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segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Coluna Visão de Jogo 19: O futebol nada tem de galileano

Luiz Henrique Borges aborda detalhes sobre a última Supercopa do Brasil, em Brasília, em mais uma edição da Coluna Visão de Jogo

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Por Luiz Henrique Borges

Flamengo e Palmeiras realizaram, no último sábado do interminável janeiro de 2023, uma partida de tirar o fôlego. Durante o emocionante confronto me comuniquei várias vezes com meu amigo Guilherme, o flamenguista fanático e, em determinado momento, afirmamos a seguinte heresia: “o ingresso valeria os R$ 500,00”. Depois do espetáculo realizado, sob o impacto da partida repleta de emoções e sem ter gastado quase meio salário-mínimo, a afirmação se torna fácil de ser dita, soando um quase arrependimento.

De cabeça fria, continuo afirmando que os preços dos ingressos são desrespeitosos com a maior parte dos torcedores brasileiros, pessoas humildes e que passam pelos maiores perrengues para garantirem a própria sobrevivência.

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Concordo com outro grande amigo, Leonardo Valadares. Após a final da Supercopa do Brasil, ele afirmou que foi um grande jogo e, me permitam transcrever suas palavras: “Pena que jogos assim são um oásis no deserto por aqui”. Realmente não é rotineiro assistirmos uma partida tão bem disputada, emocionante e de bom nível técnico, apesar das falhas cometidas pelas duas equipes.

A defesa do Flamengo, no meu entender, apresentou grande fragilidade. David Luiz falhou em três gols do adversário. No primeiro gol, por exemplo, ele matou a bola nos pés do atacante palmeirense. No segundo gol, perdido no meio da defesa, ele deixou um latifúndio para o belíssimo chute, certeiro, de Gabriel Menino. No terceiro gol, novamente mal posicionado e, me parece já sem vigor físico, ele salta a altura de um meio-fio e não consegue cortar o cruzamento que terminou no pênalti cometido por Everton Ribeiro.

Discuti muito com meu amigo flamenguista, o Guilherme, ao longo do jogo, via Whatsapp, sobre a atuação do zagueiro flamenguista. Ele afirmou peremptoriamente, com ares de superioridade e beirando à arrogância, que eu estava sendo injusto com David Luiz e que ainda estava ressentido com a vergonhosa derrota brasileira por 7 a 1 contra a Alemanha.

Neste ponto, ele não errou. Jamais engolirei a derrota na Copa de 2014. Mas, curioso, é que em determinada parte da discussão, ele deixou escapar que, por ser flamenguista, ele precisa defender o jogador do seu clube e veio com aquele papo de que o defensor é importante pela liderança que exerce no grupo. Eu entendo o papel desempenhado pelo líder, algo que faltou, por exemplo, na Seleção Brasileira na última Copa do Mundo. No entanto, ela, por si só, sem ser acompanhada da capacidade técnica, não é suficiente para justificar a escalação de qualquer jogador.

Na verdade, nunca achei o zagueiro um primor de jogador e sempre entendi que melhor do que ele, são os seus empresários que conseguiram colocá-lo em grandes equipes ao longo de sua carreira. Não estou afirmando que ele é um completo “perna de pau” e não faça boas partidas. No entanto, quanto mais próximo o atleta atua do seu gol, menos ele pode falhar. O goleiro, por exemplo, pode fazer centenas de defesas impossíveis ao longo de uma partida, mas se ele errar uma única vez, e pior ainda, se o seu time sair derrotado, nada do que ele fez será lembrado. Fica o frango!

A dramaticidade vivenciada pelos zagueiros é um pouco menor, mas eles também não podem errar e o zagueiro do Flamengo comete erros com frequência. Para encerrar o assunto, considero o David Luiz um excelente jogador e adoraria tê-lo no meu time para o jogo entre casados e solteiros, naquele churrascão de final de ano.

Na próxima terça-feira, dia sete, o Flamengo jogará uma das semifinais do Mundial de Clubes. Mais uma vez, o clube carioca partiu do Rio de Janeiro abraçado por sua torcida. A expectativa é que o rubro-negro jogue a final contra o poderoso Real Madrid. Os europeus, até o momento, sempre “bateram o ponto” na finalíssima, no entanto, os clubes sul-americanos fracassaram em algumas oportunidades.

Entendo que o Flamengo, em relação à última participação, em 2019, possui um time, na linguagem do futebol, mais cascudo. Ao contrário do que alguns acreditam, não é uma equipe mais envelhecida. Na ciranda de entradas e saídas que caracteriza o nosso futebol, a média de idade do grupo que jogou em 2019 é a mesma da atual. O time está mais cascudo exatamente porque atletas importantes, como Gabigol, Everton Ribeiro, Arrascaeta, estiveram no grupo de 2019 e, agora, estão mais experientes e, de grande importância, mantiveram a boa qualidade técnica. Em outras palavras, a competição não terá, para o grupo flamenguista, o mesmo ineditismo que teve há um pouco mais de três anos.

O Real Madrid, principalmente em decorrência da gigantesca diferença financeira entre os principais times dos dois continentes, é o grande favorito, mesmo com os diversos desfalques que os merengues tiveram. Além disso, o momento em que as duas equipes se encontram tende a favorecer os espanhóis. Aqui no Brasil, estamos no início de temporada, os times, nesta etapa, cometem mais falhas e estão distantes do ápice técnico e tático, enquanto na Europa os clubes já se encaminham para as fases decisivas de seus campeonatos, ou seja, eles já se encontram muito bem entrosados. A situação do Flamengo se torna um pouco mais difícil, e já havia feito tal ressalva na crônica passada, na medida em que o time carioca também possui uma nova comissão técnica.

Nada do que falei acima significa que as favas estão contadas. Felizmente, ao contrário de outros esportes, menos afeitos aos resultados inesperados, no futebol as “zebras”, de diversos tamanhos, passeiam pelos gramados de futebol. O Flamengo também precisa se atentar para o ardiloso “animal”, uma vez que ele terá um perigoso confronto, ou contra o Al Hilal, ou contra os donos da casa, o Wydad Casablanca, na semifinal.

Jogos únicos são sempre imprevisíveis e nem sempre o time mais qualificado terá êxito. O São Paulo em 2005 e o Internacional em 2006 foram massacrados pelo Liverpool e pelo Barcelona respectivamente, mas contaram com os poucos erros que seus adversários cometeram, com as grandes atuações de seus goleiros e com doses imensas de sorte para conquistarem o título.

Se os prognósticos se concretizarem, a decisão será entre Real Madrid e Flamengo. O clube espanhol é superior tática e tecnicamente ao seu adversário. Acho que ninguém duvidaria, a não ser os torcedores muito fanáticos, que em um campeonato de pontos corridos, seja o Brasileirão ou LaLiga, o Real Madrid abriria, no mínimo, uma dezena de pontos na frente do Flamengo ou de qualquer outro clube brasileiro. Mas, em apenas 90 minutos, a Esperança e o Inesperado, perigoso casal, podem se fazer presentes e eles, como todos os seres mágicos que habitam os estádios e os campos de futebol, são capazes de alterar qualquer resultado, inclusive transformar a lógica vitória em uma dolorida derrota. O futebol nada tem de galileano, afirmaria a historiadora Michelle dos Santos.

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