*O texto a seguir é um artigo opinativo e, portanto, é de inteira responsabilidade de seu autor. As possíveis opiniões e/ou conclusões nele emitidas não estão relacionadas, necessariamente, ao ponto de vista do Distrito do Esporte.
Por Gabriel Caetano
No último dia 1º de julho, Paulo Henrique Costa, presidente do Banco de Brasília, viajou até a “Cidade Maravilhosa” para decretar de vez a falência moral do esporte no Distrito Federal. Ao lado de Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, selou oficialmente a parceria com o clube rubro-negro.
Entre inconsistências de arquivos e a desinformação do próprio BRB, o primeiro registrode investimento do banco no esporte local aconteceu em 1992, na primeira gestão de Joaquim Roriz, estampando a camisa do Taguatinga, campeão local naquele ano. Os valores? Ninguém sabe.
Voltou a patrocinar apenas seis anos depois, com Cristovam Buarque no Buriti. Em época que se patrocinava com chuteiras e bolas, a “grana” que o alviverde conseguiu foi revolucionária. Foi o pontapé inicial para a nacionalização tão almejada pelo banco.
O Gama disputava a fase final da segunda divisão do Campeonato Brasileiro e, por meio de Wagner Marques, então presidente de honra do clube e Weber Magalhães, presidente da Federação Metropolitana de Futebol (FMF, atual FFDF), o alviverde conseguiu junto ao BRB um patrocínio de R$ 50 mil, que aumentaria mais R$ 50 mil caso o Gama conquistasse o título – feito cumprido pelo alviverde, mas não pelo Governador. Ninguém nunca viu a cor desse dinheiro.
Éramos felizes e não sabíamos
No dia 21 de janeiro de 1999, já na gestão do Governador Joaquim Roriz, nasceu a ‘Secretaria de Esportes e Valorização da Juventude’ que, hoje, tem o nome de ‘Secretaria do Esporte e Lazer’. Na época, o primeiro secretário a comandar a pasta foi justamente Wagner Marques que, na prática, era o “dono dos negócios” no Gama, mesmo sem ser de fato o presidente.
No primeiro ano de atuação, a Secretaria de Esportes do DF passou a ser a principal financiadora do futebol candango. Foram destinados R$ 340 mil somente à Federação Metropolitana de Futebol – equivalente a R$ 1.817.164,37 corrigidos para valores atuais pelo IGP-M (FGV). Feito inédito na história do futebol local.
O dinheiro foi proposta do Presidente Executivo do Gama e Deputado Distrital, Agrício Braga, que, de acordo com o mesmo, visava dar condições para o futebol amador e melhorar a situação do estádio Mané Garrincha. Em 1999, o gramado do Mané Garrincha estava abandonado, totalmente esburacado.
Agrício foi também autor do projeto Bolsa Atleta – inicialmente rejeitado pelo Governo de Joaquim Roriz, por falta de recursos, mas posteriormente expandido nacionalmente e hoje é um importante fomentador do esporte brasileiro.
Com um orçamento de R$ 6 milhões, Wagner Marques repassou R$ 639.571,00 para 14 federações. Mais de 50% do valor total foi para o futebol, com um valor quase três vezes maior que o destinado ao segundo colocado na lista, o atletismo, que recebeu R$ 133 mil.
Em 2000, houve uma mudança no cargo de secretário: Wagner Marques trocou cadeiras com Agricio Braga, pegando a faixa de presidente do Gama e repassando a de Secretário de Esportes para Agricio.
O orçamento teve um pequeno aumento, passou a ser de R$ 7,7 milhões. O futebol contou com R$ 900 mil apenas para a recuperação de campos e mais R$ 600 mil fora do orçamento oficial, vindos da Secretaria de Fazenda e divididos da seguinte forma: R$ 50 mil para a Federação Metropolitana de Futebol; R$ 50 mil para escolinhas de futebol e R$ 500 mil a serem divididos entre os 10 clubes que disputavam o Candangão na época, recebendo cada um R$ 50 mil, equivalente a R$ 222.502,75, de acordo com correção monetária pelo IGP-M (FGV). Foi a primeira vez que os clubes receberam verba pública para disputar o torneio local.
Nem tudo era um mar de rosas. Nessa época, estava a pleno vapor no Congresso Nacional a ‘CPI da CBF-Nike’. Os secretários de esportes nesses dois primeiros anos de atuação, dirigentes alviverdes, foram acusados de favorecimento ao clube e investigados pela CPI. Agrício Braga chegou a ir sem ser convidado na Câmara dos Deputados, para oferecer seu sigilo fiscal – O deputado Pedro Celso (PT) havia feito um requerimento pedindo a quebra de sigilo fiscal de Agricio.
Eles não ligam pra gente
Ontem (1º/7), apenas pela segunda vez na história de sua conta no Instagram, o Banco de Brasília publicou sobre um parceiro no futebol. Isso porque não estou contando a vez em que publicaram fotos do Luziânia com nome de Capital e do Capital com nome de Luziânia e depois tiveram de apagar.
Contando com as postagens feitas no stories de sua conta oficial, foram 11 publicações sobre a parceria com o Flamengo só ontem, contendo vídeos do presidente do BRB exaltando seu novo parceiro, além da criação de páginas no Instagram, Facebook e Twitter apenas para fomentação da parceria, com o nome “NaçãoBRB”.
E os parceiros do futebol do DF? Nem acertam o nome…
Na única vez que citou seus parceiros no futebol candango, o BRB sequer colocou o nome certo do Minas/Icesp e precisou ser repreendido por seguidores, que lembraram ao banco: Vocês patrocinam o Unaí, o Paracatu não existe mais.
A data da primeira postagem é de maio de 2016, desde então o Banco de Brasília patrocinou o Gama na Copa do Brasil, quando o clube chegou à terceira fase contra o Santos e destina a quantia de R$ 6 mil por jogo à clubes do Candangão que atendem as exigências – muitos nem fazem o requerimento, alegando ser uma quantia ínfima.
Nenhum deles receberam uma menção sequer nas redes sociais oficiais do Banco de Brasília.
Fizemos por merecer (?)
Por que eu estou citando isso, parece até inveja, né? O “Mengaum” é bem visto e o futebol local nem sequer tem o nome citado por seus parceiros. Não tiro a culpa dos dirigentes locais por causa disso.
Apenas um clube, o Real Brasília, tem departamento de marketing e comunicação com uma equipe, em outros clubes (naqueles que tem um profissional para isso), um “peão” faz todo o trabalho de uma equipe. Não há como os clubes serem vistos com bons olhos e fidelizar o torcedor como consumidor, se não ligam para seu público e para sua marca.
Pobre imprensa candanga, ainda sofre porrada de todo lado, acusada de “não ajudar o futebol local” por mostrar a verdade. Vos apresentarei o conceito primário do Código de Ética de um jornalista: compromisso com a verdade.
Nessa semana, Marcos Paulo Lima, jornalista de esportes do Correio Braziliense, citou em matéria um fato que ilustra a irresponsabilidade e amadorismo do futebol local: apenas dois clubes que disputam a Série A do Candangão apresentaram prestação de contas do ano de 2019, uma exigência da Lei Pelé.
Desfrutemos das migalhas
Dito tudo isso, já está claro que não amenizo para nenhum lado. Voltemos a falar do BRB: Na semana do anúncio da parceria entre o banco e o Flamengo, torcedores da Ira Jovem Gama se movimentaram para fazer um protesto contra essa palhaçada. É claro que o BRB viu a proporção que ganhou, não à toa clamou por uma reunião para amenizar a situação – e assim cancelar a manifestação.
Reunião feita, fotos tiradas e uma promessa de R$ 8 milhões para o esporte local a ser definida em reunião amanhã, sexta-feira (3/7). Chama amenizada com sucesso. Agora é esperar um “belo arrego”.
Para um torcedor que nasceu nas arquibancadas, entrando em campo com os jogadores alviverde e vendo da arquibancada do Serejão os rubro-negros se remoendo de raiva porque o Gamão ‘jantou’ eles, o sonho maior é que as centenas de milhões sejam revertidas para o esporte local, seja ou não para meu Gama, seja ou não para o Candangão. Pensemos também em nossa cultura, nossa saúde, enfim, nosso bem-estar em geral.
A Lei Orgânica do Distrito Federal garante a fomentação prioritária ao esporte, cultura e lazer da população local, por entidades administrativas diretas ou indiretas, caso do Banco Regional de Brasília (BRB), além da Lei de Criação do próprio banco fazer referência a isso. Vamos valorizar isso.
Estou esperando e brigando para que eu possa voltar a ver essa imagem: rubro-negro puto vendo o Gama ganhar deles.
*JÁ ME ADIANTO AOS CRÍTICOS*
O BRB não é um mero banco privado, pois 97% das ações são de propriedade do Governo do Distrito Federal. Sendo o GDF uma entidade sem fins lucrativos, falar no lucro que a marca Flamengo traz é algo que fere o bem-estar da população local, aquela que paga impostos e gira a economia. Além de que, é claro, fere a ética do cargo quando o principal responsável por impulsionar esse patrocínio declarou publicamente sua vontade de ser presidente do rubro-negro, sendo o Governador do Distrito Federal.
Se você não vê problema nisso. Eu lamento.
*Gabriel Caetano é jornalista formado pelo Icesp. Pesquisador do futebol candango com foco na Sociedade Esportiva do Gama desde a adolescência, trabalhou como analista de comunicação e marketing do clube em 2019, tendo sido ainda diretor de marketing do Capital na reestruturação do clube, em 2018. Divide seu tempo entre curiosidades no Histórias do Gamão e a agência na qual é sócio, a RC Marketing Esportivo.
Nas eleições daremos o troco!!!
Ira Jovem Gama é a torcida organizada mais atuante do futebol candango. Tá de parabéns.