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segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Coluna Visão de Jogo #15: Um treinador estrangeiro, por que não?

Nesta edição da Coluna Visão de Jogo, Luiz Henrique Borges discute a possibilidade de um treinador estrangeiro na seleção brasileira

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Por Luiz Henrique Borges

Finalizada a Copa do Mundo, o primeiro desafio da CBF para o próximo ciclo, que será meio ano mais curto, é escolher o novo treinador da Seleção Brasileira. Meses antes do Mundial, Tite já havia anunciado a sua saída, independente do resultado. Na expectativa de conquistar o hexacampeonato, o treinador brasileiro acreditou que o mercado europeu se abriria para ele, como se deu com Carlos Alberto Parreira em 94, quando foi comandar o Valencia e com Luiz Felipe Scolari em 2003, que se tornou o técnico da Seleção Portuguesa. Após a eliminação para a Croácia, a imprensa divulgou que o estafe de Tite trabalha com cinco ofertas, de três seleções e dois clubes da Europa, mas não há pistas dos interessados. Certamente, o treinador gaúcho saiu do Mundial bem menor do que entrou, o que me faz pensar se há efetivamente o interesse divulgado, ou não seria apenas uma estratégia dele e de seus assessores de tentar recuperar algo do prestígio perdido. Se há o interesse, resta uma outra pergunta: os supostos pretendentes figuram na primeira prateleira do futebol mundial?

Bem, os caminhos que o Tite seguirá não fazem parte do meu rol de dúvidas. Da minha parte, no momento, eu tenho duas grandes curiosidades, a primeira, relacionada às mudanças políticas gerais e no local em que trabalho: quem será o novo ou a nova presidente do Iphan e a segunda questão, quem dirigirá a Seleção Brasileira.

Distinto de diversas outras escolhas para um dos mais espinhosos cargos existentes no Brasil, não há atualmente em nosso futebol um nome unânime para ser escolhido para dirigir a seleção. No início dos anos 80 e depois em 86, o nome de Telê Santana era indiscutível. Em 1994, se o nome de Parreira não era unânime, ele era um treinador renomado e muito respeitado. Na Copa de 98, Zagallo, além de tricampeão mundial, ele havia sido o coordenador técnico da seleção tetracampeã, ou seja, ele foi um nome de continuidade. Após 1998, novos nomes unânimes apareceram: Wanderley Luxemburgo, seguido por Felipão. Ninguém discutiu os retornos de Parreira e Felipão para os ciclos de 2006 e 2014 respectivamente. Tite, em 2016, alçou ao comando da Seleção Brasileira de forma incontroversa.

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Não faço parte daqueles que acreditam que todos os treinadores brasileiros estão defasados taticamente em relação ao futebol europeu. Há treinadores estudiosos, que buscam se aperfeiçoar e entendem que é preciso superar o hiato entre o trabalho em campo e o conhecimento acadêmico. Mas, não vejo atualmente um nome que carregue a unanimidade dos torcedores brasileiros.

O falastrão treinador do Grêmio, Renato Gaúcho, criticou a possibilidade do Brasil ser comandado por um estrangeiro. Os argumentos por ele utilizados são frágeis e corporativistas. O primeiro argumento é que somos o país com mais títulos mundiais. É verdade, vencemos cinco Copas do Mundo, contudo perdemos outras dezessete. Outro contra-argumento é que a Holanda, que nunca venceu um Mundial, já produziu grandes treinadores que revolucionaram o futebol mundial, no entanto, pela ótica de Renato Gaúcho, a Real Associação Neerlandesa de Futebol, a CBF deles, deveria buscar um técnico entre os países campeões do mundo, afinal é apenas neste seleto universo que existiria vida inteligente para comandar uma seleção.

A metralhadora falante continuou: “A gente costuma falar com todo respeito, tem grandes treinadores lá fora também, mas é muito fácil você ter um time de R$ 1 bilhão. Põe um treinador brasileiro para treinar um time de R$ 1 bilhão lá fora, vamos ver”. O treinador do Grêmio ainda não aprendeu que o peixe morre pela boca.

Quando foi cobrado, em 2020, em relação à qualidade do futebol apresentado pelo Grêmio, ele afirmou: “Futebol bonito vocês têm que cobrar do Atlético Mineiro e do Flamengo. Essas duas equipes têm a obrigação de apresentar futebol bonito, pelo que gastaram. Se um dia a diretoria do Grêmio, o presidente do Grêmio falarem assim: ‘Olha, Renato, você tem R$ 200 milhões para contatar’. Aí pode me cobrar futebol bonito. Enquanto isso não acontecer, vai ter partidas com altos e baixos”. No ano seguinte, ele dirigiu o “clube de R$ 200 milhões”. Após um bom início no Flamengo, a qualidade técnica apresentada pela equipe despencou e Renato não conquistou nenhum título. Lógico que os investimentos são importantes para formar um time vitorioso, mas eles não são a única variável que precisa ser levada em conta e o fracasso de Renato Gaúcho é prova disso.

Se a ingênua hipótese construída por nosso principal personagem da crônica desta semana tivesse um fundo de verdade, a seleção campeã do mundo em 2022 seria a Inglaterra. Os seus atletas são avaliados em 1,49 bilhão de euros e o Brasil, mensurado em 1,45 bilhão de euros, teria realizado uma disputa acirradíssima com os inventores do futebol e teria sido vice-campeão. Na realidade, perdemos para a “pobre” Croácia, cotada em 478 milhões de euros.  Não vamos nos deter em todas as seleções, mas vale a pena perceber que a campeã, a Argentina, amargaria, pela lógica monetária, uma longínqua 8° posição, uma vez que seus jogadores alcançaram o “o parco” valor de 748 milhões de euros. O treinador gaúcho não entende ou finge não entender que clubes e seleções não podem ser tratados pela mesma métrica, especialmente no que tange aos valores monetários.

O argumento de que o Brasil é uma mãe na medida em que não exigimos a carteirinha de treinador para os estrangeiros e que o brasileiro não consegue trabalhar lá fora por não ter a qualificação acadêmica exigida é outra questão, no mínimo, discutível. Renato e diversos outros treinadores exerceram a atividade de técnicos de futebol durante anos exatamente porque o Brasil não exigia que eles tivessem o certificado para exercer a profissão, ou seja, eles se beneficiaram do nosso caráter “materno”.

Para gerir um grupo de estrelas como é a Seleção Brasileira, repleto de vaidades, eu entendo que um treinador reconhecido, cascudo, experiente e, em certa medida, maior que os próprios jogadores, não é necessariamente sinônimo de êxito, mas pode se tornar um diferencial para que a equipe apresente um bom futebol e lute pelos principais títulos. Não encontro, entre os treinadores brasileiros em atividade, alguém que cumpra com tais requisitos.

É engraçado encontrar um treinador que defendeu nas últimas eleições o candidato dito liberal, mas que atua em favor de reserva de mercado quando se trata do seu espaço de trabalho. O nome disso é hipocrisia.

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