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segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Buga, lateral do Cresspom, alega ter sido vítima de injúria racial

Em conversa com a equipe do Distrito do Esporte, a lateral do Cresspom relatou o ocorrido: "no momento eu fui forte, acho que me fiz de forte"

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Por João Marcelo Pepi

Um triste fato aconteceu na manhã deste sábado (13/11) na partida entre Aruc/Fúrias e Cresspom, válido pela nona rodada do Candangão Feminino. Uma jogadora das Tigresas do Cerrado, a lateral esquerdo Thamires Nascimento da Conceição, conhecida como Buga, diz ter sido vítima de injúria racial. A atleta alega que um senhor, identificado na transmissão como Dimas Bezerra da Silva Dutra, a xingou durante a partida, que foi paralisada por cerca de cinco minutos.

Na transmissão pelo canal oficial do Cresspom no YouTube, quando o cronômetro da partida marcava 24 minutos e o placar constava 8 a 0, a goleira Mika sofreu falta e ficou caída no chão. Ao seu lado estavam Bruna Amarante, Thaynara e Camila. Ao se levantar e próximo de recomeçar o jogo, a arqueira e a capitã do time, Camila, apontam para o lado de fora do campo e reclamam algo com o árbitro da partida, Leandro Almeida Damas de Oliveira. Ao ouvir as reclamações, Leandro para o confronto e chama sua equipe de arbitragem.

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Posteriormente, o árbitro chama as capitãs da equipe e nesse momento, Buga aparece conversando com a goleira Mika e a atacante Giovania. Em alguns segundos de conversa, Giovania relata o acontecido com Thaynara e passa o dedo no braço, em gesto característico de vítima de racismo. Após a conversa entre arbitragem e capitãs, Leandro vai em direção ao suposto agressor com o delegado da partida e solicitam sua retirada do clube Cresspom.

A partida é reiniciada e a equipe de transmissão da TV Cresspom, formada por Jota Júnior e Marcos Prefeito, informa a situação. Prefeito comunica que o senhor Dimas da Silva Bezerra Dutra chamou a atleta Buga de “cabelo de bucha” – Buga posteriormente diz que foi “cabelo de fuá” – e lamenta o ocorrido. No decorrer do confronto, os jornalistas comentam que o suposto agressor ainda não havia se retirado do local e cobravam a sua saída. No fim da transmissão, a capitã do Cresspom, Camila, e a presidente do Aruc/Fúrias, Shara Figueredo, deram uma entrevista à TV Cresspom.

Partes envolvidas falam sobre o ocorrido

Camila foi a primeira a falar e em tom de indignação, reiterou o constrangimento da situação e que não deixariam o assunto de lado. “É um episódio que jamais pode acontecer. A gente não pode passar por essa situação de racismo que aconteceu aqui hoje (13/11) no clube do Cresspom e não vamos deixar passar isso. É um assunto mundial que deve ser excluído”, disse a capitã do time.

Após a fala da capitã do Cresspom, a presidente do Aruc/Fúrias, Shara Figuerdo, lamentou o ocorrido e disse não aceitar quaisquer atos de discriminação, repudiando o suposto agressor. “Não ao racismo seja qual for o esporte, qual for o momento. A gente não concorda com o que aconteceu, não temos nem problemas. As pessoas são iguais aqui na terra, perante Deus. Nós também não apoiamos essa atitude”, disse a mandatária do Aruc/Fúrias.

Até o momento da publicação desta matéria, a Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF) não havia disponibilizado a súmula da partida.

Buga desabafa e diz: “não ao racismo”

Em conversa com a equipe do Distrito do Esporte, a lateral Buga falou sobre o ocorrido. “O nome dele é Dimas pelo que foi apurado pela TV Cresspom. Ocorreu um lance isolado e ele direcionou à nossa goleira (Mika) falando coisas deselegantes. Eu cheguei para a Mika e disse que ela não precisava escutar coisas que não a agregassem e que teríamos que escutar as coisas positivas, não as negativas que fazem a gente cair. Ele não gostou, eu disse que ele deveria orientar a equipe dele e não se direcionar a nós”, comentou.

“Depois disso ocorreu um escanteio, ocorreu um tiro de meta e eu abri na lateral. Nisso que eu abri na lateral, ele já estava falando algumas coisas e muitas das meninas ouviram ele falar do meu cabelo, chamando de “cabelo de fuá” e mais de 70% das meninas do Cresspom são de mulheres pretas e graças a Deus tenho muito orgulho de ter assumido meu black e ter assumido o que eu sou”, expressou a lateral do Cresspom.

“É uma situação muito delicada pois no momento eu fiquei em estado de choque, sem entender. As meninas falando e eu pensei: “não é possível”. Até eu entender a gravidade da situação foi quando eu falei “tenho muito orgulho do meu cabelo, tenho muito orgulho do meu black, tenho muito orgulho de onde eu vim e de quem eu sou” e aí eu vi algumas pessoas querendo deixar o caso passar, outras pessoas eu agradeço, assim como as meninas do meu time pelo apoio. No momento eu fui forte, acho que me fiz de forte”, contou.

Buga ainda citou que a atitude da arbitragem de campo foi determinante para que ela pudesse continuar a jogar. “A arbitragem muito bem direcionada pediu que retirassem o senhor pois senão não iriam reiniciar a partida. Nesse momento eu virei a chave pois sou profissional, estou no meu local de trabalho. Não vou mentir que não mexeu emocionalmente comigo, mas tentei me concentrar no jogo, mas talvez poderia ter sido pior com outra pessoa”.

“Depois que o jogo acabou, a minha ficha começou a cair de verdade. Eu comecei realmente a sentir e é uma sensação tão ruim. É como se alguém tivesse rasgando a sua pele, cortando a sua identidade, mas eu fiquei muito abalada. Fui acolhida pelas pessoas que me amam e sou muito grata por isso. Precisei de um momento só no meu, no quarto. Chorei, desabei, botei para fora. Mas eu sei que minha luta é a mesma de milhares de mulheres, milhares de pretos e pretas que estão buscando o seu lugar”, desabafou.

Por fim, Buga deixou um recado. “Estamos tentando sair dessas pessoas preconceituosas que o futebol feminino já tem. O preconceito da sexualidade, o preconceito da mulher jogar futebol, da mulher ser abaixo do homem e agora isso é muito forte: a questão racial. Então eu fiquei sim muito abalada e ainda estou. Mas a minha luta continua, a minha e de várias mulheres. E estou aqui para levantar a bandeira de diga não ao racismo, diga não à injúria racial, diga não à homofobia, diga não à xenofobia, diga não às coisas que machucam a gente”, finalizou.

Veja o momento no confronto entre Aruc/Fúrias e Cresspom:

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