O cenário conturbado no Real Brasília não se resume às quatro linhas de campo. Além dos resultados ruins na Série A1 do Brasileirão Feminino e na Série D do Campeonato Brasileiro – e da eliminação precoce no campeonato local -, o time também enfrenta problemas relacionados à falta de pagamentos. A realidade, porém, não atrapalha somente os atletas do atual grupo aurianil. Ao Distrito do Esporte, ex-atletas e familiares do elenco masculino comentaram a situação.
O ano era 2023. O Real Brasília entrou no Campeonato Candango daquela temporada sem atrair muitos holofotes. Na primeira rodada, o Leão do Planalto logo foi superado pelo Brasília na primeira rodada, pelo placar de 2 a 1. Vale lembrar que o clube Colorado foi rebaixado naquele ano. Na sequência, o time aurianil se recuperou na primeira fase do certame local, terminando na primeira colocação, com 18 pontos conquistados.
A liderança na fase de grupos do Candangão deixou muita gente surpresa. Na semifinal, o Real Brasília eliminou o Paranoá e enfrentou o Brasiliense na grande final. Após um empate no placar agregado, a decisão foi para os pênaltis. Depois de vencer por 2 a 1 nas penalidades máximas, o Leão do Planalto se consagrou campeão da competição local pela primeira vez na história.
Revés nos bastidores no Real Brasília
O que ninguém esperava é que logo após o fim do campeonato e um prêmio milionário, o Real Brasília começaria a viver momentos ruins fora das quatro linhas. A diretoria do clube prometeu uma quantia como premiação para os atletas, que nunca receberam o valor cheio. Segundo um ex-atleta, foram prometidos R$ 680.000,00 (seiscentos e oitenta mil) como gratificação, mas apenas R$ 380.000,00 (trezentos e oitenta mil) foram pagos.
Depois de ficar devendo aos atletas um valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil), a diretoria do Real Brasília prometeu que quitaria o que restava quando o dinheiro da Copa do Brasil entrasse no caixa do clube. Segundo o ex-atleta, a premiação da competição nacional foi paga pela CBF, mas o time do DF não repassou o dinheiro aos jogadores. O mesmo profissional disse que em 2023 os salários já estavam atrasados para o plantel masculino, enquanto o feminino recebia normalmente.
“E agora estourou essa informação (da falta de salários) do elenco feminino. O feminino era o fera lá, elas recebiam primeiro que todo mundo. Recebiam o primeiro até do que os funcionários lá. No tempo que a gente estava jogando (em 2023), elas recebiam em dia e a gente não”, comentou o ex-jogador do Real Brasília. Segundo o mesmo atleta, o objetivo maior era garantir o título e por isso os profissionais e a comissão continuaram “fechados com a ideia”.
Outro atleta que atuou pelo Real Brasília na última temporada conversou com o DDE. Segundo o jogador, a dívida do clube com ele chega a R$ 11 mil. “O que me devem é a premiação do título conquistado ano passado, mas não me passaram nada ainda”, comentou.
O Distrito do Esporte também conversou com um profissional que foi contratado no segundo semestre da temporada passada e jogou pelo Real Brasília na atual temporada (2024). O atleta entrou em campo pelo Candangão 2024 e na Copa Verde. Já na Copa do Brasil o jogador ainda fazia parte do elenco aurianil, mas não chegou a entrar nos duelos diante do São Raimundo-RR e Atlético Goianiense.
Segundo o jogador, muitos profissionais, além dele, não receberam a premiação referente a Copa do Brasil. O mesmo atleta confirmou juntamente a reportagem que está com cinco meses de salários atrasados, além do FGTS e 13º salário. Outra reclamação é que a diretoria não pagava passagens aos contratados, com os jogadores tendo que tirar do próprio bolso o valor. Segundo ele, a maioria dos atletas recebem salários entre R$ 1.500,00 e R$ 2.000,00.
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Dívidas acumuladas e saúde mental afetada
As questões salariais afetam diretamente os atletas e as famílias dos jogadores. Muitos acumularam dívidas e estão com a saúde mental afetada. Segundo um dos atletas entrevistados pelo Distrito do Esporte, o Real Brasília deixou o mesmo cheio de dívidas devido a falta de pagamentos ou por demorar demais para receber, com atrasos chegando a 60 e 70 dias. “Estou com dívidas altas, que não consigo pagar, por culpa deles”.
O outro profissional que atuou pelo Real Brasília em 2024 deixou claro o que a falta de dinheiro afetou na vida dele. “Por causa desses salários atrasados, estou com o nome sujo. Minha esposa está com ansiedade, está indo até na psicóloga. Quando entro em contato com Belmonte, ele sequer responde, sendo que o mínimo que deveria fazer é dar uma satisfação. Vale lembrar que muitos estão nessa situação aí também”, comentou o jogador.
Ex-jogadores do Real Brasília estão com contas atrasadas
A esposa de um ex-atleta procurou o Distrito do Esporte para relatar o que tem passado desde que o marido parou de receber os pagamentos. Segundo ela, é tudo imprevisível e que a diretoria estipula novas datas toda vez que é procurada. “Se você souber as coisas que eu tenho passado. Não durmo de noite. O tanto de coisa que passei e venho passando por causa de finanças. Conta atrasada, água quase cortada. Estou cansada”, lamentou.
Além disso, a mulher também comentou sobre o cenário do futebol no geral. “Além das injustiças que o futebol tem dentro de um clube, só joga quem tem empresário. E aí essa questão de salário complica. Lembrei que tinha vários salários atrasados ano passado e nunca foram pagos, né?”, disse.
O Distrito do Esporte procurou diversos atletas do Real Brasília para saber a situação sobre as premiações. Quatro jogadores confirmaram a informação, enquanto outros não quiseram se posicionar sobre esta questão. A reportagem ainda entrou em contato com o Real Brasília, que por meio de sua assessoria ficou de dar uma posição ao DDE. Vale ressaltar que o espaço segue aberto e, quando o clube se posicionar, atualizaremos a matéria.