Por Bruno H. de Moura
Na primeira entrevista após sua demissão do comando do Universo/Brasília, o treinador André Germano defendeu o trabalho que estava sendo feito, disse acreditar que o time está mais maduro do que na temporada passada, afirmou que o ambiente de trabalho com os atletas era o melhor possível, arguiu que o Torneio Interligas era um preparatório e não havia como meta a vitória da competição e negou que tenha dado qualquer sinalização de não querer ficar no clube.
Aos 46 anos, o treinador que fez carreira nas seleções brasileiras de base e também como auxiliar no Bauru, afirma que todo o plantel do Universo/Brasília o procurou e demonstrou apoio após sua saída do clube. “Todos eles me mandando mensagem ou me ligando.”
André Germano conversou com exclusividade com a reportagem do Distrito do Esporte dez dias após o anúncio de sua demissão pela diretoria do Brasília. Segundo o profissional, não havia sinalização da sua parte de que poderia sair da equipe e tanto o trabalho quanto o ambiente interno eram dos mais favoráveis.
Segundo Germano, a direção do clube chamou todos os jogadores e o treinador propondo mudanças administrativas no contrato, mas ele nunca disse que sairia. “[eu] não tinha interesse nenhum de sair do time, apenas pedi um tempo para eu me organizar dentro da minha realidade, da minha situação aqui em Brasília, familiar, tudo para eu permanecer trabalhando”, afirmou à reportagem.
O gerente da equipe, Bernardo Bessa, afirmou em entrevista ao Correio Braziliense que o treinador “em um primeiro momento, havia definido que sairia. No segundo, ele tentou viabilizar a permanência, mas, no meio do caminho, acabamos tomando a decisão baseado na primeira resposta dele, de que ficaria impossível para ele continuar em Brasília com as novas condições que a gente colocou”. A reportagem do Distrito do Esporte procurou a assessoria do clube para manifestação. Quando for feito, essa reportagem será atualizada.
André defendeu o time e o potencial da equipe para essa temporada, segundo o treinador o Brasília tem capacidade de estar entre os seis melhores da competição. Confidenciou que quer permanecer em Brasília em algum projeto de basquete é que a cidade tem todo o potencial para ser a capital nacional da modalidade.
Confira a entrevista, realizada na manhã desta quarta-feira (16/10), em uma cafeteria de Brasília.
Distrito do Esporte: Gostaria que você explicasse como foi essa passagem pelo Universo/Brasília:
André Germano: Eu cheguei ano passado com o objetivo de um projeto de dois anos. A gente sabia que teríamos um primeiro ano muito difícil por vários motivos. A equipe se apresentou um pouco mais tarde, foi a última equipe a começar o trabalho, estrangeiro chegando às vésperas do primeiro confronto. Fizemos um primeiro turno abaixo do que a gente queria, mas também assim sabendo de toda a dificuldade que poderia levar ao primeiro turno do ano passado. O segundo turno foi muito melhor, sete vitórias. A equipe cresceu muito no aspecto defensivo e no coletivo.
Alguns jogadores cresceram muito durante a temporada. Mesmo com toda a dificuldade, em relação as situações administrativas que o time teve ano passado, conseguiu ter força, ter uma pegada grande para entrar no playoffs competitivo, perdendo para o Corinthians dentro da quadra, mas jogando muito bem aqui. O segundo jogo lá foi definido com situações de jogo que poderiam ser a nosso favor ou contra. Entramos no playoffs num nível competitivo muito bom.
DDE: Como você enxerga a importância da temporada passada para o início desta?
A.G: Ano passado era a volta do projeto, sabíamos da dificuldade, e era uma preparação para essa temporada. Tanto que a diretoria me manteve na função. Não houve nenhuma reclamação da diretoria em relação a resultados. Muito pé no chão, mesmo com todas as situações, que a equipe tinha feito um segundo turno muito bom e vinha evoluindo.
Mantivemos oito jogadores, porque a gente acreditava nesse processo de continuidade. Perdemos alguns nesse caminho, mas sabíamos que no elenco, esses jogadores que estiveram no ano passado, com as contratações deste ano, Bruno Fiorotto, Gui que vão ajudar em algumas situações, mas jogadores que estão em desenvolvimento ainda em Brasília, com jogadores experientes que vão trazer experiência para o time, dominam bem a bola. Inteligentes para jogar. Então, assim, com essas situações a gente teria uma liga esse ano muito melhor do que o ano passado.
DDE: E o papel do Torneio Interligas?
A.G: Nós fizemos toda essa pré-temporada, começamos em 05 de agosto, um mês antes do que o ano passado. Usamos a Interligas para a preparação do time, isso era muito consciente internamente.
DDE: Havia uma consciência interna da diretoria do time, dos atletas e da comissão técnica de que o papel do Interligas era meramente preparatório?
A.G: Tudo sempre foi muito bem conversado e planejado. É claro que você vai para um torneio querendo ganhar, ser competitivo. Mas a gente não queria abrir mão de alguns fatores da preparação do time pensando em ganhar o Interligas e não usar o Interligas como uma preparação para o NBB.
São três jogos de alto nível, bom para equipes que já tinham iniciado uma preparação. Pato Branco treinando um mês antes. Foi o que eu passei para a diretoria, se nós vamos para o Interligas de uma forma competitiva, [temos de] voltar a treinar – que era a minha sugestão – em julho, para você ter pelo menos seis semanas de preparação, para você entrar no Interligas com um nível físico e de visão de jogo consistente com um torneio desse nível.
Equipes de excelente nível, excelente qualidade, então a gente montou bem a preparação, e a sequencia de treinamento do dia-a-dia e que a gente foi introduzindo no trabalho, estava sendo feito de uma forma muito tranquila.
DDE: E como estava a relação interno dentro do grupo?
A.G: A relação com os jogadores era espetacular, não tenho o que reclamar, apenas elogiar a postura dos jogadores, muito bem conscientes da função dentro do grupo, muito profissionais, treinam de uma forma intensa, são jogadores que estão se preparando para fazer um bom NBB. Para eles profissionalmente vai ser um salto muito bom para cada um, então vinha sendo de uma forma muito tranquila e consciente daquilo que o time tinha para poder ser competitivo.
Brasília é uma cidade que exige. Tem uma torcida que gosta, que exige, que apoia muito a equipe e eleva o nível de exigência que ela tem. Então tudo estava caminhando para um início de temporada bom, para a gente fazer uma temporada boa esse ano que é o que estava programado.
DDE: O que que aconteceu, o que você pode esclarecer sobre a sua saída?
A.G: Uma semana antes da minha saída, da minha demissão, eu estava na reunião da liga nacional, a diretoria chamou os jogadores individualmente para conversar.
DDE: Aqui em Brasília ou em São Paulo?
A.G: Eu estava em São Paulo. Aí eles me chamaram – depois que voltei de São Paulo – e colocaram algumas situações administrativas, que precisavam fazer alguns ajustes. O que foi colocado para mim na minha situação e sei que foi colocado para alguns jogadores também, e colocado para todos qual era a situação, e eu pedi um período para eu poder me organizar. Não tinha interesse nenhum de sair do time, apenas pedi um tempo para eu me organizar dentro da minha realidade, da minha situação aqui em Brasília, familiar, tudo para eu permanecer trabalhando.
E dentro desse período que eu pedi para eles houve outras situações com a diretoria, que eu acho que não é o momento de colocar, e que eu não participei diretamente, mas acho que já deixou para a diretoria uma decisão de me demitirem.
DDE: Só para deixar bem claro, você nunca pediu para sair, ou sinalizou que queria sair, do Universo/Brasília?
A.G: Não, muito pelo contrário. Eu estava criando situações para ficar em Brasília. Eu sei que esse segundo ano de projeto vai ser um ano de evolução, de tudo, em termos de resultado, do projeto. Sabia da importância da minha permanência profissionalmente para mim e também para o time, da continuidade. Então eu estava me ajustando para poder dar continuidade. Tanto é que minha demissão foi unilateral, deles para mim. Não foi pedida por mim.
DDE: Você teve retorno dos atletas após sua saída?
A.G: O retorno dos jogadores para mim da minha saída foi unânime. Muito positivo. Todos eles me mandando mensagem, me ligando. Porque eu fui pego de surpresa no dia e eles também, porque foi trinta minutos antes de começar o treino [na segunda dia 07/10], eu esperei eles chegarem, expus a situação diretamente para eles, como foi feito durante todo o nosso trabalho.
O trabalho com esse grupo sempre foi feito de uma forma muito direta, clara. Muito respeito da comissão, da minha parte, nunca expus jogadores em entrevista, dentro da quadra, dentro de jogo de TV. É uma coisa nossa, de vestiário e direto, olho no olho e eles entendem muito bem isso. Nosso trabalho foi muito voltado para a evolução profissional. Não só no aspecto técnico e tático, mas na postura deles, na liderança, aquele trabalho silencioso que a gente vê e sabe que tá fazendo e eles compraram bem a ideia.
Então quando teve essa situação todos eles, o retorno deles comigo foi muito positivo, mas tem de tocar a bola para frente. Já começou o NBB, tem de seguir o projeto, Brasília é uma cidade que abraça o basquete, então essa exigência de uma boa temporada é uma coisa que está dentro do time, o time tem esse peso, sabe do peso disso, a camisa de Brasília é pesada. Quando eu vim para Brasília eu tinha total consciência disso. A gente foi desenvolvendo esse projeto de uma forma muito positiva.
A gente tem uma relação com os jogadores de respeito, de comprometimento, que é uma palavra que eu usava bastante, foi nota mil. São jogadores que eu só tenho a agradecer a postura deles dentro do projeto e fez com que nosso time crescesse do ano passado para esse e foi sem dúvida o time que mais cresceu no segundo turno, não só em resultado, mas como grupo e como time e com certeza esse ano vai ter resultado disso.
DDE: A expectativa é que o time termine entre os 6 primeiros do campeonato?
A.G: Nosso objetivo era esse. Era brigar entre os 6 primeiros, brigar por um playoffs chegando bem, com um mando de quadra nosso, e a gente entrando de forma competitiva, de igual para igual. Vai ser um NBB forte e duro, a liga nacional cresce a cada ano, a exigência é maior, no aspecto técnico, de estrutura. O time está estreando hoje e tem grandes condições de chegar firme, chegar duro, mesmo o Botafogo tendo uma vitória importante contra o Minas e contra o Flamengo brigar pela vitória, então minha torcida hoje é para isso porque esses jogadores são merecedores de resultado.
DDE: E o André Germano agora?
A.G: A primeira situação foi de sentar, pensar, falar com a família. Reorganizar meu projeto. Eu tinha contrato até 31 de agosto de 2020. Não queria sair de Brasília, não quero sair de Brasília, minha família está se adaptando, a gente gosta da cidade e gostaria de permanecer aqui.
A gente tem uma situação, outros projetos em Brasília que podem acontecer. É uma cidade que respira basquete, quer ser a capital do basquete e está projetando isso, tanto no aspecto político, porque o governador colocou um projeto com o BRB apoiando, que tem esse DNA dentro do basquete. Então, juntando isso, projetos dentro da cidade, de base, uma federação muito ativa que trabalha com projeto de base, dar esse impulso da base, Brasília sempre formou muitos jogadores. Então você tem a cidade que respira a modalidade.
Então eu queria permanecer porque eu sei que a cidade tem esse projeto, tem a perspectiva de se transformar na capital do basquete e qual é o profissional que não gostaria de estar fazendo parte disso?
Acho que tenho muito a contribuir com isso, experiencia de seleção brasileira, de Bauru. Então a gente pode contribuir em vários aspectos, dentro da quadra e também na estruturação do projeto que a gente espera.
O Universo/Brasília estreia nesta quarta-feira (16/10) às 20 horas no Ginásio da Asceb contra o Botafogo-RJ pela primeira rodada do NBB 12. A partida terá cobertura do Distrito do Esporte.