Por Danilo Queiroz e João Marcelo
Em meados de abril, o avanço da pandemia do novo coronavírus atingiu em cheio o esporte em todo o Brasil. Com os primeiros casos sendo confirmados na capital federal e o isolamento social adotado pelas autoridades para conter a doença, a Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF) optou por paralisar o Campeonato Candango, assim como a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) interrompeu seus torneios. Com a pausa no calendário, os clubes também decidiram por interromper suas atividades.
Passados 50 dias de bola parada no DF, a viabilidade de um retorno dos compromissos é discutida nos bastidores. Buscando garantias de que tudo será feito com segurança para a saúde de jogadores, comissões técnicas, dirigentes, imprensa e demais envolvidos, a FFDF buscou articular com o Governo do Distrito Federal (GDF) a melhor maneira de resolver a situação e fazer com que o Candangão volte a ter bola rolando. Recentemente, o Ministério Público recomendou que o torneio não seja reiniciado.
No melhor dos cenários, a FFDF esperava ter o aval para que os clubes candangos que têm compromissos locais e nacionais em seus calendários pudessem retomar os treinamentos em maio. Após um período de intertemporada, necessário para os jogadores recuperarem o ritmo de competições, o Candangão seria reiniciado. Em âmbito nacional, a CBF pediu indicações do Ministério da Saúde, que foi favorável ao retorno, e autorizou as federações estaduais a buscarem a liberação com o próprio governo local.
No epicentro da situação, os artistas do espetáculo aguardam uma definição. Com a rotina totalmente alterada pela pandemia, os atletas acompanham os desdobramentos. Para entender o pensamento da classe futebolística, o Distrito do Esporte ouviu 14 jogadores de Brasiliense, Capital, Formosa, Gama, Luziânia, Minas Brasilia, Real Brasília, Sobradinho e Taguatinga. Os depoimentos, publicados na íntegra, foram colhidos entre 4 e 7 de março. Esta reportagem será atualizada conforme cheguem novas manifestações.
Como os atletas enxergam a possibilidade de retorno:
Daniel Felipe, zagueiro do Taguatinga: “Temos visto uma pressão de alguns clubes das Séries A e B com a CBF para que o futebol esteja de volta. Na minha opinião, é prematuro porque o vírus está em ascensão. Seria uma coisa impensável. Muitos vão falar que seriam jogos sem público, mas o futebol depende de uma pequena aglomeração de pessoas. São muitas coisas que não estão de acordo com o que a OMS pede. Muitos falaram da testagem, mas eu me pergunto se o futebol está acima de qualquer coisa no nosso país para os atletas terem esse privilégio, sendo que a maioria da sociedade não tem esse acesso. Não estamos conseguindo testar os profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate ao coronavírus. Será que o futebol está tão acima a ponto de ter esse privilégio? Não concordo com a volta agora. Particularmente, tenho na família pessoas do grupo de risco. Eu não me sentiria à vontade de treinar sabendo que posso trazer o vírus para minha casa. Não estaria 100% centrado no futebol. Muitos atletas dependem de transporte público para chegar no CT e estaríamos correndo muito risco tendo contato com a população.”
Marcos Aurélio, meio-campista do Brasiliense: “É um momento muito crítico e delicado. Confesso que nunca imaginei que um dia passaríamos por isso e não tem como falar em volta ao normal visando tantas vidas que foram ceifadas por essa terrível doença. Mesmo com a gente sabendo que existe um “grupo de risco” me incluo pelo fato de ser uma doença que não sabermos o verdadeiro grau de risco. Estamos vendo jovens sem histórico de doenças morrendo. Mas por outra parte, sabendo que o Ministério da Saúde deu parecer favorável à volta, podíamos montar uma estratégia de retorno aos poucos , com treinos divididos em partes, um grupo alternando o outro, até porque somos atletas e ficar parados poderia dificultar a nossa volta quando tudo isso passar. A gente treina em casa, mas sabemos que não é igual aos nossos treinos de rotina. Seria legal se realmente conseguíssemos montar um planejamento junto ao clube para testagem dos jogadores, uma forma segura para nos prepararmos para quando voltarmos não sofremos tanto com o preparo físico. Já a volta aos jogos deveria ser analisado com mais cautela. Por mais que seja de portões fechados, o jogo em sim comporta um grande número de pessoas, desde atletas, comissão técnica , repórteres… o ideal seria achatar um pouco mais a curva pra irmos planejando com cautela.”
Nunes, atacante do Gama: “Esse momento que estamos passando é muito delicado, porque ninguém imaginava passar por isso. Eu sou a favor de voltar os treinos. Claro que tomando todos os cuidados possíveis. Em relação à testagem, eu acho valido porque também é uma segurança para nós. Eu não posso falar por todos os atletas, mas eu estou doido para voltar logo, creio que a maioria também. Por mim, já estaria treinando.”
Isabela Melo, zagueira do Real Brasília: “Sabendo da nossa situação no Real Brasília e por todo suporte que temos, entendo que o clube agiria dentro de todas as normas e cuidados estabelecidos pelos responsáveis para voltarmos nossos treinamentos e condutas no “extra campo” para evitar o contágio, propagação do vírus e aglomerações. Assim como manteriam todas nós atletas seguras dentro do nosso CT ou hotel aonde não ficaríamos tão expostas e obedecendo cada detalhe da quarentena. Porém, isso vai muito além de somente voltar aos treinos, pois não temos datas exatas de quando as competições possam voltar, como irá funcionar ou qualquer direcionamento deste tipo. Então, na minha opinião, é aguardar o melhor momento e a decisão da nossa diretoria para que venhamos praticar novamente nossos treinamentos já com um certo cronograma e datas de retorno das competições. Melhor para se trabalhar e preparar para o retorno. No atual momento que vivemos, eu acredito que seja impossível voltar os jogos de imediato, até porque nós estamos em competição nacional, assim como tem outros clubes do DF. Então acredito que vai muito além, pois precisamos que todas as outras 35 equipes (no nosso caso, que estamos jogando a série A2 do Brasileiro) estejam aptas e também já em fase de treinamentos para que deem esse retorno ao Brasileirão. Porém, isso não é possível pois sabemos que a pandemia e os casos fatais da doença variam de estado para estado, alguns talvez estejam mais tranquilos com poucos casos confirmados, que dentro de todas as normas estabelecidas pelo Ministério da Saúde e outros responsáveis, talvez conseguiriam voltar uma competição, se fosse regional. Acredito que o Campeonato Brasileiro ainda não venha acontecer de imediato.”
Gilvan, atacante do Real Brasília: “É um momento muito difícil que a gente está vivendo. Nunca havia acontecido isso. É claro que a gente está doido para voltar a nossa rotina normal, mas parece que cada dia esse coronavírus fica pior. Na minha opinião, acho que com todos os cuidados e, claro, com os portões fechados dá para começar a pensar em voltar pelo menos os treinos.”
Azul, atacante do Capital: “A pandemia atingiu nosso país e com isso o futebol também sofreu. A gente que joga está ficando em casa sem poder atuar, treinar… sem poder fazer nada. O Candangão estava na reta final. É triste não poder atuar, mas primeiro vem a saúde, se proteger para não pegar a doença e não afetar nossos familiares. Se Deus quiser, logo logo isso vai passar e vamos voltar a fazer o que a gente mais gosta. Estou triste por tudo isso, mas se Deus quiser rapidamente isso vai ser resolvido.”
Railan, lateral do Brasiliense: “O que estamos vivendo é uma situação grave, mas a comissão técnica do Brasiliense está deixando todos os atletas ciente da situação. O debate está em pauta, mas estamos aguardando as decisões do órgãos competentes. Ainda não temos uma previsão certa para o retorno, mas eu acho que temos que voltar em um momento que a saúde dos jogadores e todos os outros funcionários do clube não estejam em risco. Estão dando todo suporte necessário, enfatizando a preocupação para ficarmos em casa. Também estão nos auxiliando com os treinos específicos.”
Uoston, goleiro do Sobradinho: “Na minha opinião, o futebol deveria voltar sim, porém, com os portões fechados e todos jogadores fazendo o teste de coronavírus antes das partidas.”
Willian, meio-campista do Capital: “Estamos passando uma situação difícil e bem complicada de entender, mas eu, como atleta, gostaria muito que o futebol voltasse, mas tenho bastante receio porque tenho filho e algumas pessoas de risco na minha família. Hoje, graças a Deus, tem minha esposa que continua trabalhando e tem dado conta de pagar algumas dividas, mas nem todos os atletas tem suas esposas trabalhando e muitos deles sustentam suas famílias, por isso eu sou a favor do retorno do futebol sim, mas percebo que fica inviável seguir todas recomendações do Ministério da Saúde, como, por exemplo, uso das máscaras nos treinos, jogos e o distanciamento. Alguns clubes, como Capital, Real e Brasiliense estão de alguma forma tentando ajudar seus atletas, mas em Brasília nem todos os presidentes têm condições de fazerem da mesma forma. Enfim, eu tenho muita vontade de voltar a treinar e jogar, mas tenho um pouco de receio com o que pode acontecer.”
Marcella Hulk (@marcellahulk09), atacante do Minas Brasília: “A vontade de estar de volta aos gramados é grande, de fazer o que amo e estar competindo. Mas precisamos ter consciência do estrago que esse vírus está fazendo e não devemos nos precipitar. Temos que pensar na nossa saúde e da humanidade também. É aguardar com sabedoria as autoridade definirem com segurança essa possível volta e quando esse retorno acontecer que seja no momento que as estatísticas de infectados esteja caindo e tendo controle da contaminação. Sobre portões abertos ou fechados, como disse antes, só deve voltar quando o vírus tiver controlado”.
Dedê, lateral do Real Brasília: “Fomos todos pegos de surpresa com a pandemia, que acabou mudando tudo. Tem sido algo muito novo e difícil. No início, imaginávamos que iria se resolver o mais rápido possível e não seria tão longo. Não podemos perder a fé que isso vai passar e logo vamos voltar as nossas vidas normais. Sinceramente, nós jogadores ainda está em uma “cega” de informação. Estamos lidando com um vírus, que é algo invisível. Em um estado está mais grave que o outro. Em Brasília, graças a Deus, o índice não está tão grande, mas ficamos em dúvida se o pico já bateu aqui. Acredito que ainda é cedo para voltar, por mais que a vontade seja grande. Por mais que todo mundo faça o teste, a gente não sabe se todos os clubes terão essa estrutura. Digamos que deu negativo na apresentação, mas uma semana depois eu possa ter contraído e não irei saber. Por ser um atleta, talvez eu não sinta, mas já vou transmitir para alguém. É algo muito maior do que a gente imagina. Temos os órgãos que são especialistas em saúde. Se tratando do Real Brasília, nosso presidente vai ser o primeiro a ter certeza de quando poderemos voltar. Entra também em um lado político a volta do futebol. Se volta um Candangão e não volta um Paulista, acredito que haverá pressão em lugares onde o vírus está mais forte pelos outros que já voltaram. Torcemos para isso acabar logo para voltarmos as nossas vidas. A gente vê muitas ideias de retomar os campeonatos. O futebol sem torcida perde a cor, porque é para o torcedor. No Real, agora temos uma casa, o Defelê, e em dois jogos vimos como tá nascendo uma torcida, uma paixão. Como jogador, não ficaria feliz de ter as finais sem torcida. Vamos ficar esperando nossa diretoria. Eles sabem a melhor maneira de voltar aos treinamentos. Espero que seja o mais rápido possível.”
Lucas Silva, atacante do Luziânia: “Se a gente tiver toda a consciência, os cuidados necessários, tendo também avaliação dos atletas e as precauções com máscara e álcool em gel, acho que poderia voltar com estádios fechados para que pudêssemos terminar a competição. É um momento complexo de se analisar e ver a melhor forma de resolver, mas acho que Brasília tem estrutura suficiente para fazer esse cuidado. Se olharem com carinho, com certeza verão uma maneira viável de terminar a competição”.
Maiqui, atacante do Formosa: “Tenho certeza que nós atletas nunca queríamos ter parado, estar sempre em atividade, mas acabou que a pandemia afetou o futebol inteiro e nos afastou um pouco. Já queríamos estar jogando de novo e estamos esperando o retorno para dar continuidade nas fases finais e tenho certeza que pode retornar, mas com segurança e planejamento. Com toda a cautela do que está acontecendo acho que tem a possibilidade de voltar. Até mesmo nós que estamos brigando por vaga na Copa do Brasil e na Série D do Brasileiro. Será bom para o Campeonato Candango.”
Matheus Lorenzo, goleiro do Luziânia: “Acho que ainda não, pois é um momento muito delicado para todos nós, é uma questão social, pois não são somente nossas vidas que estão em jogo, mas dos nossos familiares e amigos também, nos remetendo a um bem maior que é a vida. Acredito que no tempo certo tudo voltará a sua normalidade. A testagem em massa me deixaria seguro. Porém, acredito que isso não irá acontecer e nem será suficiente para nos protegermos. Como todos sabemos, os recursos que a maioria dos clubes têm não são suficientes para cobrir os gastos dos testes. Se a CBF ou a FFDF pudessem arcar com esses custos, ou mesmo fornecer os testes ,já seria um grande avanço para retornarmos. Portão fechado não é suficiente, pois somos os transmissores desse vírus. O futebol sem a presença do público seria bastante triste. Então prefiro aguardar o tempo certo e ter público com os devidos cuidados necessários. Sobre a vontade de voltar, acho que essa resposta será unânime com certeza. Eu, como um eterno apaixonado, queria um retorno o mais breve possível. Sem entrar no mérito, acho que um dos clubes mais prejudicados nessa parada foi o Luziânia. Estávamos em uma crescente muito boa, mas infelizmente esse vírus atacou a todos nós e paralisou nosso futebol.”
Situação da pandemia de coronavírus no DF
De acordo com a última atualização, feita pela Secretaria de Saúde (SES-DF) na noite de 6 de março, o Distrito Federal tem 2.078 casos de coronavírus confirmados, com 35 mortes provocadas pela Covid-19. Ainda de acordo com dados da pasta, 1.170 já se recuperam, enquanto outras 60 pessoas estão enfrentando casos graves da doença. Em decreto publicado nesta quinta-feira (7/5), o governador Ibaneis Rocha ampliou o decreto que fecha o comércio e suspende eventos em território candango até 18 de março.
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