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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Coluna Visão de Jogo #31 – A alegria é em preto e branco

Nosso colunista Luiz Henrique Borges reflete sobre a trajetória do Botafogo dentro da Série A do Campeonato Brasileiro

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Foram 155 semanas e 155 crônicas seguidas, mas, na semana passada, as atividades laborais, acrescidas de um evento social de grande significado, a posse do amigo e ex-chefe, Saulo Diniz, cruzeirense roxo, para ocupar a Cadeira de número 100 do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal (IHGDF) e o aniversário de 82 anos do meu pai, romperam a, até então, invicta série de escritos. Espero que meu assíduo leitor me perdoe, mas foram momentos pessoais muito importantes para este cronista.

Me perdoe também pelo arroubo, mas desde tempos quase imemoriais quando se pensa no tempo cronológico do futebol, eu não gritava, a plenos pulmões, “Eu sou líder do Brasileirão. Car⛈️🌪️💣☠️”. Busque na memória, meu amigo, qual foi o último ano em que a Portuguesa jogou na Série A? É muito provável que você não se lembre. Mas afirmo, sem medo de errar, faz tanto tempo quanto a última vez que o Botafogo liderou a Série A do Campeonato Brasileiro. Isso ocorreu no longínquo, quase esquecido nas brumas do passado, envolto por lendas e mitos, ano de 2013, quando o alvinegro carioca derrotou, no mês de agosto, pela 15a rodada, exatamente a Portuguesa no Canindé.

Depois de tanto tempo, no último final de semana de abril, contra o nosso principal rival, o multimilionário Flamengo, chegamos no topo da tabela. A vitória contra os rubro-negros foi épica e contou com todos os ingredientes do drama. O protagonista e o antagonista, representados respectivamente pelo Botafogo e pelo Flamengo que ainda recebeu o reforço inesperado do irresponsável Rafael e sua ridícula expulsão. O coro, parte integrante de qualquer drama, também esteve presente na figura das torcidas que comentam de forma muito peculiar todas as ações que ocorrem ao longo do espetáculo.

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Ainda está faltando o último e, talvez, mais importante elemento do drama: a Catarse. Ela só entrou em cena depois de muita angústia e sofrimento. A sua apoteótica e triunfal aparição ocorreu quando a juíza do confronto apitou pela derradeira vez. Fiel ao seu sentido, a Catarse purificou os botafoguenses, permitiu que todos os alvinegros, tomados pelo mais perverso nervosismo enquanto acompanhavam o clássico carioca, passassem por um processo de purgação capaz de apaziguar todas as angústias vivenciadas no duelo disputado no Maracanã. A purgação foi seguida por uma explosão de alegria, euforia em preto e branco.

Superado o Flamengo, no meio da semana, o Botafogo não jogou bem e só empatou, em casa, com a equipe equatoriana da LDU pela Copa Sul-Americana. Será que o gosto amargo que restou depois do empate e da má atuação prenunciava a perda da liderança no domingo no Campeonato Brasileiro? Alguns torcedores adversários, que se dizem amigos, destilando o mais torpe veneno de suas reptilianas bocas, afirmavam preconceituosamente, que “alegria de pobre dura pouco” e, para deixar os corações dos supersticiosos botafoguenses – qualificação que peca pela redundância – ainda mais aflitos, no sábado, o Cruzeiro venceu o Santos e assumiu, pelo critério do saldo de gols, a liderança do Campeonato.

Certamente as agourentas profecias, repletas de inveja, tinham um fundo de verdade. Não há sossego no Brasileirão, as pedreiras se sucedem rodada após rodada. Superado o último campeão do continente era a vez de enfrentar o Atlético Mineiro do artilheiro Hulk. O alvinegro de BH não emplacou nas mãos de Eduardo Coudet, mas é uma equipe que conta com jogadores que merecem muito respeito.

Contrariando os seus detratores, o Botafogo começou o jogo de forma intensa e, apesar do clube mineiro ter rondado com algum perigo a muralha que se transformou o gigante goleiro Lucas Perri, foi o Glorioso que, com mais volume de jogo, acabou coroado com um golaço, de letra, de Victor Sá.

A estrela solitária manteve a postura agressiva na etapa final. Coube à cria da casa, Matheus Nascimento, que ainda não desencantou como atleta profissional, empurrar a bola para as redes, depois de um bate e rebate dentro da área. Abatido, o Atlético Mineiro não esboçou reação e terminou engolido tática e tecnicamente pelo Botafogo que ainda desperdiçou algumas chances de ampliar o resultado. A vitória, por 2X0, deu aos “pobres” mais uma rodada de alegria.

Vencemos o São Paulo, o Bahia, o Flamengo e o Atlético Mineiro. Poderíamos ter um refresco na rodada seguinte? Não, era o momento de enfrentar o Corinthians. O clube paulista não se encontra em um bom momento, ainda assim é um clube que sempre se caracterizou por superar as adversidades. Mas, dessa vez, só deu Botafogo. Embalado por seu torcedor, o clube carioca começou jogando em um 4-2-3-1, com Junior Santos e Victor Sá abertos pelos lados e Eduardo se aproximando para ajudar o Tiquinho Soares. Logo nos minutos iniciais, o ataque botafoguense se aproveitou da fragilidade corintiana nas bolas altas e abriu o placar.

O Timão, em desvantagem, tentou criar algumas jogadas pelos lados, mas as dificuldades da equipe para realizar as triangulações e criar algum desconforto para a defesa botafoguense eram evidentes. Na etapa final, o clube carioca buscou explorar os espaços deixados pelo adversário para contra-atacar em velocidade. A estratégia do Glorioso surtiu efeito e depois de uma cobrança de falta corintiana, Gabriel Pires iniciou o contra-ataque e acionou o veloz Júnior Santos que acabou derrubado dentro da área. Tiquinho Soares bateu forte e marcou o seu segundo gol no jogo.

Com o placar ainda mais adverso, os jogadores corintianos não conseguiram reagir. Já nos minutos finais, em outro contra-ataque, Eduardo marcou o terceiro e último gol do jogo. A torcida, inflamada, gritava empolgada e feliz, “olé”, enquanto os comandados de Luís Castro tocavam a bola esperando pelo apito final.

Com o resultado, o Botafogo retornou à liderança que lhe havia sido tomada na véspera pelo Palmeiras. No próximo domingo, o clube carioca irá até Goiânia para enfrentar o Goiás que, apesar de ser forte candidato ao rebaixamento, deve ser mais um osso muito duro para roer como são todas as 38 rodadas do campeonato.

Mantendo a identidade botafoguense, ao contrário dos flamenguistas que já estariam “sentindo o cheirinho”, estou muito feliz com o desempenho do time, mas com os pés fincados no chão. O Botafogo está atuando bem e apresentando variações na sua forma de jogar. No entanto, é um elenco muito enxuto para uma competição tão longa. Tá na hora do Textor colocar a mão no bolso e encorpar o grupo. Mas no momento eu só quero gritar: “E ninguém cala / Esse nosso amor / E é por isso / Que eu canto assim / É por ti Fogo”.

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