Na tarde desta terça-feira (8/10), a Comissão Parlamentar de Inquérito da Manipulação de Resultados no Senado Federal ouviu dois depoimentos sobre o caso envolvendo o Santa Maria, que foi denunciado pelo Gaeco ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios sobre alguns indícios de manipulação de resultados no Campeonato Candango 2024. O clube acabou sendo denunciado em março da atual temporada, após ser rebaixado na principal competição futebolística da capital federal.
O primeiro a ser ouvido foi o réu William Rogatto, que assumiu ter agido nos 26 estados e Distrito Federal. Logo após foi a vez de Dayana Nunes, presidente do Santa Maria. William esteve à frente do Santinha em 2024, após convencer a gestora principal a ser um dos investidores do clube. Ele era responsável pela contratação de jogadores e ainda atuava como dirigente da Águia Grená.
Durante o depoimento, William Rogatto pediu desculpas para a presidente do Santa Maria. “Estou aqui para pedir desculpa para a presidente do Santa Maria e ao marido dela, que tem um problema de saúde gravíssimo. Eu enganei a presidente (Dayane Nunes). Perdão por ter enganado ela, mas era o meu trabalho. Eu sempre enganei os presidentes”, comentou o réu.
Ele também disse que dava dignidade para os atletas. “Eu sou a máquina que está oferecendo dinheiro mais fácil para o atleta e dando dignidade para o cara dar de comer à família dele. Será que eu sou tão errado assim? Fui um dos maiores. Se não o maior, um dos mais organizados. Eu já trabalhei e operei nas 26 unidades da federação e no Distrito Federal. Inclusive, no DF, foi onde eu bati de frente com um cara muito forte. Aí, a gente vai naquela luta de poder. Eu perdi e fiquei exposto”.
William ainda comentou que sempre enganou diversos presidentes de clubes e rebaixou muitos times, além de ter “comprado” representantes de federações, árbitros e jogadores. Logo depois foi a vez de Dayana Nunes ser ouvida pela CPI da Manipulação de Resultados. Ela comentou sobre o pedido de desculpas do réu. “Escutei o relato do William. Ele sorriu, disse que era o “rei do rebaixamento”, me pediu desculpa, mas isso não vai fazer o Santa Maria estar na primeira divisão de novo”, iniciou.
“Para subir esse time, é muito dinheiro. Sei que é praticamente impossível conseguir isso em 2025. Minha maior dor é saber que ele não se compadeceu de uma pessoa que está em uma cama, uma mulher tentando levar uma vida normal. Eu não tinha escolha de ser só esposa naquele momento. Nunca peguei um real do Willian”. A presidente do Santa Maria deixou claro na chegada do dirigente que o clube não tinha dinheiro, então William, que tinha interesse também na compra do clube, fez uma proposta para ela.
“Ele não queria vir simplesmente fazer o nome do time. Queria que, se eu fosse vender o Santa Maria, ele seria o primeiro da lista. Falei que isso poderia até acontecer, se eu fosse vender, mas não tinha interesse. Como o Erivaldo estava em coma, eu não iria fazer isso. Seria uma espécie de traição, mas eu poderia passar para ele tocar em 2024. Ele podia utilizar o patrocínio do BRB. Ele disse que o valor era um lanche e que ele abriria a mão. A proposta dele foi tocar, mas se ele ganhasse a vaga na Copa do Brasil, os R$ 700 mil eram dele. Falei que tudo bem. Nunca ganhamos dinheiro com futebol em Brasília”.
Com William tocando a temporada 2024 da Águia Grená, Dayana ficou como espectadora. Segundo a presidente, ela tinha medo do Santa Maria ser rebaixado, o que já havia acontecido em anos anteriores. Tomando conta do futebol do Santinha por muitos anos, por conta do afastamento do marido dela, a gestora acreditou que o clube faria uma boa campanha no Campeonato Candango, e que o triunfo na estreia da competição local a deixou tranquila.
“A vitória na estreia do Candangão contra o Samambaia me deixou tranquila. Vendo hoje, essa vitória foi a forma deles passarem um mel na minha boca. Achava que o time estava forte e ia chegar onde eu sonhava. Meu interesse era manter (o clube) na primeira divisão. O time é o único patrimônio meu e do meu marido. Eu não conseguia ver malícia”, disse Dayana. Ela também comentou que William Rogatto aceitou trabalhar com o técnico Christian Ramos, mas antes do Candangão demitiu o profissional.
Clique e saiba mais
- Segundinha: FFDF divulga detalhes dos jogos de ida da semifinal
- CBF divulga preços dos ingressos da Seleção Brasileira em Brasília
- Medalhistas olímpicos participarão da abertura do JUBs em Brasília
A presidente deixou claro que só percebeu algo de errado após a 4ª rodada do Campeonato Candango. Na ocasião, o Santa Maria foi goleado pelo Ceilândia no Estádio Abadião por 6 a 0. Anteriormente, o Santinha havia somado uma vitória e duas derrotas. Os revezes foram diante de Ceilandense e Brasiliense, por 2 a 0 e 1 a 0, respectivamente. Mesmo com as dificuldades nos últimos anos, Dayana Nunes achou que 2024 seria um ano muito tranquilo com a chegada de William Rogatto no clube.
“As contas estavam pagas. Nos últimos 14 anos foi difícil manter a folha salarial. Desta vez, estava tudo tranquilo. Os jogadores estavam bem. Comecei a perceber algo errado quando perdemos para o Ceilândia. O jogo com o Real Brasília foi a gota d’água para mim. Larguei tudo e não conseguia entender como alguém faz esse mal ao outro. Sempre tratei o William muito bem. Abri o meu coração. Ele pegou tudo isso e viu a vulnerabilidade. Eu não tinha apoio nem dele, nem na Federação e nem de ninguém. Eu estava sozinha”, encerrou a presidente.
A partida diante do Real Brasília foi na sétima rodada da primeira fase do Candangão. O Leão do Planalto acabou vencendo o Santa Maria por 1 a 0, no Estádio Defelê. Com o revés, o Santinha precisava de um milagre nas duas últimas rodadas para se manter na primeira divisão. E não foi o que aconteceu. Durante toda a competição, o clube foi goleado quatro vezes, com os seguintes resultados: Ceilândia 6×0 Santa Maria, Santa Maria 0x5 Gama, Santa Maria 0x4 Planaltina e Capital 7×1 Santa Maria.
Entenda o caso do Santa Maria
Em março de 2024, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) cumpriu um mandado de busca e apreensão contra dois jogadores do Santa Maria sob a suspeita de envolvimento na adulteração dos placares de partidas do clube em 2024. De acordo com o MPDFT, os principais alvos da Operação Fim de Jogo são o zagueiro Alexandre Batista Damasceno e o lateral Nathan Henrique Gama da Silva.
As diligências apontam atuação dos jogadores na manipulação de, pelo menos, duas partidas. As goleadas sofridas pelo Santa Maria para o Ceilândia, por 6 a 0, e para o Gama, por 5 a 0, são os confrontos apontados pelas autoridades. O Gaeco apura, ainda, informações sobre o envolvimento de William Pereira Rogatto. O empresário seria um dos investidores do Santa Maria e teria colocado jogadores no clube para a disputa do Candangão 2024.
Como mora na Europa, o mandado de busca e apreensão contra ele não foi cumprido. O gestor teria relação com um caso de manipulação ocorrido na Série A3 do Campeonato Paulista. “No mínimo dois jogos foram criminosamente manipulados para fraudar apostas eletrônicas e as provas demonstram que os apostadores tinham conhecimento antecipado do resultado das partidas. As investigações apontaram o envolvimento imediato dos atletas com os resultados forjados”, diz comunicado divulgado pelo MPDFT. Os jogadores podem responder pelos crimes de corrupção passiva esportiva, fraude em evento esportivo, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Nesse antro de corrupção a grande vítima foi o pobre Santa Maria. Além de rebaixado, o clube teve o seu nome envolvido nessa masmorra de degeneração moral nacionalmente. Vamos aguardar o fim das investigações, porque tem mais gente que atua no futebol candango envolvido nessa fraude.