Por Luiz Henrique Borges
Eu tratei, por um bom tempo, na nossa última crônica, das semifinais do campeonato brasiliense. Acho que é importante dar continuidade no assunto para que os leitores assíduos e curiosos não se sintam órfãos da informação. Além disso, quero compartilhar a experiência vivenciada na quente tarde de sábado, dia 25/03, quando estive, ao lado de 1.101 outros torcedores, no estádio JK, lá pertinho de casa, no Paranoá, para assistir o clube que leva o nome da cidade enfrentar o líder da fase de classificação, o Real Brasília, pelas semifinais.
O sol forte reverberou em um primeiro tempo marcado pela lentidão. Ainda assim, antes dos times irem para os vestiários, em uma das raras jogadas de perigo, Lucas Souza, que havia minutos antes substituído o atacante Matheus Jesus, que deixou o campo lesionado, abriu o placar para o Real Brasília pelo primar confronto de semifinais.
Na etapa final, o visitante, com a vantagem no placar, sentindo o desgaste físico e sabendo que iria jogar a partida decisiva em sua casa, atuou mais recuado, buscando os contra-ataques. A equipe da Vila Planalto quase teve sucesso na estratégia quando Gabriel Lima, aos 36 minutos, driblou o goleiro, mas chutou fraco permitindo que a defesa afastasse a bola. O Paranoá, por sua vez, sem uma alternativa, pressionou o seu oponente e acabou obtendo sucesso aos 51 minutos quando, após cruzamento da direita, o zagueiro Dedé cabeceou para o fundo das redes e decretou o placar do jogo. Para o confronto final, dia 01/04, o Real Brasília jogará em seus domínios, precisando apenas de um empate para superar a fase de semifinais e disputar o caneco.
No outro jogo das semifinais, deu a lógica. O atual bicampeão, o Brasiliense, que conta com diversos jogadores experientes, jogando fora de casa, também no estádio JK, venceu o Capital por 2X0. Com a vitória, o Jacaré ficou em situação muito confortável, afinal decidirá a vaga em seus domínios e pode perder por até 2X0. Confesso que, desgastado pelo sol do dia anterior, apesar do jogo ter sido disputado no estádio do Paranoá, preferi ficar no conforto de minha casa.
No Rio de Janeiro, o Flamengo e o Fluminense começarão, na noite de sábado, a decidir, pela quarta vez consecutiva, o Campeonato Carioca. A final também será um tira-teima, uma vez que ela será a 13ª vez que os dois clubes decidem o título estadual e, até o momento, o confronto está empatado em 6X6.
O rubro-negro, que disputou e perdeu os quatro títulos disputados em 2023, terá um desfalque muito preocupante. O grande condutor de seu meio-campo, o uruguaio Arrascaeta, não se recuperou da lesão na coxa esquerda e deverá ficar ausente dos dois jogos decisivos e provavelmente também não estará em campo na estreia da Libertadores e no primeiro confronto da terceira fase da Copa do Brasil. É mais uma imensa dor de cabeça para Vítor Pereira que, acredito, se não conquistar o Carioca deverá fazer as suas malas e embarcar de volta para Portugal.
Entendo que o Fluminense carrega um leve favoritismo para a decisão, apesar do Flamengo contar com um elenco mais caro e talentoso individualmente. Vou apresentar os meus motivos: desde a época do JJ, o rubro-negro se sente desconfortável com as estratégias utilizadas pelo time das Laranjeiras. Outro ponto importante é o tempo de casa de cada um dos treinadores. Fernando Diniz já dirige o Fluminense desde abril de 2022, enquanto o VP chegou no início do ano. É natural que o treinador do tricolor tenha maior conhecimento do elenco e o time mais em suas mãos. O resultado é que Diniz conta com uma equipe entrosada, sólida na defesa e o seu ataque não costuma desperdiçar as oportunidades.
A situação do rubro-negro é distinta. Vítor Pereira encontra muita dificuldade para entrosar e dar um modelo de jogo sólido para a sua equipe. Sem dúvida alguma, com os atletas disponíveis, VP deveria apresentar um time muito competitivo e letal, mas ele, até o momento, não conseguiu. O clube da Gávea tem lampejos de bom futebol, mas na maior parte do tempo o que prevalece é a desordem, especialmente, no setor defensivo. Ainda assim, o rubro-negro é uma equipe que pode ferir mortalmente o seu adversário. Em síntese, o Fluminense é o favorito, mas é pura ingenuidade, beirando a maluquice, achar que o Flamengo tem poucas chances de conquistar o título.
Em São Paulo, como não sou palmeirense, vou aderir a um dos maiores clichês do futebol, vou torcer para que o Davi, representado pelo humilde Água Santa, derrote o forte e gigantesco Golias que enverga, de forma altiva, o uniforme verde. Não é preciso ser muito esperto para afirmar que o elenco do Palmeiras é mais qualificado e acostumado às decisões. Ele também conta com um treinador capacitado, vencedor, respeitado e que tem total controle de seu elenco.
A torcida alviverde também empurrará, de forma praticamente monopolística, o seu time do coração nas duas partidas, na Arena Barueri e no Allianz Parque, nos dias 2 e 9 de abril respectivamente. Os torcedores do Netuno, como o Água Santa é conhecido, mesmo tendo o mando do campo no primeiro duelo, contará apenas com um dos sete setores do estádio em Barueri, os outros seis serão ocupados pela torcida do Verdão. Na segunda partida, no Allianz, é desnecessário fazer qualquer consideração. É óbvio que o estádio estará lotado com eufóricos palmeirenses.
O clube de Diadema ainda terá um desafio adicional, a concentração psicológica dos seus atletas, uma vez que as atividades da equipe se encerram, em 2023, logo após o segundo jogo da final paulista. Boa parte do elenco já possui vínculo com outras equipes para o prosseguimento da temporada e o foco dos atletas do Água Santa pode estar mais difuso. Concordo totalmente com o ex-goleiro do Palmeiras, Fernando Prass, que afirmou que se o Netuno tivesse calendário o ano todo, eles entrariam certamente mais concentrados.
No Rio Grande do Sul, o Grêmio, no sufoco, decidirá o título contra o Caxias. Triste, lamentável e ridículo, foi a atitude violenta e irracional de jogadores e torcedores do Internacional diante da derrota nas semifinais. Após a cobrança que decretou a vitória do Caxias, Wesley colocou as mãos nos ouvidos em frente ao goleiro Keiller. É uma comemoração que já vimos centenas de vezes. Diante de tal “provocação”, os jogadores do Inter foram tirar satisfação e a confusão se generalizou chegando ao ponto, inimaginável, de um pai, com a sua filha no colo, invadir o gramado e agredir um jogador do Caxias. A capacidade de digerir a dor da derrota é algo que o esporte deveria ensinar e aqueles que são incapazes de aprender a lição deveriam ser banidos dos estádios de futebol. Caso contrário, há o risco das autoridades resolverem proibir qualquer tipo de comemoração após os gols e as vitórias. Cuidado! Os idiotas podem acabar com o futebol!