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Por Gabriel de Sousa*
Os próximos dois jogos entre Ceilândia e Brasiliense devem ser realizados com torcida única. Essa é a recomendação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) que, em documento enviado na última quarta-feira (5/2) ao secretário de Segurança Pública do DF, Sandro Avelar, afirma que a medida busca coibir a violência nos estádios do DF. Graças a infantilidade de alguns torcedores e a rigidez do Poder Público, a medida pode ajudar a afastar torcedores dos estádios.
O que se tem até agora são relatos de uma tentativa de briga, ocorrida após o término da vitória do Jacaré sobre o Gato Preto, por 1 a 0, no último domingo (2/2). Segundo a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), uma parcela de torcedores visitantes rompeu contra o bloqueio policial e avançou contra a torcida local, desencadeando uma tentativa de confronto.
O presidente da Camisa 13, organizada do Ceilândia, James Cruz, afirmou que, após uma troca de provocações entre torcedores comuns, isto é, sem relação com as duas organizadas, houve um confronto entre as forças policiais e a torcida do Jacaré. Ele diz que teme que a punição possa atrapalhar os planos da entidade de ter uma sede que deve contar com aulas de artes marciais, escola de percussão e distribuição de cestas básicas. A construção do espaço está sendo discutida com o GDF.
A coluna também procurou a Facção Brasiliense, mas não obteve retorno.
Até o momento, não foram registradas prisões ou ocorrências médicas relacionadas ao embate entre os torcedores. Na imprensa, a tentativa de confronto só foi conhecida por conta da recomendação do MPDFT.
Segundo fontes ouvidas pela coluna, o poder público deu a entender, em reuniões feitas com os membros das organizadas de Ceilândia e Brasiliense, que a rigidez da punição seria uma forma de mostrar que, em Brasília, não haverá nenhum tipo de confronto entre as organizadas. Isso tudo porque, um dia antes, no sábado, cenas de uma batalha campal entre torcedores do Sport e do Santa Cruz chocaram o país com cenas de agressões e até de estupro em uma rua de Recife.
Se o governo ganhar capital político com a punição às torcidas, poderá haver revezes na aproximação dos torcedores aos estádios. O jogo de domingo já não teve o público esperado, devido à final da Supercopa do Brasil entre Flamengo e Botafogo e, com a repercussão da punição e da tentativa de briga, aproximar as famílias das praças esportivas poderá ser mais difícil.
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Isso tudo porque, para alguns torcedores, o amor pelo clube não deve ser explanado através dos cantos, percussões e bandeiras, e sim pelo ódio, pelas ofensas e pela agressão. No final do jogo, atletas adversários trocam as camisas entre si, mas, do lado de fora, os adeptos insistem em querer ferir outros por causa das cores dos clubes.
E essa não é a primeira vez que isso ocorre. Para muitas pessoas de fora de Brasília, a principal lembrança entre o Clássico Verde-Amarelo é o confronto que se deu entre os dois times, em março de 2017, onde membros das organizadas de Brasiliense e Gama arriscaram as vidas por uma faixa.
Agora, basta saber se a punição de fechar os estádios proposta pelo MPDFT, a lá Alexandre Dumas no conceito “um por todos, e todos por um”, vai ser suficiente para coibir as hostilidades após clássicos entre equipes do DF. Até o momento, a criação de um plano efetivo de policiamento para agir nos estádios não foi sugerida.
Um policiamento inteligente que, ao invés de agir para impedir que as hostilidades ocorram, trabalham para que isso não aconteça seria mais eficaz. Porém, é mais fácil fechar as portas do estádio. Porém, quem perde é quem ama os clubes e o futebol e não quem prefere a arruaça.
Até porque, sabemos que quem quer brigar vai fazer isso em qualquer outro lugar. Basta lembrar de fevereiro do ano passado, quando um membro da Ira Jovem foi espancado em um bar do Gama, após o confronto dos dois times. O jogo também foi realizado com torcida única. Tendo isso posto, qual seria a lição?