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terça-feira, 26 de novembro de 2024

Atual gestor do Ceilândia acumula polêmicas pelo Brasil a fora

Reportagem do Distrito do Esporte revela quem é Henrique da Costa Barbosa no futebol do interior do país. Gestor vem tendo conturbadas atuações desde 2012.

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Por Bruno H. de Moura*

matéria atualizada às 18:50 de 02/02/2020

O Ceilândia Esporte Clube estava a um passo de não disputar o Campeonato Candango de 2020. Atolado em dívidas trabalhistas e com problemas de ordem financeira, o conselho deliberativo do time concedeu à direção do clube a decisão de entrar em campo no torneio local, ou não.

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O desejo do presidente da agremiação, Ari de Almeida, era tirar o ano de 2020 apenas para a solução das dívidas que beiram à casa do R$ 1 milhão, conforme o mandatário do Gato Preto disse em entrevista ao Podcast do Distrito do Esporte. Mas a pressão dentro do alvinegro e a importância do torneio fizeram, aos 44 do segundo tempo, o Ceilândia fechar uma parceria com um grupo de investidores que gere o Grêmio Barueri, time paulista.

A parceria foi fechada com o empresário Henrique Barbosa. Ou seria, Rique Barbosa? Ou Henrique Sorocaba?

Figura controversa no futebol interiorano

Henrique Barbosa procurou o Ceilândia e propôs termos favoráveis ao time da maior cidade do Distrito Federal. A responsabilidade de montar e pagar as categorias profissional e sub-20 ficariam a cargo do grupo empresarial paulista, enquanto a relação com a Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF) e com os demais clubes seria da atual diretoria do time.

Tudo muito bom, tudo muito certo. O mandatário prometeu construir um elenco, trazer jogadores, comissão técnica, profissionais de dentro e fora de campo. Até mesmo um hipnólogo foi contratado. Todo o gasto seria de Henrique e de sua empresa de gestão esportiva. A contrapartida? Visibilidade e ganho com venda de jogadores para times mais estruturados.

Mas a experiência no Ceilândia não é inédita na carreira de Henrique Barbosa. O empresário deixou um rastro nada agradável por vários times, especialmente antes de 2017, além de acumular processos trabalhistas.

Ida ao Lemense não durou 2 meses

Em 2012, um grupo de gestão esportiva abordou a então diretoria do Lemense, time que disputava a Segunda Divisão do futebol paulista, equivalente a quarta divisão local, prometendo gerir todo o futebol da agremiação e arcar com as despesas do clube.

Porém, menos de dois meses após assumir o futebol, contratar jogadores e levar técnico, Henrique e a presidência do clube encerraram a parceria. Em quatro jogos, foram três derrotas e apenas uma vitória. No ano seguinte, o time, desestruturado, se licenciou do futebol paulista.

De São Paulo a Rondônia

No ano seguinte, foi a vez do empresário viajar o país. Saiu de SP e foi parar no Vilhena, de Rondônia. Por lá, a alcunha não era mais Barbosa, mas sim Sorocaba. O tempo de estadia? Os mesmos dois meses.

Porém, em terras nortistas, o dirigente chegou causando muito mais. Com promessas de acabar com a crise financeira da equipe, anunciou até mesmo negociações com Túlio Maravilha, que buscava marcar seu milésimo gol. Na época, o jogador ídolo do Botafogo negou qualquer contato com Henrique, dizendo que sequer o conhecia, ou com outro representante do Vilhena.

De Rondônia ao Mato-Grosso do Sul

No mesmo ano, mas dessa vez no segundo semestre, Henrique Barbosa foi para o Centro do país. Anunciado como treinador do União Inter Flórida, o profissional, dessa vez, pegou a prancheta e boné de treinador de campo do time sul-mato-grossense, que disputava a segunda divisão local. A campanha durou três jogos, duas derrotas e um empate.

Na época, o profissional, em entrevista a um portal local, afirmou que “infelizmente o que a diretoria do clube havia nos prometido na pré-temporada não foi concretizado. A captação de recursos foi baixa e não conseguimos montar o elenco ideal. Eu também senti uma certa resistência por parte dos dirigentes que me queriam apenas como parceiro, e não como treinador. Havia muita vaidade por parte de alguns atletas da casa. A diretoria nunca apoiou a ideia de eu ser (sic) o treinador. Principalmente o Jânio [Miguel, presidente], que sempre quis o cargo para ele”, disse.

O presidente do time rebateu e acusou Henrique de abandonar a equipe. “O que ele disse não condiz com a realidade, primeiramente porque cumprimos com todas as exigências que ele nos fez em relação aos alojamentos, alimentação dos jogadores e locais para treino. Quando viu que o trabalho não estava rendendo, ele simplesmente viajou para São Paulo sem dar satisfações. Dias depois descobrimos que ele não voltaria mais para dar continuidade ao trabalho. Nós fizemos um contrato e honramos com nossa parte. Ele não. Por isso, vamos acioná-lo judicialmente”, explicou o mandatário.

Ano novo, historia antiga

Em 2014, Henrique assumiu o Conilon-ES. A história parecia se repetir. No fim de 2013, o clube já anunciava que não participaria do Capixabão por problemas financeiros. Eis que aparece Henrique e a esperança ao torcedor do time do Espírito Santo retorna.

Como num início de namoro, tudo começou muito bem. O primeiro nome anunciado foi de Adãozinho, ex-atacante de São Raimundo e Palmeiras, como treinador da equipe, e até mesmo de Adriano Gabiru, que sagrou-se campeão mundial pelo Internacional em 2006.

Mas o projeto de sucesso não aguentou um jogo sequer. Após derrota na estreia, Adãozinho pediu para sair por problemas com a diretoria, especialmente com Henrique, chamado de Rique Barbosa no time.

Em entrevista ao Globo Esporte do ES na época, Adãozinho afirmou que Rique, ou Henrique, ou Sorocaba, tentava interferir no trabalho e não dava condições dignas para execução do futebol do time. “Ele me chamou para ser treinador, não para ser boneco. Cheguei lá e querem interferir muito no trabalho, tanto o Rique quanto o Marcelo, e futebol profissional não se trabalha dessa forma. (…) Os atletas concentram num posto, de calça jeans e camiseta, não podem falar com ninguém e ficar reservado, isso não existe. Nem na Seleção Brasileira existe isso”, afirmou na época.

Porém, os problemas não foram apenas com a saída de Adãozinho. A Justiça Desportiva Local puniu o time por escalar jogadores irregulares na rodada de abertura. O erro custou nove pontos no Estadual e a queda drástica para a lanterna da competição. O time não resistiu aos baques e três meses depois, com desempenho pífio, abandonou o torneio. Henrique, ou Rique, já havia saído do time. Três meses depois, já sem o gestor, que havia mais uma vez saído do cargo e abandonado o barco, a equipe pediu para sair do torneio faltando sete rodadas para o fim.

2015, Espírito Santo, São Mateus, de vice-líder, à lanterna

No ano seguinte, Rique Barbosa – ainda com a alcunha que lembra o atacante argentino – assumiu o São Mateus. O início promissor sucumbiu logo logo. O time foi punido por escalar jogadores irregularmente na primeira rodada. Na época da punição a agremiação era vice-líder e foi parar na lanterna do torneio.

Tempos, curtos, depois, jogadores e comissão técnica revelaram atraso salarial até que o treinador Antônio Lucas pegou o boné e foi embora. Cinco jogadores acompanharam a decisão do treinador tempos depois. O pagamento e a gestão dos atletas era no mesmo modelo hoje adotado no Ceilândia, Rique pagaria os salários. Em entrevista no período, o presidente do clube explicou a celeuma.

“Dei toda a estrutura de alojamento, transporte, alimentação para que ele (Rique Barbosa) trouxesse os jogadores e pagasse os seus respectivos salários. Porém, quando chegou no fim do mês, ele não pagou. Isso ocasionou a revolta dos atletas. No jogo contra o Vitória já foi meio capenga, contra o Rio Branco jogamos até bem, porque eu dei toda a renda para os jogadores substituírem o pagamento que eles não receberam. Mas, mesmo assim, os atletas receberam outras propostas de fora e eu já fiz as rescisões deles”, disse à época.

Volta ao norte em solo amazonino

Em 2016, após a passagens conturbadíssima no São Mateus, Henrique foi parar no Rio Negro do Amazonas.

As pompas eram as mesmas. Promessas sobre promessas e investimentos. Um nome de peso, para ganhar apoio da direção local, da mídia e dos torcedores foi usado, novamente, como tática. Dessa vez, o atacante Dodô, ex-Botafogo e Fluminense, foi o nome da vez para comandar o time alvinegro – tal qual o Ceilândia. Mas o namoro não durou muito.

O treinador saiu atirando. Falou que não havia nem água no treinamento, que a equipe não possuía estrutura e ainda faltavam jogadores e bolas para treinamento. “Tínhamos um problema estrutural muito forte. Na primeira semana, a gente ia treinar e não tinha nem água. A gente só tinha seis bolas para treinar. Quando eu fui convidado, eu sabia que a estrutura era básica, mas não tínhamos o básico. A gente tinha problema com campo, com transporte, com água, com suplemento, com bola… A gente não tinha jogadores”, disse à época.

O dirigente Henrique Barbosa rebateu reclamando de estrelismo de Dodô. Passou-se meses e a parceria foi desfeita. O presidente do Rio Negro, no ano seguinte, disse que “tivemos uma parceria infeliz com um grupo de fora (grupo do Henrique Barbosa) e estamos procurando um rapaz sério, um político da terra”.

Problemas na Justiça do Trabalho por vários clubes

Henrique da Costa Barbosa é sócio do Grêmio Barueri Futebol LTDA, CNPJ 10.209.830/0001-87. Inicialmente, a matéria afirmou que o empresário também era dono da empresa JK SPORTS Gestão e Marketing Esportivo – EIRELLE. A informação estava equivocada. Henrique já foi dono da Excellence Football, nome fantasia de antiga gestora de futebol que possuía. Tanto o Grêmio Barueri quanto a JK SPORTS possuem, em conjunto, diversas dívidas trabalhistas e processos correndo na justiça como polo passivo.

Em maio de 2016, quando era gestor do Rio Negro do Amazonas, Henrique da Costa Barbosa e o clube São Mateus (ES), como contamos acima, foram condenados a indenizar o meia Bruno Augusto Alves Teixeira em R$ 7,2 mil por danos morais devido a atrasos de salários e outras pendências trabalhistas. O processo ocorreu na 61ª Vara do Trabalho de São Paulo.

Em 2017, a 5ª Vara do Trabalho de Barueri condenou a empresa JK SPORTS e o Grêmio Barueri a pagarem R$ 311.331,91 por dívidas trabalhistas.

No ano de 2018, mais uma condenação trabalhista em São Paulo, dessa vez em montante que já chega, com juro e mora, a R$ 17.450,80. O jogador Kaue Gustavo Pereira de Oliveira processou a empresa JK e o time Grêmio Barueri reclamando o pagamento de valores acordados e não acertadas com o atleta. O pedido foi deferido pela 2ª Vara do Trabalho de Barueri.

Já no ano passado, o jogador Paulo Rogério Morais da Silva venceu na justiça trabalhista paulista um processo pedindo pagamento de dívidas de trabalho no montante de R$ 30.000,00.

“Passagem” pelo Vila Nova

Quando foi para a União Inter do Mato-Grosso do Sul, portais do Mato-Grosso do Sul apresentaram Henrique como jovem ex-jogador, dirigente e treinador de times, especialmente do Vila Nova de Goiás, que, no ano de 2012, disputava a segunda divisão local.

A reportagem procurou jornalista da mídia esportiva goiana e membros da direção do Vila Nova, além de funcionários antigos do clube. Nenhum deles disse lembrar que Henrique tenha passado pela equipe goiana como dirigente ou treinador.

Em contato com a reportagem, o empresário afirmou ter sido um erro do site Gazeta do MS, que divulgou a passagem do dirigente pelo time. À época, o profissional não teria procurado o site para retificar a informação.

“80% do que está aí não condiz”

A reportagem procurou o presidente do clube, Ari de Almeida, sobre as notícias aqui relatadas. Até o momento não obteve contato com o mandatário.

Tentamos entrar em contato com o número obtido de Henrique Barbosa, mas não conseguimos sucesso após a publicação da primeira versão da matéria. Na tarde de domingo (02/02), o dirigente procurou o repórter autor da matéria.

Segundo Henrique Barbosa, 80% das histórias publicadas não condizem com a verdade. O gestor irá mandar manifestação oficial esclarecendo todos os pontos. O Distrito do Esporte, como é de praxe, publicará na íntegra.

Segundo Henrique, a parceria com o Ceilândia foi fechada com o Grêmio Barueri e não com ele. “São duas pessoas diferentes, a física e a jurídica”. Segundo o empresário, ele é dono de 99% do Grêmio Barueri, mas há outros investidores por trás do projeto e, por isto, a parceria foi feita entre clubes e não com sua pessoa.

O empresário afirmou nunca ter tido relação com a JK SPORTS Gestão e Marketing Esportivo – EIRELLE e desconhecer Jackson da Silva Pereira, que consta como sócio titular da empresa no site da receita federal. O Distrito do Esporte alterou a informação inicial de que Henrique é sócio da companhia.

O empresário negou que tenha atuado no Vila Nova de Goiás e disse que houve erro na informação publicada por portal do MS. Também ponderou ser dono de outro time de futebol no Amazonas e que a equipe, Atlético Amazonense vem tem bom desempenho futebolístico e seria um projeto de sucesso, assim como o Grêmio Barueri.

Henrique disse que não entendeu o sentido da matéria e porque todos os relatos foram de passagens conturbadas, mas não citaram os bons resultados no Atlético Amazonense e no Grêmio Barueri.

O Ceilândia perdeu a segunda partida seguida na competição para o Real Brasília, na tarde de sábado (01/02), por 2-0.

*Colaborou Cristóvão Pereira

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