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terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Coluna do Gabruga #2: 23 minutos de Brasiliense na Libertadores

Na segunda edição de sua coluna no DDE, Gabriel Caetano, o Gabruga, relembra a final da Copa do Brasil de 2002 e as tentativas, frustadas, de uma ida à Libertadores

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*O texto a seguir é de inteira responsabilidade de seu autor. As possíveis opiniões e/ou conclusões nele emitidas não estão relacionadas, necessariamente, ao ponto de vista do Distrito do Esporte. 

Por Gabriel Caetano*

No dia 8 de maio de 2002, o estreante Brasiliense disputava o título da Copa do Brasil pau a pau com o “Todo Poderoso Timão”. Tão inesperado quanto a sua chegada naquela final, era o desempenho amarelo em campo que, assim como fez o campeonato inteiro, não se reprimiu pelo favoritismo adversário.

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A contestada derrota por 2 a 1 na primeira partida em São Paulo (culpa da arbitragem desastrosa de Carlos Eugênio Simon)exigia uma vitória amarela para coroar aquela que seria a “maior zebra da história da Copa do Brasil”. O Brasiliense, como fez no Morumbi, partiu para cima do Corinthians na etapa inicial do confronto no Serejãoe mandava na partida.

Aos 41 minutos, uma roubada de bola no meio campo se tornou um lançamento para o rápido Gil Baiano e se transformaria em gol, não fosse Fábio Luciano. Vendo que ninguém pararia o meia amarelo, o zagueiro passou o rapa e fez a chamada “falta de segurança”, levando aquele velho “cartão amarelo que podia ser vermelho”.

A falta, porém, era tão perigosa quanto a jogada, ainda mais quando se tem Wellington Dias. O baixinho atacante, repercutido na mídia como o principal herói do desconhecido Brasiliense, colocou a bola no ângulo. Nem mesmo um goleiro como Dida poderia pegar – não à toa ficou sem reação.

Quem diria, machucado, Wellington Dias quase ficou de fora. Como a Seleção Brasileira na final da Copa do Mundo de 1998, o Brasiliense foi um time amarelo que teve de esperar até o último minuto para contar com seu goleador.

“Time abusado esse Brasiliense, encarou o Corinthians de igual para igual no Morumbi e está encarando agora também”, disse Cléber Machado na transmissão ao vivo da TV Globo, sendo complementado por Casagrande: “Já vi encarar Fluminense no Maracanã, Atlético-MG no Mineirão, está vacinado”.

“GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL, WELLINGTON DIAS, DO BRASILIENSE!!
O Brasiliense faz o primeiro gol, o Brasiliense fica neste momento com o resultado que dá o título da Copa do Brasil para o time de Taguatinga. ”
Cléber Machado, em narração da partida pela TV Globo. 8 de maio de 2002.

Foram mais quatro minutos até o final do primeiro tempo, terminado sem acréscimos. Aos gritos de “timinho, timinho”, os jogadores corintianos saíram irritados. O lateral Kleber nem quis dar entrevista e foi direto para o vestiário. Enquanto isso, o jacaré inflável passeava nas arquibancadas.

Os jogadores amarelos mantiveram a empolgação, mas sem tirar os pés do chão. Em resposta ao comboio de repórteresque lhes perguntavam se o título já estava garantido, todos eram enfáticos: “que nada, o favoritismo ainda é deles”.

Péricles Chamusca, técnico do Brasiliense, também se manteve calmo: “ (para o segundo tempo) é manter a marcação forte, não abrir mão de atacar, isso é fundamental, é a característica (principal) da equipe”. E assim foi o início do segundo tempo, com a equipe amarela já indo para cima no primeiro minuto.

As vaias eclodiam para os paulistas que, na tentativa de furar a defesa amarela, passaram a se concentrarnas jogadas aéreas. Foi assim a primeira chegada paulista no segundo tempo: Aos três, Kleber cruzou da esquerda, Leandro cabeceou para fora.

A resposta tentou ser dada logo em seguida, com o clube amarelo tentando encaixar um contra-ataque; sem sucesso. Foi aí que os paulistas começaram a mudar o enredo do jogo. Aos seis, nova bola alçada na área e Gil sozinho, praticamente na linha da pequena área, mandou para fora a chance de empatar.

Responder a altura tinha apenas um caminho para o Jacaré: contra-ataques. As jogadas rápidas nos pés do trio ofensivo Wellington Dias, Gil Baiano e Jackson passaram a ser o caminho. Sem efetividade, o Brasiliense acabava tendo que trocar passes na intermediária.

Aos 12 minutos, mostrou-se na transmissão da partida o número de passes errados: Corinthians 34 x 9 Brasiliense. Nesse momento, era evidenteosproblemas do “Timão”: não conseguia criar jogadas, abusava das enfiadas de bola e a marcação amarela era muito forte.

Também era evidente que os paulistas estavam melhores na partida, mesmo não sendo efetivos. O Brasiliense começava a ir cada vez menos para o ataque, se fechando e buscando prender a bola ao invés de criar jogadas rápidas. Antes tivesse ficado atrás. Quando foi a frente, acabou traído.

Aos 19, escanteio para o Brasiliense. Naturalmente os zagueiros subiram para a área e, na cobrança fechada de Wellington Dias, Maurício até mandou para as redes, mas pelo lado de fora – foi suficiente para torcedores do outro lado da arquibancada comemorarem.

O goleiro Dida não titubeou, pegou a bola rápido e já cobrou o tiro de meta: a bola desviou no caminho e sobrou nos pés de Leandro. Foi questão de segundos: O atacante avançou em velocidade pela esquerda, cruzou para Deivid que cabeceou em meio a dois zagueiros amarelos. Era o gol alvinegro. Corinthians voltava a ter a taça de campeão da Copa do Brasil – fato consumado, pouco mais de meia hora depois.

Tentativa de vaga nos bastidores

As vagas para o Brasil na Libertadores em 2002 eram quatro: Campeão da Copa do Brasil; Campeão da Copa do Campeões; Campeão e vice do Brasileirão.

Com o Brasileirão 2002 sendo disputado em mata-mata, o Corinthians garantiu ao menos um vice-campeonato brasileiro ao se classificar para a final, sendo assim, abriria uma vaga para a Libertadores, por conta de seu título na Copa do Brasil.

Naquela época, o regulamento não deixava explícito o que deveria ser feito em casos como esse e, no dia 6 de dezembro de 2002, Luiz Estevão, homem forte do Brasiliense, declarou que iria buscar uma vaga na competição sul-americana, sem declarar à imprensa como faria isso – o motivo dado foi que os jornalistas candangos não estariam ao lado do futebol local.

Em primeiro momento, a vaga seria destinada ao terceiro colocado no Brasileirão 2002, o Grêmio. Nos bastidores, a indicação de Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, era claramente essa, usando a alegação de que isso já teria sido decidido com antecedência.

Foi quando entrou a diplomacia de Weber, presidente da Federação Metropolitana de Futebol (FMF, atual FFDF) – grande amigo de Teixeira. De acordo com Weber, a conversa com Teixeira não lhe rendeu nenhuma confirmação, nem negação, então Luiz Estevão e a cúpula amarela ficaram esperando a reunião para indicação dos representantes em Assunção, sede da CONMEBOL.

Morrendo a esperança de jogar a Libertadores, o sonho passou a seruma indicação para a recém-criada Copa Sul-Americana. Seria o primeiro ano do Brasil na competição e também não havia critérios definidos para indicações, porém os classificados foram os clubes de quarto à oitavo no Brasileirão, mais o Corinthians, vice-campeão brasileiro. Com isso, o time amarelo não pôde ser o primeiro time candango a representar a Capital Federal internacionalmente – fato reservado ao Brasília, 13 anos depois.

*Gabriel Caetano é jornalista formado pelo Icesp. Pesquisador do futebol candango com foco na Sociedade Esportiva do Gama desde a adolescência, trabalhou como analista de comunicação e marketing do clube em 2019, tendo sido ainda diretor de marketing do Capital na reestruturação do clube, em 2018. Divide seu tempo entre curiosidades no Histórias do Gamão e a agência na qual é sócio, a RC Marketing Esportivo. 

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