Por Luiz Henrique Borges
Domingo, iniciará a Copa do Mundo, evento que capitaliza minha atenção desde 1978, Copa da Argentina. Completada minha primeira década de vida, foi o primeiro mundial que forjou minhas memórias. Acompanhei a competição vivamente e lembro que após a final na qual a Argentina derrotou a Holanda, na prorrogação, meu pai me chamou para caminharmos e no trajeto que estávamos acostumados a fazer senti um grande vazio. Essa é a história da Coluna Visão de Jogo deste sábado.
No Mundialito de 1981, disputado no Uruguai, comecei a sentir orgulho pelo futebol vistoso e altamente técnico da seleção dirigida pelo inesquecível Telê Santana. As excelentes atuações, as vitórias, o futebol envolvente me fizeram chegar no ano seguinte, na Copa da Espanha, com a certeza da conquista. Quem poderia parar o meio-campo brasileiro, formado por Cerezo, Zico, Sócrates e Falcão?
Sempre torcendo por Davi contra Golias, estive ao lado de Camarões do elástico goleiro N´Kono e do perigoso atacante Roger Milla que voltou a brilhar na Copa de 90 quando já era um quarentão. Também me emocionei com as defesas do sensacional arqueiro Arzú de Honduras. Apesar das dificuldades da estreia brasileira contra a extinta União Soviética, o Brasil desfilou qualidade em campo na primeira fase e no jogo contra a Argentina de Diego Maradona, colecionando boas jogadas e gols de tirar o fôlego. Também vivenciei a maior decepção que já tive no futebol. O Brasil só precisava empatar contra a cambaleante Itália. A seleção europeia chegou à Espanha cercada por escândalos na sua loteria, em conflito com a imprensa e empatou todos os jogos da fase inicial. No entanto, na fase seguinte, os italianos venceram a Argentina e nos superaram em uma partida tensa e emocionante. Após desencantar, a Azzurra voou em céu de brigadeiro até o título.
Escaldado com a eliminação na Espanha, estava bem menos empolgado na Copa do México, em 1986, mas isto não diminuiu a frustração com a eliminação para a França nas penalidades máximas. Sem medo de repetir o lugar comum, foi a Copa de Maradona. O craque argentino fez de tudo, de gol de mão até golaços inesquecíveis e capazes de fazer o locutor de seu país, Victor Hugo Morales, chorar durante a narração.
Após a conquista da Copa América de 1989, na qual brilhou a dupla Bebeto e Romário, fiquei animado com as possibilidades para a Copa de 1990. Pela primeira e única vez comprei uma camisa amarela oficial da Seleção Brasileira. A camisa era da Topper, empresa que se encontrava no mercado brasileiro desde 1975 e que forneceu os uniformes para a nossa seleção nas Copas de 1982, 1986 e 1990. Nunca mais comprei e usei uma camisa oficial do Brasil. Caro leitor, me sinto na obrigação de fazer um esclarecimento, meu “afastamento” da camisa amarela não possui relação alguma com as questões políticas contemporâneas, mas ele se deu em virtude da frustração com a pífia campanha que culminou com a derrota para a Argentina e, supersticioso como todo botafoguense, a derrota me deu a certeza de que a culpa pelo nosso fracasso foi em decorrência da minha compra.
Os Estados Unidos sediaram a Copa de 1994. As dificuldades vivenciadas durante as Eliminatórias e a teimosia em não convocar o atacante Romário, que só foi chamado para o jogo decisivo contra o Uruguai, não me davam muita esperança em relação ao título. Impactado pela goleada colombiana sobre a Argentina virei alvo de deboche do meu pai quando afirmei que a seleção do cabeludo Valderrama era uma das favoritas ao título. O Brasil, de Parreira e Zagallo, jogou um futebol pouco vistoso, mas muito seguro e com uma dupla inspirada: Bebeto e Romário. A esperança foi crescendo na mesma proporção que as fases eram superadas. A final, apesar de insossa, um teimoso zero a zero, foi muito emocionante. Não há contradição. A tensão que se prolongou até as penalidades máximas transformou um jogo chato em pura eletricidade. Jamais esquecerei a descarga de adrenalina em cada uma das cobranças que terminaram em euforia quando Baggio isolou a sua cobrança.
Com a autoestima restaurada com o título de 94, o Brasil chegou na França em 98 como uma das favoritas, mas apresentou ao longo de toda a competição um futebol sofrível e a prova de tal afirmação é que a principal lembrança, até hoje motivo de discussões, foi a convulsão de Ronaldo Fenômeno momentos antes da final contra os donos da casa. A então tetracampeã do mundo foi presa fácil para Zidane e seus companheiros.
O Brasil sofreu para se classificar para a Copa do Japão e Coreia de 2002. Partiu para o distante oriente carregando a desconfiança dos brasileiros. Aos poucos a “Família Scolari” encaixou e a vitória, de virada, contra a Inglaterra sinalizou que o pentacampeonato era muito provável. O título conquistado sobre a Alemanha escancarou a bobagem de escolher o craque da Copa antes da final. O escolhido foi o goleiro alemão Oliver Kahn que “bateu roupa” em um dos gols de Ronaldo, a meu ver, o melhor jogador do torneio.
Uma constelação de craques formava a Seleção Brasileira de 2006. No entanto, ficou claro que nome e tradição não seriam suficientes para garantir o hexacampeonato. A melhor partida da Seleção Brasileira foi contra o Japão, quando Parreira resolveu poupar diversos titulares. Jogadores roliços, fora de forma e que me deram a sensação de descompromisso, fracassaram mais uma vez contra os franceses.
Na África do Sul, o neófito Dunga levou uma equipe esforçada, mas de qualidade técnica muito discutível. As grosserias do técnico com a imprensa e a dificuldade de acesso à Seleção foram bem mais marcantes que o futebol apresentado. A cena de Dunga olhando desalentado para o banco de reservas, sem saber o que fazer, após a Holanda virar o jogo era uma prova de um trabalho sofrível e de uma convocação equivocada.
Não gosto de falar de 2014, fica martelando em minha mente: Gol da Alemanha! Não vamos mais falar sobre o assunto. No caminho de 2018, a CBF, de forma equivocada, confiou inicialmente no fraco Dunga. Com a classificação em risco, Tite assumiu o comando e conseguiu levar, sem sustos, o Brasil para a Rússia. Eu torci para que a Seleção conseguisse retomar o protagonismo no futebol mundial. Mesmo sem empolgar e com o Neymar nos irritando com suas quedas “espetaculares”, o Brasil poderia ter derrotado a Bélgica e galgado uma classificação melhor. Restou um sabor amargo. Que venha o Catar!
Por maiores que sejam minhas divergências com os treinadores que comandaram a equipe brasileira, das insatisfações que tenho com alguns atletas, dos desgostos produzidos pelos dirigentes e das esperanças ou desesperanças que sinto em relação ao país, quando chega o Mundial eu me identifico com a pátria em chuteiras. Eu quero o Hexa!