Por Gabriel Caetano* e Lucas Espíndola
O Gama atravessa um período tenso administrativamente. Além da crise financeira que gerou um déficit de R$ 586 mil em 2020 (de acordo com o balanço publicado pelo clube) e uma dívida acumulada superior aos R$ 10 milhões, o alviverde vive um clima de instabilidade interna, que tem gerado repercussão negativa e divisão de conselheiros do sistema de poder do alviverde.
No último sábado (8/5), Luiz Henrique anunciou que irá abdicar de seu título de sócio benemérito e, consequentemente, deixar o Conselho Deliberativo. Conflitos iniciados em 2020 após o rompimento do CEO da Goal Manage, com o presidente alviverde, Weber Magalhães, se acaloraram nas últimas semanas e ganharam um novo personagem, o vice-presidente e diretor jurídico, Wendel Lopes, alcançando o pico de tensão na assembleia de prestação de contas.
A assembleia, que acabou por aprovar os gastos do Gama em 2020, foi extremamente acalorada, com duração de dois dias em mais de 12 horas acumuladas. A votação chegou a estar empatada por 12 a 12, mas foi contornada para chegar a aprovação dos gastos. Luiz Henrique, Wendel Lopes e Dr. Miguel Perez foram três dos que votaram contra e desencadearam os maiores embates contra Weber Magalhães e Arilson Machado.
Desde então, o clima só esquentou nos bastidores do Gama. A reprovação das contas de 2020 poderia desencadear um processo impeachment de Weber Magalhães. Magoado com o clube, Luiz Henrique afirmou. “Não há razão para desgaste algum”. O CEO da Goal Manage era frequentemente acusado de agir por interesse próprio e afirmou que isso o levou a renunciar.
“Não tenho mais como contribuir. Eu sou empresário e construí uma imagem no futebol em mais de 20 anos de trabalho. Vou recuperar esta independência. Ganhei um título de sócio benemérito por reconhecimento unânime à época. Hoje já não existe esta unanimidade, tanto que insinuações, por parte de alguns poucos, de ter interesses ou até desonestidade aconteceram”, disse Luiz Henrique, em mensagem no grupo de WhatsApp dos conselheiros do clube.
Troca de acusações por patrocínio
Segundo uma fonte, o Banco de Brasília (BRB) teria intenção de patrocinar o alviverde. Esse acordo não faria parte do programa de intenção de patrocínio lançado pelo banco em 2020, que destina R$ 2,8 milhões aos clubes filiados na Federação, mas sim uma proposta direta de Paulo Henrique Costa, presidente do BRB. O patrocínio acabou por não ser concretizado devido à falta de emissão das certidões. Foi aí que as coisas começaram a se implodir de vez no alviverde. Grupo de conselheiros estaria acusando o jurídico de ter agido contra o acordo e, consequentemente, contra a aprovação do patrocínio.
A acusação é que só faltava ser protocolado um acordo trabalhista de R$ 60 mil com quatro atletas para o Gama poder emitir a certidão negativa de débitos trabalhistas, que seria a única em falta para liberar o dinheiro. “Wendel deveria ter dado entrada no processo em 15 de março, porém, não fez por dois meses, prometeu várias vezes que faria em dois ou três dias, não fez e perdemos o patrocínio. O dinheiro entraria quatro dias depois do acordo judicial”, alegou a fonte ao Candangueiros, sem querer se identificar.
Wendel Lopes, diretor jurídico do Gama, se defendeu afirmando que “não existe acordo sem pagamento” e que o clube não pode emitir a certidão trabalhista “porque não tem dinheiro para pagar”, além de enfatizar outras pendências que impediriam o alviverde de tirar a certidão. “O Gama tem outras condenações por processos trabalhistas”. Questionado quantas são, o diretor jurídico não quis informar, mas o Candangueiros apurou que o alviverde soma R$ 600 mil de dívidas trabalhistas com condenação proferida e cerca de outros 50 que correm em juízo.
Sobre a demora questionada no tal acordo, Wendel Lopes afirmou que “não existe isso de acordo” e que o documento se trata de uma “Reunião de Execuções Trabalhistas” e esclareceu a demora. “O Gama tem processos trabalhistas por todo o Brasil, eu tive que consultar os tribunais de todo o país, anexar quase 100 documentos, isso não é simples e nem é de um dia para o outro”, explicou.
Questionado sobre o fato do Gama poder receber depois de quatro dias do acordo, Wendel foi enfático. “Isso não existe. O julgamento de qualquer processo leva tempo, e desse que enviei pode demorar meses ou até anos, além do fato de que o Gama pode ter uma condenação proferida na justiça do trabalho a qualquer momento”. Procurado sobre o acordo de patrocínio com o BRB e a tal dívida trabalhista, o presidente do Conselho Fiscal, Wesclei Quirino, apenas afirmou a nossa reportagem. “Não é assim como vocês pensam”.
Disputa por poder
Conforme publicado pelo DDE, a informação de corredores do Ninho do Periquito é que Luiz Henrique teria intenção de disputar a presidência do Gama nas eleições de 2020. Porém, em acordo firmado com Weber Magalhães, ele recebeu o inédito cargo de CEO. Wendel Lopes, que integraria a chapa de Luiz Henrique na disputa contra Weber Magalhães, também teria participado desse acordo e as eleições de 2020 acabaram por ter chapa única, elegendo novamente Weber Magalhães presidente, com Arilson Machado e Wendel Lopes como 1º e 2º vice-presidentes
Apesar das divergências, as coisas seguiam “suaves” entre Weber e Luiz Henrique, mas um episódio mudou essa situação. Segundo divulgado pelo DDE, na véspera do clássico entre Gama e Brasiliense, pela Série D do Campeonato Brasileiro de 2020, Luiz Henrique foi designado em consenso pela diretoria do clube para avisar aos jogadores em plena concentração para a partida que não teria como pagar os salários e entenderia se algum jogador quisesse sair. O clima tenso refletiu dentro e fora de campo, com vitória do Jacaré por 3 a 0 e posterior debandada de jogadores, além da eliminação precoce para o Goianésia, na segunda fase.
As coisas pioraram quando um jogador de influência no elenco, que não está mais no clube, decidiu questionar a conversa tida na concentração e gerou um embate com Luiz Henrique. Depois disso, Weber Magalhães e os outros diretores que fizeram parte do acordo para ter a conversa com os jogadores eximiram-se de culpa, deixando o CEO da Goal Manage irado.
Luiz Henrique decidiu quebrar a aliança de três anos que tinha com Weber Magalhães e na época, em entrevista ao Distrito do Esporte, explicou os motivos. “Este episódio foi a gota d’água para que eu decidisse sair. Respaldo e assumir responsabilidades é fundamental”, disse. Porém, Luiz Henrique ainda manteve o seu título de sócio benemérito do clube, participando ativamente contra Weber Magalhães nas assembleias. Tendo outros aliados nas críticas ao atual presidente do clube.
Embates por conta de parceria
Em 2021, o Gama recebeu contato de um forte empresário para uma possível parceria. Os detalhes correm em sigilo, porém, o Candangueiros apurou que o acordo foi aprovado preliminarmente em assembleia em 5 de abril. É nesse ponto que tem sido o maior embate entre conselheiros e diretores executivos. Luiz Henrique foi a única abstenção na assembleia de discussão da nova parceria, afirmando que seu voto não teria diferença. “Se eu voto a favor, vão falar que eu só quero saber de receber o meu dinheiro, se eu voto contra, vão afirmar a mesma coisa, então me abstenho”, disse.
Wendel Lopes, outro crítico ferrenho da gestão de Weber, tem sido veemente acusado de atuar contra o acordo, pedindo até para que Ícaro Peres, o outro advogado do clube, assumisse o processo jurídico. Pelo estatuto do clube, Wendel, como 2º vice-presidente, tem a obrigação de ao menos avaliar administrativamente o acordo. “Sou advogado do Gama, luto pelos interesses do clube, nada além disso”.
Wendel tratou de relembrar outras parcerias que acabaram por não dar certo para enfatizar seu zelo. “Já vimos no passado com GP Soccer, Granada, Fourteen, entre outras como uma parceria pode ser prejudicial ao clube se feita de qualquer jeito. Quero apenas garantir o melhor para o Gama, independente do que digam. É apenas isso”, disse.
Wendel fez questão ainda de afirmar. “Sou totalmente contra a gestão do Weber e vou continuar sendo, não importa o que falem”, enfatizou o vice-presidente, que deixou claro também não ter nenhuma intenção de assumir a presidência do clube. Luiz Henrique, também negou qualquer intenção de assumir o Gama. “Eu sou empresário, tenho uma empresa e quero continuar focado nela, apenas isso”.
O CEO da Goal Manage ainda tratou de enfatizar o seu trabalho enquanto foi parceiro do alviverde. “Por dois anos o Gama teve recursos, por dois anos o Gama teve planejamento, eu me entreguei completamente ao clube e agora me desliguei totalmente”. Enfatizou ainda o motivo dos boatos sobre sua relação com o Gama, cutucando o ex-aliado. “Não sou favorável a atual gestão presidida pelo Weber, sou totalmente contra as atitudes dele e talvez por isso surjam esses papinhos de que eu tenho interesse no Gama, eu não tenho interesse nenhum, essa é a mais pura verdade. Saindo agora, deixo isso muito bem esclarecido”.
Perguntado também sobre a dívida que o Gama tem com ele, Luiz Henrique apenas enfatizou. “É um valor bem significativo”. Segundo apuração do Candangueiros, o valor da dívida é de aproximadamente R$ 3 milhões. Outro ponto que o ex-CEO e agora ex-conselheiro do Gama tratou de ressaltar foi que não fechará as portas ao clube. “Minha empresa não fecha as portas para ninguém, e se o Gama lá na frente tiver uma gestão competente, que tenha responsabilidade e apresente um projeto de parceria, iremos conversar”, mas questionando que isso não acontecerá em curto prazo, disse. “Não faz sentido pensar em nenhuma parceria com o Gama por um bom tempo, até que as mudanças apareçam”, disse.
Situação recorrente
Atualmente, o Gama conta com cerca de 60 processos trabalhistas. Na gestão de Weber Magalhães, o clube praticamente quadruplicou a sua dívida, que em 2016, ao final da gestão de Tonhão, girava em torno de R$ 4 milhões e hoje já beira a casa dos R$ 20 milhões. Entramos em contato com os dirigentes Weber Magalhães e Arilson Machado, mas não obtivemos retorno. Já a assessoria do BRB informou que o banco não irá se pronunciar sobre o assunto.
*Especial para o Distrito do Esporte
Lamentável o que estão fazendo com o Gama. Pergunto: onde está o patrimônio do Gama? Como chegaram a esse passivo de 20 milhões?
“Na gestão de Weber Magalhães, o clube praticamente quadruplicou a sua dívida, que em 2016, ao final da gestão de Tonhão, girava em torno de R$ 4 milhões e hoje já beira a casa dos R$ 20 milhões.”
Acho que esse trecho da reportagem já diz tudo sobre a situação do clube… Lamento muito. O Gama é um projeto que não dá certo por culpa de seus próprios cartolas
Muito boa a reportagem do Gabriel e do Lucas sobre os bastidores político do Gama. Eu como torcedor entendo que o Gama só dará a volta por cima se a Diretoria conseguir uma aliança forte com algum grande empresário. Sem essa alternativa, não acredito que a Diretoria consiga resolver os problemas financeiro do clube.
E lamentável uma diretoria dessa que não deu certo e ainda o coelho aprovar as contas de 20milhoes e dívida, aí eu pergunto! por que essa diretoria não entrega o cargo?.
Diretoria incompetente, afundaram o Gama, e não é culpa da pandemia não, porque todos os times estão passando por isso, a culpa é mesmo desses incompetentes que estão à frente do maior do DF. Fora incompetentes, quem não tem competência não se estabelece!!!!!