21.5 C
Brasília
segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Coluna Visão de Jogo #10: A maldição e o Impremeditado

Em mais um texto para a Coluna Visão de Jogo, Luiz Henrique volta a analisar os confrontos da Copa do Mundo do Catar

- Continua após a publicidade -
Por Luiz Henrique Borges

Estamos vivenciando a vigésima segunda Copa do Mundo e o principal evento do futebol é tão exclusivo que apenas 8 seleções já conquistaram a cobiçada taça. Particularmente, mesmo com as zebras, acho pouco provável que tenhamos um novo membro no seleto grupo este ano. Portugal, por exemplo, que conta com uma equipe jovem e habilidosa, oscila partidas qualificadas com jogos bastante sofríveis. Em partidas eliminatórias, como teremos a partir de agora, a oscilação pode ser fatal.

Após a inesperada derrota para a Arábia Saudita, ouvi de diversos torcedores que a Argentina era carta fora do baralho. Imediatamente, eu pedi calma e lembrei, por exemplo, da Copa de 1990. Os campeões do mundo na edição anterior perderam na estreia para Camarões, sofreram para vencer a “falecida” União Soviética por 2X0, Maradona chegou a evitar um gol soviético com a mão e, na rodada final, empataram em 1X1 com a Romênia. Os nossos vizinhos avançaram como um dos quatro melhores terceiros colocados e nos enfrentamos na fase seguinte. O resultado é conhecido, voltamos para casa após Maradona, mesmo “baleado”, desequilibrar o clássico e, em uma jogada genial, servir para o gol de Caniggia. Aos trancos e barrancos os  ficaram com o vice-campeonato.

Na atual edição, os argentinos perderam na estreia para os sauditas e venceram os mexicanos mais no coração do que na habilidade. No entanto, na derradeira partida, contra a Polônia, os albicelestes venceram o adversário com muita autoridade e os poloneses, retrancados e fracos tecnicamente, fizeram um esforço desesperado para não levar o terceiro gol. Não se pode descartar, mesmo após um tropeço, uma equipe como a Argentina, principalmente quando ela conta com Messi, um gênio.

- Continua após a publicidade -

Mais tranquilos, não acredito que os argentinos serão surpreendidos pelos australianos e, na minha opinião, eles serão os nossos oponentes nas semifinais. Nunca gostei de tê-los como adversários, mas fiquei muito feliz, nas leituras que fiz no doutoramento, quando abordei a rivalidade entre brasileiros e argentinos, que eles também temem nos enfrentar.

Não me causou estranheza a declaração do jovem treinador argentino, Lionel Scaloni, afirmando que estava feliz com a classificação antecipada do Brasil e que ele torce pelo sucesso das equipes sul-americanas. A imprensa brasileira reverberou bastante tal fala com ar de surpresa o que apenas reforçou a hipótese que verifiquei durante a elaboração da pesquisa de doutorado: nós estamos literalmente voltados para o Atlântico e não damos atenção e, de forma até ignorante, desconhecemos o que se encontra em nossas costas, ou seja, o que se passa com os demais países do continente sul-americano.

Os argentinos não só respeitam e apreciam o futebol brasileiro, como também torceram para a gente, como representantes do continente sul-americano, nas Copas de 1970 e 2002. Foram as nossas propagandas repletas de estereótipos e com traços de xenofobia, que as piadas de humor duvidoso e personagens jocosos eram incapazes de disfarçar, que afastaram os argentinos de nós. Donos de um humor cáustico e afiado, viramos alvo de seus cânticos e de seus mordazes periódicos. Neste jogo só temos a perder, boa parte das piadas consagradas mundialmente foram criadas por eles.

Em 2014, quando o juiz apitou o final do naufrágio brasileiro diante da fragata alemã, eu roguei uma praga: os alemães serão desclassificados na primeira fase do mundial tantas vezes quantos os números de gols que fizeram contra o Brasil. Caso queiram que eu tire a poderosa mandinga que já os atingiu duas vezes – agora só faltam cinco –, basta depositar 10 milhões de euros na minha conta. Neste valor, eu já descontei as desclassificações de 2018 e 2022. Neste ano, o manipanso contou com o luxuoso auxílio dos espanhóis, que após uma ótima estreia contra a Costa Rica também se mostraram, assim como os portugueses, muito instáveis e perderam para o Japão, resultado que mandou a única seleção que poderia nos igualar em títulos mundiais para casa. Mandinga mantida! Se eles quiserem que eu a revogue, posso passar meu pix. Fica a dica para 2026!

A última rodada da fase de grupos foi repleta de surpresas. As principais seleções que resolveram atuar com jogadores reservas foram derrotadas por duas equipes africanas e uma asiática. A preguiçosa Seleção Francesa perdeu para a esforçada Tunísia. Portugal caiu diante da Coreia do Sul e o Brasil, que dentre as equipes que atuaram com os reservas, apresentou o melhor futebol, malogrou para Camarões.

O Brasil jogou melhor que a equipe africana e até arrisco a dizer que o resultado foi injusto. No entanto, mesmo sabendo dos riscos de perder outros titulares para as fases eliminatórias, sou contra, absolutamente contra, que se jogue apenas com os reservas. A campanha brasileira está maculada e, apesar da equipe não ter atuado mal, ela mostrou aos seus adversários que pode ser derrotada. Em competições curtas, a imagem que se constrói de invulnerabilidade e a confiança são elementos fundamentais e, não tenho dúvida, que o Brasil, a França, a Espanha e Portugal terão que cimentar novamente o caminho.

Sendo assim, entendo que a seleção que chega mais embalada para a fase eliminatória é a que foi derrotada inicialmente, a Argentina. Ela teve, necessariamente, que crescer ao longo dos jogos e encontrou na última partida uma formação ofensiva muito perigosa. Defensivamente, em virtude da inoperância polonesa, não é possível fazer uma análise mais acurada.

O futebol carrega consigo um personagem que se chama Impremeditado, figurinha carimbada neste Mundial. Pensando friamente, só mesmo ele, em campo e suando em bicas, poderá equilibrar os diversos confrontos que se formaram para as oitavas de final. Ao meu ver, a presença do perigoso personagem é irrelevante em dois jogos: Portugal X Suíça e Croácia X Japão. Entendo que eles são cruzamentos equilibrados. Nos demais, espero que o Impremeditado se ausente apenas do jogo da tarde de segunda-feira no Estádio 974, o que foi construído, segundo a lenda, por 974 containers. É nele que o Brasil enfrentará a equipe sul-coreana. Faço um pedido ao Tite, para evitar a entrada do nefasto personagem é preciso que você coloque para jogar o que temos de melhor. A partir de agora, qualquer erro significará o retorno para casa.

Nos demais duelos, vou torcer muito para o Impremeditado, mesmo sabendo que dificilmente ele poderá fazer das suas em todos os jogos. Se bem que, no Catar, com as partidas sendo disputadas apenas em Doha e seus arredores, ele não terá que fazer grandes deslocamentos e, talvez por isso, sua presença tenha sido mais constante durante o Mundial.

- Publicidade -

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Leave the field below empty!

Mais do DDE

P