Por João Marcelo Pepi e Lucas Espíndola*
A temporada 2023 iniciou de forma midiática para o Brasília com anúncios de craques dentro e fora de campo, elenco forte e promessa de ascensão no cenário nacional. Porém, nos primeiros dois meses do ano, dívidas, desligamentos, problemas internos e resultados negativos ditam o tom do Colorado. Com exclusividade, o Distrito do Esporte ouviu funcionários do clube, que relataram as dificuldades no dia a dia da equipe. O presidente do Brasília, Flávio Simão, respondeu aos questionamentos feitos por nossa reportagem.
O Campeonato Candango 2023 começou muito bem para o Brasília. Jogando no Estádio Serejão, a equipe conseguiu virar sobre o Leão do Planalto e saiu com os três pontos. Depois disso, o clube acumulou três reveses consecutivos, chegou à última colocação e, então, demitiu o treinador da equipe, Ricardo Antônio. Após a saída do dono da prancheta, as problemáticas apareceram no clube e então mais quatro desligamentos aconteceram: Philyppe Réquia (diretor-executivo), Felipe Sitônio (executivo de futebol), Alex Silva (coordenador técnico) – retornou como treinador – e Luis Carlos Carioca (técnico).
Desacordos com técnicos
O ex-técnico Ricardo Antônio e seu auxiliar, Adriano Ferreira, não receberam seus salários desde que chegaram ao Brasília. Outros profissionais que compõem a comissão também estão com os salários atrasados. Além disso, Ricardo Antônio passou por situações bastante constrangedoras. O ex-treinador do Colorado pagou do próprio bolso a taxa de transferência no Boletim Informativo Diário (BID) da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Em um dos treinamentos no clube dos Bombeiros, Ricardo teve que pagar o gelo, pois o clube não havia comprado.
Após a saída de Ricardo Antônio, o Brasília anunciou Luis Carlos Carioca para o comando técnico da equipe. Porém, menos de uma semana depois, o novo treinador foi desligado em comum acordo. Carioca, em conversa com o Flávio Simão, ouviu do mandatário que as promessas feitas não poderiam ser cumpridas. Este fato culminou na saída do técnico. Para seu lugar, o clube acertou com o ex-coordenador técnico da equipe, Alex Silva.
Promessas não cumpridas com clube, hotel e restaurante
Segundo funcionários, outro problema enfrentado pelo time vermelho foi o da expulsão da Academia dos Bombeiros, localizado na Asa Sul, onde estavam se preparando para os jogos do Candangão. O despejo do centro de treinamento se deu após o clube prometer que faria melhorias no local em troca dos jogadores poderem treinar no espaço. Porém, o combinado com a corporação não foi cumprido. Depois disso, o Brasília se mudou para o Clube da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no Setor de Clubes Sul.
O clube é itinerante em vários restaurantes da capital federal. O presidente Flávio Simão acorda com os estabelecimentos, os alimentos são fornecidos, mas na hora do pagamento por parte da presidência, o trato não é cumprido. Assim, o mandatário busca outros lugares para dar as refeições aos atletas. Em um determinado momento, o responsável por um desses locais informou que caso Flávio não efetuasse o valor devido, os jogadores não jantariam.
Funcionários relatam que como não tem um lugar pré-estabelecido para os jogadores realizarem suas refeições, a alimentação dos profissionais acaba não sendo balanceada. “O almoço dos atletas é naqueles lugares de PF (prato feito) de 12 reais”, detalhou um deles. “Além disso, tem dias que o café da manhã é só pão, o que já foi reclamado pelos jogadores à diretoria”, completou.
A reclamação se estende aos locais de descanso dos atletas. Em um hotel da região de Taguatinga, os jogadores não puderam acessar o estabelecimento. Após chegarem de Goiânia, o hotel barrou e só liberou os jogadores para subirem nos quartos após pagamento do que o clube já devia para o dono do local. Um novo acordo foi feito e a entrada foi liberada.
As denúncias não são novidades no Brasília. Em outubro do ano passado, o Distrito do Esporte detalhou as dívidas do clube com atletas, comissão técnica, hotel e restaurantes. Um deles, o quiosque Sabor do Sul, informou que uma hora após a publicação da matéria, Flávio Simão transferiu cinco mil reais. Três meses depois, mais mil reais foram depositados. Ainda restam cerca de dez mil reais, mas o proprietário do local, Jair Titton, disse que o mandatário não responde, mais uma vez, suas ligações e procuras.
Uns recebem, outros não
A reportagem do Distrito do Esporte apurou que os salários dos jogadores estão em dia, e eles não estão sendo prejudicados por todo esse momento turbulento que o Brasília passa. Porém, outros profissionais estão sem receber seus vencimentos. Além de Ricardo Antônio e Adriano Ferreira, outros funcionários do Colorado nada receberam do clube. O executivo de futebol, Felipe Sitônio, é um dos sem salários. O dirigente e demais funcionários confirmaram ao DDE os débitos.
Procurados pela reportagem do DDE, o ex-coordenador técnico e agora técnico, Alex Silva, não quis responder aos questionamentos e Philyppe Réquia disse que a saída foi para focar em seus projetos pessoais. “Me retirei do processo para reassumir os meus negócios e as minhas empresas. Estou totalmente focado nisso”, explicou o ex-diretor-executivo do Brasília.
Mais dívidas?
Em janeiro deste ano, o Colorado anunciou Ricardo Oliveira, atacante de 42 anos. A contratação de impacto deixou o Brasília em evidência, mas preocupou a cúpula colorada devido aos valores. O centroavante chegou ao Distrito Federal para ganhar quase três vezes mais que em seu último clube, o Athletic-MG. A diretoria entendia que a vinda do atacante era benéfica para o clube devido à exposição da marca Brasília Futebol Clube pelo nome Ricardo Oliveira, mas os altos valores negociados por Flávio Simão deixara a dúvida sobre conseguir cumprir o acordado.
Resposta do presidente
O Distrito do Esporte entrou em contato com o presidente da equipe e questionou todos os assuntos abordados. “O momento agora é de agir e arrumar a casa diante de tantas adversidades que me esbarrei e que vou trabalhar para organizar a casa e que o clube volte a vencer”, respondeu Flávio Simão. “Muita coisa aconteceu desde o começo do campeonato. Tiraram o estádio (Arena BRB Mané Garrincha) da gente e com isso, caiu meus patrocinadores e foi virando uma bola de neve”, explicou.
Flávio alegou que os placares adversos foram uma das dificuldades. “O time não estava tendo resultados e eu fui perdendo credibilidade no mercado”. O mandatário falou sobre os funcionários que foram desligados. Segundo o presidente, a questão financeira não foi o único motivo. “Algumas pessoas que estavam no clube também não deram resultados e saíram, não foram só por questão financeira, saíram porque não estavam competentes para fazer o trabalho deles”, detalhou.
Quanto ao contrato de Ricardo Oliveira, o presidente preferiu não expor. “Os valores do Ricardo são confidenciais, não podemos divulgar o que foi combinado”, explicou. Simão firmou seu compromisso com o Brasília. “Dar continuidade no futebol, retomar a nossa credibilidade e buscar recursos para honrar os compromissos”. O dirigente ainda comentou sobre como planeja mudar o panorama. “Única forma é mostrar dentro e fora de campo. Resultado no jogo e pagar quem tem que receber”, finalizou.
*Colaborou Bruno H. de Moura