erradicação de Invasões (CEI), deplorável estatal segregacionista criada no governo do ex-ditador Garrastazu Médici, que nos tirou de perto do centro do poder e originou o nome da cidade. Hoje, usamos a sigla do apartheid à brasileira como orgulho. O clube local também a usa, e está a cada dia surpreendendo mais quem subestima os moradores. Resta ainda um novo estádio, para que mais um passo da autodeterminação da comunidade seja alcançado.

Gabriel de Sousa é jornalista nascido em Ceilândia, na periferia da capital federal, e graduado na Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou no Correio Braziliense, SBT News e no Jornal de Brasília. Participou da cobertura das eleições distritais de 2022 e municipais de 2024. Atua no Núcleo de Produção Rápida da Politica (NPR) na Sucursal de Brasília do Estadão

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1 COMENTÁRIO

  1. Eu sou morador e torcedor do Gama, sei o quanto a comunidade daquela cidade lutou para ter uma praça esportiva decente. O Gama é uma cidade de pouca opção de a lazer, e o Bezerrão é a principal atração da cidade. O morador de Ceilandia tem que lutar por um estádio melhor, o time da cidade cresceu muito e o estádio Abadião não atende mais as necessidades do clube.

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