Por Danilo Queiroz*
Fechado desde 2014, o Autódromo Internacional de Brasília Nelson Piquet pode ganhar vida nova em 2021. Responsável por administrar o espaço, a Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap) iniciou os estudos para realizar uma nova concessão à iniciativa privada e substituir o certame atual, que foi cancelado após o Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) encontrar falhas no processo vencido pela RNG Consultoria de Negócios, a mesma que arrendou o Estádio Nacional Mané Garrincha por 35 anos.
O novo projeto vislumbrado pela Terracap seria mais robusto e buscaria, por exemplo, atender as exigências necessárias para receber uma etapa da Fórmula 1, a principal categoria do automobilismo mundial. Os estudos serão custeados pelo órgão público que mantém o Autódromo Nelson Piquet. Após a conclusão, o plano será homologado na Federação Internacional de Automobilismo (FIA) para o andamento da parceria público-privada. Será preciso ainda uma análise do TCDF para que o possível concessão caminhe.
Falando em reconstruir o automobilista do Distrito Federal, o governador Ibaneis Rocha explicou as intenções. “Vamos refazer a licitação porque a anterior não teve os critérios técnicos atendidos. Agora, faremos um novo projeto que atenda as exigências que permitam ao autódromo receber qualquer categorial”, afirmou o chefe do poder Executivo candango em entrevista à Agência Brasília, o portal oficial de comunicação do Governo do Distrito Federal (GDF).
Pilotos renomados aprovam iniciativa
A Agência Brasília também ouviu diversos nomes importantes do automobilismo nacional sobre o projeto de reconstruir o Autódromo Nelson Piquet. Em suma, o tom dos comentários da iniciativa foi de entusiasmo. “Já corri em Brasília antes de ir para a europa, na Fórmula Chevrolet. Seria sensacional refazer o autódromo de uma maneira bacana e profissional”, afirmou o ex-piloto Felipe Massa, que correu na Fórmula 1 por 15 temporadas e foi vice-campeão mundial da categoria em 2008.
Outro que aprovou a ideia foi Rubens Barrichello, que pediu a manutenção do atual traçado do Nelson Piquet. “Essa pista tem uma coisa muito forte com o automobilismo brasileiro. Não mudem o traçado porque é o melhor que a gente tem no Brasil”, considerou o piloto, que competiu na Fórmula 1 por 19 temporadas, com dois vices-campeonatos em 2002 e 2004, e atualmente corre na Stock Car Brasil, que também estaria no roll de competições que poderiam acontecer na capital federal com a reforma.
O que é preciso para receber uma etapa da Fórmula 1?
O desafio de receber uma corrida de Fórmula 1 não é dos mais fáceis. Para isso, a cidade candidata precisa possuir um autódromo que atenda as exigências da Licença de Grau 1 da Federação Internacional de Automobilismo (FIA). O processo minucioso começa com o circuito enviando um extenso dossiê à Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), que terá a responsabilidade de pré-aprovar o projeto e depois encaminhá-lo à mandatária do automobilismo mundial.
O documento precisa ter a planta detalhada do circuito, com informações sobre barreiras de proteção, alambrados, vias de acesso, instalações como boxes e sala de controle, além de outra planta específica com o desenho da área do paddock e do centro médico. O espaço precisa atender ainda outras recomendações da FIA como não ter retas maiores que 2 km, largura da pista de 12 metro com reduções gradativas de, no máximo 1 metro, com exceção da largada, que deve ter pelo menos 15 m de largura e ser mantida até a primeira curva.
A FIA também faz exigências criteriosas nos requisitos relacionados à segurança dos traçados, com detalhes específicos de barreiras de proteção e áreas de escape. Com tudo aprovado, são realizadas algumas etapas de inspeção in loco do autódromo. Em uma delas, é liberada a licença, que só é fornecida quando as obras da pista já estão totalmente concluídas. Com prazo de validade, o documento precisa ser renovado quando expirado para atender possíveis novas exigências.
Brasília recebeu etapa da Fórmula 1 em 1974
Engana-se quem pensa que essa seria a primeira aproximação do Distrito Federal com a Fórmula 1. Caso se concretize, 2021 não receberia o primeiro Grande Prêmio de Brasília e sim o segundo. Em 3 de fevereiro de 1974, o autódromo da capital federal foi inaugurado com uma prova da categoria. A etapa, porém, não fez parte daquela temporada da principal categoria do automobilismo mundial e serviu apenas para marcar o início da história do novo equipamento entregue à população da cidade.
A corrida teve a participação de 12 carros e recebeu o nome de GP Presidente Emílio Médici, em homenagem ao terceiro chefe de estado da ditadura militar, que ocorreu entre 1964 e 1985 e estava em seu auge no momento da disputa. A etapa, que foi disputada uma semana depois do tradicional GP do Brasil, acabou vencida por Emerson Fittipaldi. O grid contou ainda com nomes conhecidos como Carlos Reutemann, Wilsinho Fittipaldi, José Carlos Pace, Arturo Merzario e James Hunt.
A etapa também ficou marcada por uma situação curiosa. Querendo conhecer o ambiente da Fórmula 1, o futuro campeão Nelson Piquet trabalhou nos boxes da equipe Brabham. A história acabou sendo revelada em 1981, ano do primeiro título do piloto brasileiro na categoria, por Carlos Reutemann, que acabou ficando com o vice-campeonato naquela época. “Perdi para o garoto que um dia limpou as rodas do meu carro”, disse o argentino que também correu em Brasília.
*Com informações da Agência Brasília