Por Bruno H. de Moura
Aos 36 anos, Murilo Bedusco dos Santos, lateral direito de forte estrutura corpórea, pede gratuidade da justiça ao juízo cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). O motivo? Desde março de 2019, encontra-se desempregado e sem condições de pagar as custas processuais da ação de execução de título extrajudicial que cobra do Ceilândia Esporte Clube.
Murilo disputou oito dos 11 jogos do Ceilândia na primeira fase do Campeonato Candango do ano passado. A diretoria do Gato Preto deu cheque como forma de pagamento aos préstimos do atleta. Por duas vezes, em maio do ano passado, o atleta tentou descontar o cheque no Banco de Brasília (BRB), mas ambos foram devolvidos por falta de fundos.
Os R$ 9.000,00 que o jogador tem para receber se atualizam de juros e mora mês a mês. O valor foi reconhecido pelas partes, Ceilândia Esporte Clube e Murilo, em termo de rescisão amigável com duas testemunhas. A assinatura se deu em 26 de março de 2019. O processo aguarda citação do Ceilândia para pagamento ou contestar os valores.
Atleta tentou contatar o Ceilândia
Em contato com a reportagem do Distrito do Esporte, Murilo explicou que tentou, por diversas vezes, falar com o presidente do clube, Ari de Almeida, responsável por sua contratação, mas nunca obteve um retorno. “Tentei ate ligar na barbearia dele. Sem sucesso”, afirma.
O jogador teve que tirar dinheiro do próprio bolso para vir ao Distrito Federal vestir a camisa do bicampeão candango. Se a promessa era de ganhar dinheiro, o que ele viveu foi o contrário. No tempo que ficou em Brasília, apenas dívidas e despesas chegaram, nada dos pagamentos devidos. O atleta veio de Curitiba para Ceilândia exclusivamente para jogar no time do Gato Preto.
Murilo já havia atuado em Brasília, quando vestiu a camisa do Gama em 2018. Em 2019, foi contratado pelo alvinegro. O experiente lateral direito coleciona passagens pelo futebol brasileiro. Joinville, Atlético Goianiense, Remo, Paraná, Ceará, Ponte Preta, Athlético Paranaense foram apenas alguns dos clubes em que atuou.
Assim que acabou o Candangão de 2020, Murilo publicou em seu Facebook um texto desabafo. O atleta fala que não recebeu nenhum dinheiro no tempo de Ceilândia, assim como seus colegas de clube. Para Murilo, “vc vem pra cá (futebol do DF) pra ter um dinheiro e sai mais pobre”. Segue trecho da publicação, sem qualquer edição:
“Como falei fiquei quase 2 meses e nesses dois meses não recebi nenhum salário, aliás, tds do grupo que estavam treinando desde o dia 18 de dezembro não receberam se quer um salário, como fazer pra pagar as contas? como mandar dinheiro pra familia? que nem meu amigo falou “vc vem pra cá pra ter um dinheiro e sai mais pobre”
Aqui eu vi atleta pedindo dinheiro para comprar o gás que estava faltando em casa, atleta deixando o carro no estacionamento do clube porquê tinha estourado o pneu e não tinha dinheiro pra comprar outro, vi atleta pedindo pra ir embora porque a família não aguentava mais essa situação, e vc ai pensando que a vida de jogador é fácil, ah mas o salário do santos fluminense tbm estavam atrasados, pra vc ter uma noção um salário desses jogadores paga alguns anos de salário de um atleta daqui…”
Esse não é o primeiro, nem o único, processo que o Ceilândia responde por não pagamento de dívidas trabalhistas com atletas profissionais de futebol. A equipe acumula dívidas trabalhistas de várias temporadas, bem como com o INSS. Para jogar o torneio local na temporada 2020, o alvinegro fechou um acordo com o Grêmio Barueri-SP.
Presidência afirma que vai chamar credores no momento propício.
A reportagem entrou em contato com o presidente do time, Ari de Almeida, para saber qual a posição do time a respeito da questão. O atual mandatário do equipe fez a seguinte manifestação.
“Estamos trabalhando para sanar as dívidas pendentes, concentrados em resolver o passivo do clube, e, no momento propício, estaremos chamando os credores do clube.”
Quanto às afirmações do atleta de que tentou contato com o presidente para solucionar a questão, Ari afirmou que “o meu local de trabalho e de trabalho, não trato nada que não seja referente ao meu trabalho lá. Inclusive não sou proprietário, era gerente do estabelecimento e já não trabalho mais lá”, explicou. Por fim, o mandatário disse que “a matéria não contribui em nada” e diz esperar que o portal “mostre a realidade de todos”.
O texto contando a história de Murilo é o primeiro de uma série a ser feita pelo Distrito do Esporte sobre dívidas dos times de futebol do Distrito Federal com jogadores de futebol profissional. As demais sairão ao longo dos próximos dias.