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terça-feira, 23 de abril de 2024

Coluna do Gabruga #6 – Há 20 anos, Gama triunfava sobre CBF, FIFA e Clube dos 13

Em sua sexta edição, Gabruga detalha o grande imbróglio do Gama com as entidades que regiam o futebol no início dos anos 2000

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*O texto a seguir é um artigo opinativo e, portanto, é de inteira responsabilidade de seu autor. As possíveis opiniões e/ou conclusões nele emitidas não estão relacionadas, necessariamente, ao ponto de vista do Distrito do Esporte.

Por Gabriel Caetano*

Tarde ensolarada em Belo Horizonte, Minas Gerais. Gama e América-MG entram em campo no estádio Independência, pela primeira rodada da Copa João Havelange, no dia 30 de julho de 2000. Aos 17 minutos do primeiro tempo, cobrança de escanteio a favor do Gama, Romualdo aproveitou e, sozinho, escorou para o fundo das redes, marcando o único gol da partida.

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O atacante alviverde corre com as mãos para cima, agradecendo a Deus pelo gol, seguido de seus companheiros. Eis a vitória. Muito maior que o simples 1 a 0 fora de casa em uma partida morna com público baixo na estreia de um Campeonato Brasileiro.

Há menos de um ano da vitória, o Gama era “apenas mais uma zebra” que achou um lugar na elite do futebol brasileiro e, provavelmente, estaria de volta às divisões inferiores em pouco tempo. Naquele confronto diante do América-MG, o simples Gama era o guerreiro que alcançou a justiça, após enfrentar os mais temidos “monstros”.

Duelando com gigantes

Foram muitos que ousaram tirar o Gama da posição de direito a qual o clube candango havia conquistado dentro de campo. Os primeiros foram os poderosos Botafogo e Internacional, buscando pontos que não lhe eram justos.

No dia 18 de outubro de 1999, se desenhava uma das maiores polêmicas do futebol brasileiro. A Comissão Disciplinar do Tribunal de Justiça Desportiva decidiu tirar do São Paulo os três pontos conquistados na vitória sobre o Botafogo e repassou para o alvinegro carioca.

O Tocantinópolis-TO, primeiro clube de Hiroshi, alegava ser o dono do passe do atleta, transferido ao Rio Branco-SP e, posteriormente, vendido ao São Paulo. O Botafogo então requereu os pontos, apresentando um documento de 13 de julho de 1999, em papel timbrado da CBF, no qual constava a ficha do jogador, bloqueada por conta de pendência jurídica entre o Tocantinópolis-TO e o São Paulo.

O recurso pedido pelo Botafogo era considerado irregular por conta de um motivo: era uma resolução interna da CBF, contrariando irregularmente uma portaria ministerial, o Código Brasileiro Disciplinar de Futebol.

“O que se viu foi um dos dias mais tristes do Direito brasileiro”

José Carlos Ferreira Alves, advogado do São Paulo em 1999, sobre o julgamento de Sandro Hiroshi

Daí em diante, os inimigos só foram aumentando. Eurico Miranda e o Clube dos Treze – grupo dos vinte clubes que se auto intitulavam os maiores do Brasil –, não queriam o “simples clube candango” na elite do campeonato nacional, tentando jogar para debaixo do tapete a incompetência dos chamados “grandes”.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e até mesmo a FIFA tentaram punir o Gama por simplesmente cobrar o que lhe era de direito: um lugar na primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Fizeram de tudo, tentaram mudar a regra novamente, até mesmo o nome da competição. No final, a justiça federal não foi burlada, a Constituição respeitada, e foi ela quem esteve ao lado do Gama durante todo tempo.

O “simples” Gama fez muita gente engolir as palavras perante o direito conquistado em campo e, no final, Romualdo e companhia, com as mãos para o céu, agradeceram a Deus pela justiça que lhes foi feita.

Mentiras contadas nessa história

1 – O Gama entrou na Justiça Comum

Essa é uma das principais mentiras contadas, resultando em outras. O Gama entrou com duas ações no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) para revogar os pontos ganhos irregularmente pelo Botafogo, em julgamento no mesmo STJD. Os recursos do Gama não foram julgados no tempo regulamentar. No dia 12 de novembro de 1999, um dia após o final da primeira fase do Campeonato Brasileiro, o Partido da Frente Liberal (PFL) no Distrito Federal e o Sindicato dos Treinadores Profissionais de Futebol entraram com uma ação no Tribunal Regional Federal, em Brasília, contra a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e STJD, alegando violação aos direitos dos consumidores – no caso, os torcedores/consumidores -.

2 – A CBF foi impedida de realizar o Campeonato Brasileiro e passou para o Clube dos 13

A grande verdade é outra. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não aceitava a liminar expedida pela Justiça Federal garantindo o Gama na primeira divisão do Campeonato Brasileiro de 2000. De todas as formas a entidade tentou derrubar a liminar, foram várias tentativas, recursos não acatados e, quando viu que não conseguiria ganhar na justiça, jogou a toalha e passou a incumbência da realização do Campeonato Brasileiro para o Clube dos 13.

A ideia com a transferência de responsabilidade era a liga independente do Clube dos 13 driblar a justiça e o alviverde ficar fora do Campeonato Brasileiro – o que acabou não acontecendo.

De fato, a CBF chegou a ser ameaçada pela FIFA por conta das adulterações de documento do jogador Sandro Hiroshi, que disputou o Sul-Americano Sub-17 pela Seleção Brasileira e por ações ajuizadas na Justiça Comum, mas nada de concreto foi realmente definido. A FIFA chegou a declarar oficialmente: Seleção Brasileira e a CBF não seriam punidas. Em contrapartida, deveria aplicar uma punição a Sandro Hiroshi – o que aconteceu.

3 – A adulteração de documentos de Sandro Hiroshi gerou o início da confusão

O jovem atacante do São Paulo, Sandro Hiroshi, passou pelo pior momento de sua carreira quando descobriram a adulteração de seus documentos – o famoso gato -, mas engana-se quem pensa ser esse o motivo de todo o imbróglio judicial que levou Botafogo, Internacional e São Paulo aos tribunais e, posteriormente, desencadeou a guerra entre Gama e CBF.

Em 1999, Sandro Hiroshi atuou pelo Rio Branco (SP), no Campeonato Paulista, se destacando e sendo contratado pelo São Paulo. O Tocantinópolis (TO), clube anterior de Hiroshi, alegou uma irregularidade na transferência do jogador, exigindo uma parte na transferência, gerando o bloqueio de seu passe e, com isso, Hiroshi não poderia ter atuado diante de Botafogo e Internacional.

*Gabriel Caetano é jornalista formado pelo Icesp. Pesquisador do futebol candango com foco na Sociedade Esportiva do Gama desde a adolescência, trabalhou como analista de comunicação e marketing do clube em 2019, tendo sido ainda diretor de marketing do Capital na reestruturação do clube, em 2018. Divide seu tempo entre curiosidades no Histórias do Gamão e a agência na qual é sócio, a RC Marketing Esportivo.

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