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sábado, 23 de novembro de 2024

Visão de Jogo #40: O “cheirinho”

Na quadragésima edição, Luiz Henrique Borges discorre sobre os pés no chão dos botafoguenses e afasta o clima de "já ganhou" no Brasileirão. O colunista também analisa as equipes brasileiras nas competições sul-americanas

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Por Luiz Henrique Borges

O futebol brasileiro, seguindo o modelo europeu, em boa parte da temporada, guarda os finais de semana para o Campeonato Nacional e as terças, quartas e quintas são reservadas para as Copas. No último final de semana foi disputada a penúltima rodada do primeiro turno e ela foi benéfica para o líder do Brasileirão. O Botafogo, mesmo sendo dominado pelo Cruzeiro, em Minas Gerais, empatou sem gols o confronto e voltou para casa com um pontinho na bagagem. Além disso, contou com os tropeços dos concorrentes que estavam mais próximos, para ampliar para 13 pontos a diferença para o segundo colocado. O único ponto bastante negativo foi a contusão do artilheiro Tiquinho Soares. 

A partida disputada no Mineirão foi, não tenho dúvida, a pior apresentação que o Botafogo realizou ao longo do primeiro turno. Em um jogo relativamente morno, o clube carioca entrou, claramente, com a proposta de jogar fechado buscando contra-atacar, mas a tática não foi bem executada. Os mineiros tiveram mais a bola e criaram as melhores chances que só não resultaram em gols por dois motivos: pela atuação da defesa botafoguense, a melhor do campeonato até o momento e pelas intervenções de Lucas Perri, o gigantesco goleiro, na altura e na qualidade, que o Botafogo trouxe da Série B no ano passado. Como o meu amigo Ruy Cesar costuma dizer – eu concordo inteiramente com ele – que o analista do Botafogo que enxergou o potencial do goleiro que atuava no Náutico acertou em cheio. 

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Como os meus amigos sabem que eu sou botafoguense, venho recebendo diversas mensagens de congratulações, como se a conquista do título já estivesse garantida e que levantar a taça é apenas uma questão de tempo em virtude da campanha, até o momento, muito segura da equipe alvinegra e da vantagem de pontos conquistada em relação aos seus concorrentes. O problema é que esse negócio de “cheirinho” fica para um outro rival, isso nunca me soou bem. Eu jamais contei como o ovo no Ú da galinha. Sendo assim, eu prefiro manter os dois pés bem ancorados no chão e continuar com os objetivos que tracei ainda antes do Brasileirão iniciar. Primeiro objetivo, realizar um campeonato seguro e não ser rebaixado. Apesar do Botafogo ainda não ter alcançado o número mágico, 45 pontos, eu também não sou tão pessimista ao ponto de afirmar que o Glorioso não alcançou a meta. 

O foco agora é conseguir uma vaga para a Libertadores da América do próximo ano. Neste intento, serei otimista. Se, inicialmente, eu ficaria feliz em disputar a etapa anterior a fase de grupos, agora já não é mais suficiente. Para garantir o importante objetivo, a contagem necessária de pontos depende diretamente dos resultados dos clubes brasileiros nas diversas Copas, mas sendo bastante conservador, com mais 20 pontos estaremos na fase de grupos da Libertadores do próximo ano. Para conquistar o título, e para isso vamos torcer para que nenhum dos concorrentes diretos consiga uma sequência impecável de bons resultados, mais 10 vitórias, 30 pontos, podem ser o suficiente, afinal, desde 2014, a única equipe que foi vice-campeã com 74 pontos conquistados foi o Santos de 2019. 

Ainda sobre o alvinegro, em jogo pela Copa Sul Americana, contra o Guaraní, o treinador Bruno Lage, corretamente, poupou 8 titulares e conseguiu sair de Assunção classificado para a próxima fase da competição após um empate sem gols. No final da partida, uma repórter perguntou ao Júnior Santos por qual motivo a equipe, na competição continental, não realizava uma campanha tão sólida quanto a que faz no Brasileirão? O atleta claramente tergiversou em sua resposta e eu, ao contrário do jogador botafoguense, serei rápido e claro. O elenco do Botafogo não é tão gabaritado para disputar duas competições mantendo o mesmo nível competitivo e a prioridade tem que ser o Campeonato Brasileiro.

Além do Botafogo, outro clube do Rio se beneficiou bastante na rodada, o tricolor das Laranjeiras. O Fluminense derrotou o Palmeiras por 2X1 e alcançou a mesma pontuação do Flamengo, vice-líder, com 31 pontos. A diferença na tabela entre o Fla e o Flu é bastante sútil, empatados em pontos, em número de vitórias e no saldo de gols, a vantagem flamenguista se encontra no número superior de gols marcados. 

Do, muitas vezes maltratado, futebol carioca, apenas o Vasco da Gama não ocupa uma posição de destaque na tabela do Brasileirão, afinal as três primeiras posições são ocupadas por clubes do Rio de Janeiro. No entanto, a tradicional equipe cruzmaltina conseguiu uma vitória muito importante contra o Grêmio e, não tenho dúvida, deu um alento aos atletas e, principalmente, aos torcedores, de que a equipe pode se recuperar na competição e evitar o rebaixamento. O caminho ainda é árduo e as vitórias, na derradeira rodada, de Bahia e Goiás, não ajudaram, mas romper com a sequência negativa de resultados pode trazer novos ares e muito mais otimismo para o Vasco.

Muito preocupados devem estar os torcedores santistas. O clube do litoral paulista aderiu à receita do rebaixamento. Péssimo planejamento, falta de recursos, clube endividado, equipe pouco qualificada e constante troca de comissões técnicas. Os dirigentes do Santos não podem sequer estar surpresos, a tragédia já vem sendo anunciada há pelo menos duas temporadas, além disso, como não um projeto de trabalho, os técnicos escolhidos ao longo de 2023, Odair Hellmann, Paulo Turra e agora Diego Aguirre, possuem ideias de futebol totalmente distintas e isso significa o início de um novo trabalho. Só que o momento não é o mais propício, o mais conhecido clube brasileiro no exterior, ingressou no Z4 e, quando um time tradicional, sem o hábito de vivenciar a zona da degola, entra nessa areia movediça, parece que os atletas já saem do vestiário para o gramado carregando uma âncora que pesa mais de cem mil toneladas. Eu sei do que estou falando! 

Na Copa Libertadores da América, o Palmeiras, mesmo sem vencer o Atlético Mineiro no jogo em São Paulo, fez um duelo seguro e avançou mais uma vez para as quartas de finais da competição e é favorito contra o Deportivo Pereira. Imagino, e é apenas um desejo, o duelo entre Palmeiras e Boca Juniors, de Cavani, em uma das semifinais. Será de tirar o fôlego!

O Internacional, na terça-feira, fez um jogo inesquecível e conseguiu, com enorme dramaticidade, eliminar o River Plate e agora enfrentará o Bolívar que tem como importante aliada a altitude de La Paz. Após o Fluminense derrotar, com uma boa dose de suspense, o Argentinos Juniors, a imprensa passou a alardear que ocorreria o maior Fla-Flu de todos os tempos. Olha o que eu falei do “cheirinho” lá em cima. No futebol, nós temos o direito de fazer previsões, mas nunca de ditar certezas. Apático, irreconhecível, um time sem determinação, garra e coração, o Flamengo foi atropelado pela apenas esforçada equipe do Olimpia do Paraguai. Por que o clube de mais de 1 bilhão de reais não consegue construir um caminho mais hegemônico no futebol brasileiro e sul-americano? Será um bom assunto para uma crônica futura.

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