*O texto se trata de um artigo de opinião e, portanto, é de inteira responsabilidade de seu autor. As opiniões nele emitidas não estão relacionadas, necessariamente, ao ponto de vista do Distrito do Esporte.
Por Bruno H. de Moura
Acabou. Um ano e três meses após o retorno nos braços da torcida amarela, Jobson Leandro Pereira de Oliveira, ou simplesmente Jobson, foi demitido do Brasiliense. Não usemos meias palavras de post oficial. Essa história de não renovação contratual é balela. Jobson foi demitido. E já não era hora.
Sem dúvidas, Jobson era o nome mais reverberante do elenco 2018/2019 do Jacaré candango ao lado do veteraníssimo – e convenhamos, muito mais jogador – zagueiro Lúcio. O atacante, criado na distante Conceição do Araguaia-PA, de 46 mil habitantes segundo o IBGE 2017, foi revelado há 12 anos pelo Brasiliense. Mas o brilho do moço moreno, de papo fácil, autenticidade e bastante desenvoltura estourou num alvinegro carioca.
Em 2009, o Botafogo não foi para a Série B do Campeonato Brasil muito pelo atacante. Forte fisicamente, brigador e com uma explosão invejável de alguém com apenas 21 anos, Jobson era a ousadia que o Fogão precisava. Mas a glória da mesma velocidade das suas correrias em campo era a mesma da que se enfiava em problemas. Exame antidoping positivo para cocaína em duas partidas do torneio.
As negociações frutíferas com o Cruzeiro/MG, que estava disposto a desembolsar R$ 4,5 milhões pelo atacante, desceram tão rápido quanto o bonde no bairro da Floresta, incrustada no centro da bela Belo Horizonte e eternizado em monumento no centro da capital mineira. Jobson sequer subiu Bahia com o azul cruzeirense, desceu direto tal qual o samba de Rômulo Paes.
Mas o pior ainda estava por vir no inferno astral do atacante. Jobson admitiu em julgamento do STJD que na verdade tinha consumido crack. O que era ruim só parecia piorar. A potencialidade lesiva do crack é arrasadora. O exame deu positivo para cocaína porque a substância é um composto da pedra de crack. O próprio atleta quem fez questão de jogar seu nome na lama. Jobson foi o primeiro caso de jogador profissional de futebol a admitir estar em atividade e ser viciado na droga.
É necessário ser justo: o tribunal se comoveu. A pena, até então de suspensão por dois anos do futebol, caiu 3/4. Jobson ficou 6 meses afastado do esporte. Passado o período o atacante voltou ao Botafogo. Porém, dessa vez a bola no pé não foi suficiente para esconder os problemas disciplinares. O Fogão havia apostado alto no atleta, cinco anos de contrato. No final de dezembro de 2010, Jobson ia para Belo Horizonte.
Imagino que Jobson não tenha subido com tanto prazer Bahia e descido Floresta, frequentado a Savassi, passado pela Afonso Pena, ido ao contorno e toda a Belo Horizonte como este analista. No final de março de 2011, ele voltava ao Botafogo sob o argumento de que não havia se adaptado a capital mineira. A Bahia seria o novo destino do atacante.
Paraense, o calor de Salvador e a baianidade seriam atrativos maiores para o jogador nortista. Mal acabou o semestre e Jobson saiu brigado do Bahia Esporte Clube. Não bastasse, o tribunal arbitral internacional reviu o caso do atacante e lhe aplicou mais seis meses de punição.
Na volta? Botafogo de novo. Jogador começou bem, como em praticamente todos os clubes, mas o temperamento belicoso…. Grêmio Prudente e ares menos badalados foram a solução. Acabou saindo. A razão: não se adaptou a “time sem torcida”. Florianópolis era o próximo destino, o Avaí. Mas como Jobson já havia jogado por dois times, não pode ir.
Volta ao Botafogo e empréstimo ao São Caetano em janeiro. Prazo? 1 ano. Deu março e Jobson era acusado de bater na esposa. No mês seguinte, foi a vez de conhecer a cadeia de São Caetano do Sul após ser parado em uma blitz e desacatar os policiais. Vendo todo esse caos, o Botafogo decidiu mandar Jobson para ares mais diferentes ainda na Arábia Saudita.
Sem amigos, família, dinheiro e sendo alvo de apreensão de passaporte pelo Al Ittihad Jedda, nada restou diferente da volta ao Brasil. Mas, antes disso, houve outra polêmica relativa ao doping. O atacante não recebia há quatro meses e o clube decidiu, unilateralmente, fazer, por si, um exame de doping no atleta. Jobson não aceitou pois sentia que era armação do clube – o que, convenhamos, é bem provável – e recusou-se a fazer. A Fifa, que havia amenizado anos atrás, dessa vez não perdoou.
Às vésperas da final do Campeonato Carioca de 2015 a Fifa suspendeu Jobson por três anos. Não cabia recurso. O atacante foi deixado de lado do futebol e foi-se do tentador Rio de Janeiro. Sumiu da mídia, do noticiário e das polêmicas. Talvez esportivas, mas não as policiais.
O próximo passo público foi a prisão por acusação de ter estuprado jovens de 12 e 13 anos em uma chácara no interior do Pará acompanhado de drogas, álcool e sexo, para ele e para as garotas. 69 dias atrás das grades. Jobson conseguiu liberdade condicional, mas voltou outras duas vezes para a cadeia. Quase três meses em 2017 e sete entre o final de 2017 e 2018. O processo segue em curso e em segredo de justiça no Tribunal de Justiça do Estado de Tocantins.
Nesse ponto, me recordo de um poema que lia quando jovem e, vez ou outra, volta a mente. Castro Alves, poeta primordial da literatura brasileira, publica em agosto de 1868 sobre teu amor por Teresa. Não apenas teu amor, mas tua saga com a donzela. Peço vênia para reproduzir, na íntegra.
O “ADEUS” DE TERESA
A VEZ PRIMEIRA que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus…
E amamos juntos… E depois na sala
“Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala…
E ela, corando, murmurou-me: “adeus.”
Uma noite… entreabriu-se um reposteiro…
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus…
Era eu… Era a pálida Teresa!
“Adeus” lhe disse conservando-a presa…
E ela entre beijos murmurou-me: “adeus!”
Passaram tempos… sec’los de delírio
Prazeres divinais… gozos do Empíreo…
…Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse — “Voltarei! … descansa! …”
Ela, chorando mais que uma criança,
Ela em soluços murmurou-me: “adeus!”
Quando voltei… era o palácio em festa! …
E a voz d’Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei! … Ela me olhou branca… surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa! …
E ela arquejando murmurou-me: “adeus!”
Jobson volta ao Brasiliense quase 12 anos após ser revelado pelo clube. O amarelino candango recebia de braços abertos o filho que se foi fazer grande em outros campos, comer de outros pratos e sentir novos cheiros.
Mas o retorno aos gramados demorou. Sem possibilidade de ser inscrito na Série D de 2018, Jobson foi emprestado ao Capital. Jogou bola como aquele velho Jobson do Botafogo. Claro, o tempo e a idade pesaram, mas a vontade e gana do atacante eram invejáveis. O atacante comandou o Capital ao título da Segunda Divisão candanga. Em 2019, seu destino era o Brasiliense.
O atacante não começou no time, pois na pré-temporada se envolveu em polêmica com o treinador Adelson de Almeida. Entre idas e vindas, foi para o Capital, de novo, e retornou ao Brasiliense. Não era titular e sua constância no banco era a regra. Teve um desempenho mediano nas competições de 2019 da equipe. Dentro de campo não tinha a habilidade e técnica de outrora. Fora? O mesmo agitador inconstante de sempre.
Hoje, 24/10/2019, o Brasiliense rescindiu seu contrato. O time viu que Jobson estava mais para erva daninha no meio do campo florido que tenta plantar Mauro Fernandes, que o belo girassol de 2009. O atacante, que negociou com dois times e foi anunciado por ambos nos últimos meses, mas não se apresentou nem no Atlético Carioca, quem dirá no Ceilandense, está desempregado.
Mas, voltando ao poema. Jobson conheceu o Fogão, casou e bailou com o time botafoguense. Foi, voltou, deixou e retornou. Bailou. Disse e ouviu Adeus ao seu belo par. Em entrevista ao portal UOL esse ano o atacante, falou que o Botafogo não o procurou, mas ele bateu a porta. Até agora, não deu certo. O Fogão sequer considera a volta do atacante e nenhum time entre as duas primeiras divisões coloca Jobson no radar.
Não há palácio em festa, orquestra, nem buque para Jobson no Botafogo. E, agora, seu primeiro amor, que também lhe foi Teresa, faz o mesmo caminho. Jobson não tem mais espaço no Jacaré.
A técnica, a visão de jogo, a bola no pé, isso não se perde. Se esconde. O jogador, cracasso, poderia ter sido um dos maiores atletas de sua geração, mas se perdeu em si mesmo. Aos 31 anos, Jobson não é mais um garoto, é um jogador que tem, no máximo, sete anos de profissão.
Apenas nos resta a questão: após Botafogo e Brasiliense se despedirem de Jobson, deixará o atacante ouvir do futebol profissional “E ela arquejando murmurou-me: ‘adeus!'”?
Pelo andar da carruagem, e espero estar errado, sim.
Bruno Henrique de Moura é jornalista e estudante de direito. No esporte candango tem passagens pelas rádios Esportes Brasília, Lance FM, Nova Aliança, Nossa Brasil FM, Ativa FM entre outras. É Diretor e Repórter Especial do Distrito do Esporte.