Por Luiz Henrique Borges
Os últimos doze meses foram simplesmente péssimos para a Seleção Brasileira que amarga, a cada jogo, novos fracassos e recordes negativos. Fomos eliminados na Copa do Mundo há um ano para a envelhecida e, no máximo, mediana Seleção Croata. Após a Copa, conseguimos naufragar em amistosos contra adversários inexpressivos e estamos demonstrando um futebol horroroso nas Eliminatórias para a próxima Copa do Mundo. Temos que erguer as mãos para o céu e agradecer devotamente a ampliação no número de vagas, porque com esses jogadores mequetrefes que temos seria bem provável, nos moldes anteriores, não carimbarmos o passaporte para o México, Estados Unidos e Canadá.
O último capítulo do lamentável 2023 se deu na última terça-feira. Além de mostrarmos ao mundo a nossa incompetência na organização de um evento, ainda conseguimos perder, pela primeira vez, um jogo das eliminatórias da Copa do Mundo atuando no Brasil. A questão não é a derrota, que foi para a Argentina, adversário que sempre pode nos vencer, mas a incrível aridez, pobreza e escassez de futebol da Seleção.
Primeiro, vamos tratar de algo inexplicável do ponto de vista organizacional, a briga que os torcedores das duas seleções protagonizaram nas arquibancadas do Maracanã. Qualquer pessoa que tenha um intelecto capaz de dar organicidade para o “tico” e o “teco” que habitam a sua cachola sabe que é preciso separar as torcidas rivais. Há poucos dias, torcedores do Fluminense e do Boca Juniors, clubes que disputaram a final da Libertadores no próprio Maracanã, protagonizaram cenas de selvageria nas areias de Copacabana. Por que esperar uma realidade distinta quando se trata de um jogo de seleções?
Aqui, precisamos nos despir da falsa ideia de que somos um povo acolhedor e simpático. Essa balela, construída pelo senso-comum e repetida incansavelmente, nos impede de perceber e de refletir sobre o caráter cada vez mais intolerante e xenófobo da nossa sociedade. Temos a incrível, ou a cínica, capacidade de nos indignar quando os nossos atletas sofrem atos racistas em outros locais do mundo, mas não olhamos para o nosso próprio umbigo. O futebol brasileiro, reflexo de uma sociedade que perdeu a vergonha em demonstrar sua face horrenda, também é palco para os mais diversos crimes de ódio.
O conflito entre os torcedores iniciou, demonstrando nossa grosseria e deselegância, a partir do momento em que vaiamos o hino nacional argentino. Quando a despreparada, Polícia Militar do Rio de Janeiro, resolveu distribuir golpes de cassetetes nos hermanos, para além da reação desproporcional de nossos agentes da lei e da ordem, o público entoou o “uh, vai morrer”, como se o espancamento de um rival pudesse ser algo a ser louvado ou aprazível. O resultado da ação policial foi espalhar o pânico que poderia ter descambado para uma tragédia.
Como sempre ocorre em situações bizarras e repletas de incompetência, o jogo de empurra é a tônica. A Polícia Militar do Rio de Janeiro culpa os organizadores que teriam dificultado a segurança do evento ao vender ingressos no estádio de maneira mista e a CBF afirmou que a responsabilidade pela segurança cabia à Polícia Militar e que esta participou de toda a organização do evento. Claramente, o que maculou o maior clássico mundial de seleções é de responsabilidade de todas as autoridades envolvidas.
Eu já vi, ao longo da minha vida, o Brasil formar seleções sofríveis, mas ruim como é a atual, eu nunca tinha experienciado. O nosso principal jogador há anos já deixou de ser um craque. Constantemente contundido, atuando em uma liga de quarta categoria e muito mais focado na vida social e amorosa do que no esporte, Neymar só é capaz de esporádicos, e cada vez mais raros, lances de genialidade.
Também não temos um atleta que seja capaz de exercer o papel de líder em campo. Essa função pode ser desempenhada tanto por um jogador tecnicamente irretocável, como foi Didi nas Copas de 1958 e 1962, como pode ser por um jogador mediano, como o Dunga na Copa de 1994. A falta do líder, somado a uma seleção jovem como é a brasileira, resulta em um time nervoso, que comete diversas faltas desnecessárias e que, demonstrando enorme fragilidade, sucumbe diante de qualquer tipo de pressão. Não foi o que ocorreu no jogo de terça-feira?
Outro ponto bastante preocupante é a ausência, na atual geração que enverga a camisa do Brasil, de jogadores verdadeiramente diferenciados. Vamos começar pela principal esperança, pois até o momento, com a camisa do Brasil, o Vinícius Júnior não passou disso. A camisa amarela não caiu bem no ex-jogador do Flamengo. Se ele é uma estrela no Real Madrid, por aqui ele é daqueles cometas sem brilho e que precisa de um super telescópio para ser visto. Já o seu companheiro, o Rodrygo, mais parece uma barata tonta correndo improdutivamente por todo o campo do que um atacante de beirada.
E o que falar de Gabriel Jesus? Seria hilário, se não fosse trágico, o atacante brasileiro afirmar que seu ponto forte não é fazer gol. O cara é o camisa 9 da Seleção, caramba! O mais desesperador é olhar para todos os lados e não encontrar um jogador que tenha as mínimas condições de assumir a titularidade do ataque brasileiro.
No meio de campo, que já foi habitado por Pelé, por Rivellino, por Didi, por Gérson, por Zico, por Falcão, por Sócrates, por Rivaldo, por Kaká, precisa se contentar, hoje, com jogadores sem criatividade e dotados de qualidade técnica sofrível como o Bruno Guimarães, o Lucas Paquetá, o Douglas Luiz, o Casemiro e, já que ninguém é realmente diferenciado, podemos incluir até o Raphael Veiga nesta triste lista.
Depois de Roberto Carlos e Cafu também ficamos órfãos nas laterais. Alguns podem falar do tal do Daniel Alves. Para mim, ele sempre foi um grande enganador. O Brasil perdeu diversos jogos porque o indiciado por crime de estupro na Espanha, certo de que era um craque, se lançava ao ataque deixando a lateral livre para a investida adversária.
Os meus leitores podem achar que estou fazendo algum tipo de gozação, mas eu considero o Fernando Diniz um bom técnico. A questão é que o seu esquema de jogo precisa de muito treinamento para funcionar, ou seja, de tempo, o que as seleções, não apenas a brasileira, não possuem.
O mais triste é que o que está ruim ainda pode piorar. Abri a internet e vi que o Brasil foi eliminado no Mundial sub-17 pela Argentina após amargar um sonoro 3X0. É preciso repensar urgentemente a formação dos nossos jogadores, algo de muito podre está ocorrendo no reino pentacampeão do Mundo. Será apenas uma coincidência contarmos com gerações pouco criativas? Não seria a hora de olharmos com muita atenção para a forma com que estamos trabalhando as categorias de base do nosso futebol?