Por Bruno H. de Moura e João Marcelo
Em quase duas horas de conversa ele falou sobre tudo. Sem papas na língua, sem medo de criticar e expor sua opinião, foi para cima da imprensa, explicou a celeuma envolvendo a disputa do Campeonato Candango de 2020 e a parceria com o Grêmio Barueri, contou seu descontentamento com a Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF) não poupou alguns “personagens” do esporte de Brasília, reclamou da falta de plano de gestão do GDF para o esporte, prometeu quitar todas as dívidas do Ceilândia e relembrou velhos desafetos, chegando a falar que quer ficar cara a cara com Weber Magalhães, atual presidente da Sociedade Esporte do Gama.
Ari de Almeida, 46 anos e mais de 22 no meio da política esportiva do DF abriu o jogo em entrevista exclusiva ao Podcast do Distrito do Esporte. O presidente do Ceilândia Esporte Clube conversou, no CT do Gato, em Brazlândia, com os jornalistas Bruno Henrique de Moura e João Marcelo. É a primeira entrevista do mandatário após o Ceilândia apresentar elenco para o Campeonato Candango 2020.
Em função do tamanho da entrevista, ela será publicada em duas partes no Podcast do Distrito do Esporte, sem cortes ou edição da conversa. O podcast, que tem periodicidade quinzenal, pretende gravar com os citados por Ari de Almeida. Além do site, o conteúdo também pode ser ouvido na íntegra através das plataformas de streaming Spotify e Deezer.
Leia alguns trechos da primeira parte da entrevista. Haverá outra reportagem destacando os assuntos abordados na continuação:
Sobre a imprensa do DF:
- Eu tenho dificuldade de me comunicar com alguém que eu sei que está torcendo contra meu time. A imprensa tem de se comportar, cara, como um dos meios que pode levar o nosso futebol à frente. Ela não se comporta dessa maneira. Ou ela faz para ela, para o ego dela, ou ela faz a mando de alguém.
- Uma das confusões que eu tive com o Distrito do Esporte é justamente essa. o quê que essa matéria colabora? ‘mas eu vou mostrar de todo mundo’, mas colabora com o quê? Acho que a imprensa tem um papel fundamental, mas ela tem de ser propositiva, a imprensa não propõe. Então ela está ali para fazer o quê? Foi gol não foi, se não é gol não é. E aí? Como que vai fazer para ser gol?
- A imprensa em sua grande maioria só tem um papo com a federação (de futebol do DF). Como você pode nos apoiar? É isso. Mais nada.
A respeito da situação do Ceilândia:
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- Ceilândia tem hoje um passivo de um milhão de reais. São dívidas trabalhistas, dívidas acordadas, com alguns funcionários em geral, seja atletas, seja funcionários, dívidas com fornecedores. Ele é pagável, porque estou trabalhando para pagar e vou pagar. Eu não entro 21 (2021) devendo. Então aqueles credores que estão ouvindo podem ter certeza que esse ano vamos solucionar os problemas.
- O Ceilândia não ia disputar o campeonato. Não é vontade minha disputar o Candangão. Por que eu vou disputar o Candangão? Qual o motivo. ‘Ah Ari, mas o Ceilândia não é seu’. Não é meu, tanto que o conselho geral e o conselho deliberativo falou ‘oh, a decisão que vocês tomarem a gente acata’. Sabe porque? Porque tem de ter responsabilidade, tem de ter respeito.
- Se eu não tivesse disputado a série D de 2018 eu não tinha dívida hoje. Estava tranquilo. Zerou o caixa do Ceilândia 2018.
- Disputar a série D por quem não tem estrutura de subir é horrível. E agora não, mas você disputar a série C era pior ainda. Você fazia 18 jogos só da fase classificatória, sem nada. Agora você tem três milhões de cota para cada time. Porque vários clubes sobem da C para D e caem? Porque não conseguem.
- Por que eu não queria disputar. Porque não tem o porquê de disputar, gente. Eu ia aumentar a dívida do Ceilândia sem ter como pagar. Eu devo um milhão de reais e tá previsto eu pagar um milhão de reais. Não posso fazer igual uns aí que vai fuder, desculpa o termo, com os clubes que estão presidindo e vão embora. Não posso fazer isso.
- Os termos da parceria são bem lícitos e claros. O Barueri faz toda a gerência do futebol profissional e são deles todas as decisões. Eu sou da filosofia de que quem paga é quem manda.
Sobre futebol no DF:
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- O Distrito Federal é o estado que mais atrai picaretas do futebol no Brasil. To falando que nossos dirigentes aqui são picaretas não. Mas é o que mais atrai, sabe por que? Porque eu vivi isso. Eu conversei com umas 20 pessoas depois que eu anunciei que não iria disputar, umas 20. Meu irmão, aparece muita história, oferecendo aporte financeiro. Não é bonito, é isso, é isso. Então vamos, tá aqui a conta, deposita um caução. ‘ah, não tem’, então você não vem com esse papo.
- O Ceilândia só está disputando depois de uma longa conversa que teve com o Grêmio Barueri, onde o Henrique Barbosa nos convenceu de que seria uma boa parceria.
- O que nos deixa triste, e a federação não tem como dizer que não, é que a federação trabalhou para resolver os problemas de todos os outros times, menos do Ceilândia. A federação trabalhou para resolver o problema do próprio Luziânia, e eu acho que está resolvendo. Não só levou o Bruno que era da categoria de base do Brasília e da Aruc para lá, como algumas contratações que estão chegando lá me estranha muito.
- Os mandatários do Sobradinho estiveram comigo aonde vocês estão aí. E nos fechamos, dias depois uma outra situação, o Tulio. Aí você descobre que não é o Tulio. Ficou bem avançado que os mandatários do Sobradinho hoje iriam tocar o Ceilândia. Homero, junto do Marcelo que estão lá hoje. Então de uma hora para outra mudou tudo. Então a federação se preocupou com outros clubes, com o Ceilândia nada.
Sobre a FFDF:
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- Nós estamos a cinco dias da estreia do campeonato? Quantos estádios estão prontos? Então essa semana eu tive uma reunião na administração que o representante da federação falou sabe o quê? olha os estádio de Brasília são pífios, não tem estrutura. Aí o presidente falou Vocês recebem 100 mil da CBF por mês, mas 5% dos jogos. Quanto é que vocês vão investir no estádio? Sabe, porra.
- O governo não é funcionário da federação. A federação tem de dialogar com o governo e levar as propostas para o governo e desenvolver o futebol. Não é só chegar lá e dizer que precisa dos estádios e do dinheiro do BRB não, meu irmão.
- O campeonato (candango) está inchado. O primeiro ponto é esse, diminuir o número de participantes da série A, para 8. O campeonato com 12 não interessa a ninguém. Eu não acredito que a federação vai chamar esse debate, eu não acredito, então a gente vai continuar sofrendo com 12.