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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Sala de Imprensa #10 – Dia de ter consciência

A consciência é necessária todos os dias e 20 de novembro serve como reafirmação da igualdade. O esporte tem cor!

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*O texto se trata de um artigo de opinião e, portanto, é de inteira responsabilidade de seu autor. As opiniões nele emitidas não estão relacionadas, necessariamente, ao ponto de vista do Distrito do Esporte.

Por Daniel David* 

Hoje celebramos o dia da Consciência Negra e, talvez, seja interessante, pela primeira vez ou pela décima vez, pararmos para refletir como a cor da pele afeta o esporte e a vida de tantos atletas.

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Acabamos de contemplar o 7º título mundial de Hamilton, o único piloto negro da história da Fórmula 1. Um atleta muito relevante por todas suas conquistas, recordes batidos e que se tornou protagonista da luta antirracista.

Além dele temos a NBA, que é sem dúvidas a Liga mais atuante no combate ao racismo. A National Basketball Association teve jogos paralisados esse ano e só retornou após a criação de uma aliança para promover mais engajamento e discussão sobre o tema – com destaque para Lebron James. Ele é o principal atleta de basquete da atualidade que há muito tempo se posiciona de forma enérgica pelo combate do racismo esportivo.

Além disso podemos destacar atuação semelhante de muitos outros como Maya Moore (WNBA), Kenny Stills e Colin Kaepernick (NFL), as tenistas Serena Willians e Naomi Osaka, que entre outros se posicionam como resistência e como porta-vozes da mudança social que querem ver acontecer.

Mas, eles não são os primeiros. Os atletas antirracistas dão continuidade ao legado de luta deixado por grandes lendas do esporte que se posicionando para conscientizar o mundo de que a cor da pele não poderia continuar sendo critério de exclusão, inclusive no esporte. Os antecessores de destaque são Muhammad Ali (Boxe), Arthur Ashe (Tênis), Tommie Smith, John Carlos e o famoso Jesse Owens, que desafiou Hitler e denunciou o papo furado da superioridade racial ao ser vitorioso, em 1936, em uma prova olímpica de atletismo.

O racismo se manifesta no mundo do esporte de muitas formas, e no Brasil não é diferente. Temos uma série de atletas que, a despeito dos resultados, tem pouca visibilidade, fazem poucas campanhas publicitárias e recebem pouco ou quase nenhum patrocínio, por exemplo: Robson Conceição (Pugilista), Diogo Silva (Taekwondo), Rafaela Silva – judoca, campeã olímpica em 2016. Talvez você nunca tenha ouvido falar desses nomes, o que só reforça a necessidade de maior visibilidade e investimentos.

Como amantes do esporte sabemos de sua importância, de como influencia a cultura, transmite valores, prega o respeito e a igualdade, como molda o inconsciente coletivo e transforma vidas. Sua influência é tamanha que precisa mesmo vocacionar e moldar a sociedade que queremos. Mas justamente por refletir valores da sociedade na qual está inserida é que por vezes vemos manifestações racistas.

Falta voz de grandes nomes do esporte?

No futebol, esporte com maior destaque nacional e internacional, acompanhamos vários casos de racismos, a começar por comentários feitos a jogadores negros. Uma pesquisa recentemente lançada pela RunRepeat constatou que quando os comentaristas falam sobre inteligência, 62,60% dos elogios são direcionados a jogadores com tom de pele mais claro e 63,33% das críticas são dirigidas a jogadores com tom de pele mais escuro. Quando os comentaristas falam sobre força, eles têm 6,59 vezes mais probabilidade de falar sobre um jogador negro. Quando os comentaristas estão falando sobre velocidade, eles têm 3,38 vezes mais probabilidade de falar sobre um jogador negro. Já quando ressaltam a ética de trabalho, 60,40% dos elogios são dirigidos a jogadores com um tom de pele mais claro.

Os episódios nos quais jogadores foram hostilizados por torcedores em torneios nacionais e internacionais são inúmeros. Casos de técnicos como Andrade, campeão brasileiro em 2009 pelo Flamengo, que denunciou o preconceito sofrido quando chegou ao clube; o caso de Lula Pereira, que ouviu dos seus empresários que um clube havia gostado do perfil dele, mas que o fato de ser preto era um detalhe que lhes incomodava.

A grande questão é: porque apenas alguns atletas do futebol brasileiro se manifestam na luta antirracista? Porque pouquíssimos jogadores usam sua influência para conscientizar a sua nação? Não sabemos exatamente qual é a resposta para a pergunta, mas continuamos querendo saber, porque podemos citar diversos atletas de outros países e citar poucos atletas do esporte brasileiro como exemplo da luta contra o racismo?

Somos gratos por Marinho, Aranha, Richarlison, Gregore, Roger Machado, Lula, Paulinho, Jean Pyerre, Lucas Santos, por serem alguns dos poucos brasileiros com coragem de se posicionar, obrigado por serem taxados como pretos encrenqueiros. Precisamos de muitos pretos e brancos encrenqueiros assim.

Na data de hoje é renovada nossa oportunidade de não apenas refletir, mas também nos engajar contra as mazelas que estão presentes no que é nosso entretenimento, nosso passatempo semanal, diário ou dos fins de semana. Como sabiamente nos recomenda Angela Davis, “não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”. Tenhamos postura intencional contra o racismo.

*Daniel David é psicólogo, mas também atua como repórter do Distrito do Esporte desde outubro de 2020. Está fazendo pós-graduação em jornalismo esportivo. Ama escrever sobre temas interessantes, ou não. Apaixonado por esportes e chocolate meio amargo. 

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