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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Coluna Visão de Jogo 23: Como é bom entrar em um estádio

Nesta edição da Coluna Visão de Jogo, Luiz Henrique Borges fala sobre o sentimentalismo de adentrar a um estádio de futebol e assistir Campinense x Grêmio. Em outro momento, o colunista aborda a partida tenebrosa do Botafogo na Copa do Brasil

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Por Luiz Henrique Borges

Não interessa quantas vezes eu já fui a um estádio ou qual é o seu tamanho, se ele é acanhado, com pouco conforto como o Diogão da cidade de Formosa, localidade em que vivi por mais de uma década, ou se é um confortável e imponente estádio de Copa como o Maracanã ou o Mané Garrincha, em Brasília. O certo, o imutável, é que eu nunca perco o encantamento quando entro no corredor que dá para as arquibancadas e vejo o gramado. De noite, quando os refletores estão ligados, a sensação de arrebatamento é ainda maior.

Na última quarta-feira, o meu grande companheiro dos jogos do Formosa no Diogão, o doutor Tales Dilli, veterinário das minhas cachorras, chamadas carinhosamente de “minhas menininhas”, me convidou para assistir o seu time do coração, o Grêmio, que jogou pela Copa do Brasil aqui em Brasília contra a Campinense, equipe do interior da bela e simpática Paraíba. Além de levar o seu pai, o seu George, também gremista, o Tales está preocupado com as novas gerações de torcedores e, por isso, “convidou” a Luísa, sua filha de 8 anos, para assistir o jogo. O seu intuito, ao levá-la pela primeira vez a um estádio, é para que ela fosse picada, em definitivo, pela “mosquinha tricolor”.

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Em decorrência da pandemia, eu passei os últimos anos assistindo aos jogos pela televisão e, desde que recebi o convite do Tales, mesmo não sendo uma partida que envolveria o meu time, fui tomado por aquela boa ansiedade, tão comum em alguém que aguarda um evento ou uma viagem muito desejada. Entrar em estádio de futebol é, para mim, uma experiência sensorial completa com os cheiros, os sons e as visões únicas do ambiente e das pessoas irmanadas ao lado das equipes pelas quais elas torcem. É, literalmente, tomar parte da cultura do futebol.

O Grêmio exercitou um monólogo durante os 90 minutos diante da fragilidade de seu adversário. Mesmo em alguns momentos em que o tricolor parecia preguiçoso, como no início da etapa final, o domínio da equipe gaúcha foi completo. A representação paraibana foi esforçada, mas, exceto por seu goleiro, não demonstrou os recursos técnicos mínimos para enfrentar o time dirigido por Renato Gaúcho. O tricolor teve controle absoluto da partida e deu uma aula de jogo coletivo. O placar final, 2X0, foi bem modesto e também se deveu as excelentes defesas de Otávio, o goleiro do rubro-negro, que, a meu ver, foi o melhor jogador em campo.

Contar com grandes jogadores é muito interessante para os clubes. Um dos argumentos utilizados pelo meu amigo para me convencer a ir ao jogo, como se fosse necessário, foi a presença de Luis Suárez. Como é bom assistir os craques. O toque de calcanhar do jogador uruguaio, no primeiro gol do seu time, já valeu o ingresso e me fez lembrar o refinado tratamento que Seedorf, no Botafogo, dava para a bola. Ver o Suárez, sua capacidade de matar a bola, de fazer o pivô, de tabelar com seus companheiros, me fez não só reviver as sensações, já quase esquecidas de ter um craque em meu time, como reforçou a minha convicção de que o Botafogo precisa investir em um jogador que seja capaz de arrastar os torcedores para o estádio.

No dia seguinte, durante o confronto contra o Sergipe, distante das luzes, dos sons, dos odores do estádio, mas confortavelmente sentado no meu sofá, minha certeza de que o Botafogo precisa não só contar com um craque, mas também reformular de modo considerável o seu elenco aumentou exponencialmente. A equipe que leva o nome de seu estado, carinhosamente chamada de Gipão, além de extremamente valente e laboriosa, é muito bem treinada. No entanto, tecnicamente, como todos os clubes com investimentos baixos, ela apresenta um quadro de jogadores mais modesto.

Ao final dos 90 minutos, o Botafogo se classificou para a próxima fase da Copa do Brasil, mas o desempenho do clube carioca foi lamentável. A equipe se mostrou inoperante ofensivamente e muito frágil e exposta defensivamente. Sua atuação foi desastrosa e o sofrido empate, gol do zagueiro Adryelson aos 54 minutos do segundo tempo, só classificou o Botafogo em virtude das ótimas defesas do goleiro Lucas Perri. Se justiça e futebol fossem parceiras, certamente o Sergipe teria vencido, com facilidade, o confronto.

Da turma dos Lucas que o Botafogo tem no grupo não tenho como abordar o futebol de Lucas Mezenga. O zagueiro é reserva e praticamente não é escalado. Dos outros três, só o goleiro demonstrou, até agora, capacidade para envergar a camisa do Glorioso. Sinceramente, não sei o que levou o Textor, dono da SAF botafoguense, a comprar o Lucas Piazon e o Lucas Fernandes. Contar com esses caras no meio campo é ter a certeza de que o ataque não será municiado.

Também me assustei com a atuação do Rafael. Como torcedor do clube, ele poderia ficar nas arquibancadas, mas como jogador de futebol ele precisa se aposentar. Desde o seu retorno ao Brasil, ele se machucou diversas vezes e, nas poucas partidas que fez, jogou muito mal. A expulsão contra o Vasco foi ridícula e, ontem, a lateral direita, poderia ser chamada de Avenida Rafael.

Também estou cansado com a tal da promessa chamada Matheus Nascimento. Desde quando alguém pode ser promessa jogando profissionalmente há pelo menos três anos? Entendo que ele ainda é jovem, acabou de completar 19 verões. Contudo, a não ser por algumas faíscas de talento, ele pouco acrescenta ao time. Não sei se ele ainda não tem a maturidade física e mental para atuar no grupo principal ou se ele não irá se tornar o talento esperado, fato que é muito comum na transição para o profissionalismo. Neste sentido, não seria melhor aproveitá-lo no sub-20? Independente da decisão, o certo é que o Textor, após a suspensão do Tiquinho Soares, precisa colocar sua mãozinha no bolso e trazer um bom atacante para o clube.

A atuação do Botafogo pode ter sido horrorosa, mas as entrevistas do treinador português, Luís Castro, são sempre muito boas. Em Aracaju não foi diferente. Ele não fugiu das perguntas e como um líder deve fazer, trouxe para si a responsabilidade pelo péssimo desempenho. O treinador deixou claro que o seu time jogou muito mal e que o adversário foi bem superior ao longo de quase todo o jogo, exceto nos seus minutos finais, quando o Sergipe já estava fisicamente extenuado.

Provavelmente, em uma tentativa de poupar os seus comandados, Castro só tangenciou a pergunta sobre os reforços. Ele respondeu ao jornalista: “Não falo mais em reforços. Já falei o que tinha para falar e não vou me refugiar em falta de reforços para justificar o mau momento que estamos vivendo”. Ele pode não falar, mas eu vou: – Textor, se você não reforçar o time, o rebaixamento no Brasileirão tá logo ali. Coloca a mão no bolso!

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