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sábado, 23 de novembro de 2024

Visão de Jogo #44 – Um ano frustante

A coluna trata da fase que vive o Flamengo. Após anos de conquistas, o clube do Rio de Janeiro vive uma temporada abaixo do esperado

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Por Luiz Henrique Borges

Após carregar, por anos, o nada honroso título de clube mais endividado do país, o Flamengo recuperou as suas finanças e se tornou o clube mais rico e poderoso do país. As vitórias e conquistas ficaram frequentes na Gávea. Encerrado o mágico ano de 2019, quando o clube venceu o Carioca, o Brasileiro e a Libertadores da América, as temporadas continuaram, com mais ou menos turbulência, sendo coroadas com diversos títulos, ao ponto de, em todo o mundo, apenas o Bayern de Munique, no período entre 2019-2022, ter mais conquistas do que o clube brasileiro.

O bilionário Flamengo iniciou o ano 2023 repleto de pretensões e envolto em uma gigantesca galhofa. Vamos começar pela última. Após vencer o título da Libertadores, embalado pelo calor da conquista, os atletas e os dirigentes entoaram a plenos pulmões no vestiário rubro-negro a seguinte canção: “Real Madrid, pode esperar, a sua hora vai chegar”. As brincadeiras, as provocações, as zombarias fazem parte do universo do futebol, mas a arrogância não pode embaciar a capacidade administrativa daqueles que conduzem o futebol de um clube.

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O dinheiro mais farto e os títulos talvez tenham atenuado, durante alguns anos, os descaminhos administrativos dos dirigentes flamenguistas e, por motivos que só as divindades do futebol poderão explicar, os equívocos resolveram ser cobrados em 2023. Movido apenas pelos resultados, não há, por parte da direção, uma espécie de projeto de futebol para o clube, que lhe dê uma coerência tática e isso fica claro com as escolhas pouco lógicas dos diversos treinadores que passaram pelo Flamengo.

Depois da saída de Jorge Jesus, lembrando que o seu fantasma jamais deixou de assombrar a Gávea, o clube contou, até agora, com oito treinadores diferentes em um pouco mais de 3 anos, ou seja, são 2,67 mudanças/ano. Seria interessante fazer um Quiz! Você conseguiria nomear, de cabeça, todos os nomes que dirigiram o Flamengo a partir de 2020? Não vou deixá-lo abandonado, meu amigo leitor, segue a lista que, se não fosse o poderio econômico que permite a contratação de bons jogadores, seria a receita para o desastre: Domenec Torrent, Rogério Ceni, Renato Gaúcho, Maurício Souza, Paulo Sousa, Dorival Júnior, Vitor Pereira e Jorge Sampaoli.

O torcedor flamenguista também poderá elencar alguns reforços que não vingaram no clube, no entanto, nesse quesito, nenhuma direção consegue acertar todas as suas apostas. Aqui eu gostaria de fazer um parêntese, o Grêmio está se especializando em produzir “craques de uma temporada” e exemplifico com o Luan e com o Everton Cebolinha. Se eu fosse dirigente não compraria, jamais, as “grandes revelações” do tricolor gaúcho. Deixando a brincadeira de lado, o debacle do Flamengo, ironicamente, começou em meados do ano passado. Naquele momento, o trabalho do português Paulo Sousa fez água e, sem muitas alternativas no mercado, a diretoria do clube resolveu contratar, sem enormes expectativas e longe da badalação de um técnico estrangeiro, o Dorival Júnior.

O novo treinador conseguiu, em pouco tempo, colocar ordem na casa e terminou o ano com duas importantes conquistas: a Copa do Brasil e a Copa Libertadores da América. Todo mundo que acompanha o futebol apostava que o contrato de Dorival Júnior, muito bem- quisto pelos atletas, seria renovado. A direção do Flamengo resolveu tomar outra direção e entendeu que, depois de levantar as duas taças, a equipe teria, nas rodadas finais do Brasileiro, já sem possibilidade de conquista, caído de rendimento e isso teria acendido um sinal de alerta na direção rubro-negra. Ah, se eles soubessem os resultados dessa avaliação…

As bobagens não pararam por aí. Antes mesmo da chegada do novo treinador, a diretoria meteu, mais uma vez, os pés pelas mãos quando resolveu, ao contrário do Palmeiras no ano anterior, desmobilizar o time por quase 60 dias, sabendo que iria disputar o Mundial no início do ano.

Após a saída do Corinthians, repleta, no meu entender, de desculpas estranhas e cínicas, Vítor Pereira, o escolhido para o lugar de Dorival Júnior, desembarcou na Gávea. O português acumulou fracasso atrás de fracasso em um trabalho ridiculamente ruim. Com ele no comando, o clube carioca perdeu os quatro torneios que disputou: a Supercopa do Brasil para o Palmeiras, não avançou para a final do Mundial ao ser derrotado pelo Al-Hilal, caiu na Recopa para o Independiente del Valle e fracassou no Carioca, tomando um belo chocolate de 4X1 para o Fluminense.

Não há time do mundo que mantenha o treinador diante de tantos e fragorosos fracassos. Vítor Pereira, demitido, encheu o bolso de dinheiro e retornou a Portugal para, há poucos dias, dizer que deixou o Corinthians porque o clube não tinha um projeto vencedor. Meu pai sempre me alertou que “quem fala demais dá bom dia a cavalo”. VP perdeu uma linda oportunidade de ficar calado.

O Flamengo, então, contratou o argentino Jorge Sampaoli. O excêntrico técnico, em seus cinco meses de trabalho no rubro-negro, foi incapaz de dar, minimamente, um padrão de jogo para a equipe e, pasmem, depois da derrota para o São Paulo, do alto de sua empáfia e arrogância, afirmou que o Flamengo não tem o seu DNA, não é intenso e que faltou fúria aos seus jogadores. A ausência de fúria, de imposição ou de intensidade é decorrente da desorganização tática do time e é culpa do treinador. Também deve ser creditado em sua conta o pobre repertório ofensivo do Flamengo, mesmo contando, para o nível do futebol brasileiro, com um elenco de grandes jogadores. Os momentos em que o time consegue criar boas jogadas e colocar em perigo a meta adversária, invariavelmente, decorrem da qualidade técnica dos atletas e não de jogadas ensaiadas ou de um esquema tático bem definido, treinado e com movimentos automatizados.

Eu tenho uma hipótese em relação aos trabalhos desenvolvidos por Jorge Sampaoli. Ele é um excelente treinador para times que contam com elencos sem grandes estrelas. Os seus trabalhos mais significativos foram na Universidad de Chile, na seleção chilena, no Sevilla, no Santos e no Olympique de Marselha. Convenhamos que o futebol chileno jamais ocupou uma prateleira elevada no futebol mundial e os outros clubes aqui destacados não contavam, quando Sampaoli os dirigiu, com elencos estrelados. No entanto, quando comandou a Argentina e seus craques mundiais, como Messi, Di María, Higuaín, Agüero, e agora o Flamengo, com atletas menos brilhantes, mas que reluzem no nosso futebol, como Gabigol, Pedro e Arrascaeta, os trabalhos desenvolvidos foram muito ruins e, mesmo que o Flamengo consiga reverter o resultado da primeira partida contra o São Paulo, no Morumbi e conquistar a Copa do Brasil, isso não modificará a avaliação em relação à baixa qualidade do trabalho do argentino. É um ano de frustrações para os flamenguistas.

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